terça-feira, 7 de janeiro de 2025

O PAPALAGUI (Atmosfera Literária)


 

E hoje vamos falar sobre O PAPALAGUI, uma obra tocante e inesquecível. Tuiávii, chefe da tribo Tiavéa, na Polinésia, tinha muita curiosidade em conhecer as terras do “Papalagui”, palavra que em Samoa designa o Branco, o Estrangeiro. E foi assim que integrou um grupo teatral popular e acabou visitando muitas cidades na Europa, e conhecendo profundamente os hábitos, costumes e valores do Papalagui. De volta à sua terra, redigiu uma série de apontamentos com o que aprendeu, com o propósito de partir em uma expedição missionária, a fim de alertar seu povo sobre os perigos de abraçar a cultura do homem branco. O alemão Erich Scheurmann, que na época visitava as ilhas dos mares do sul, tornou-se amigo de Tuiávii e traduziu seus escritos, tornando o texto acessível aos ocidentais.

 

Esta é a versão oficial. Há quem diga que o texto todo foi inventado pelo próprio Scheurmann. Eu, pessoalmente, tendo a dar crédito a essa possibilidade. Pois os textos desse pequeno grande livro revelam um conhecimento tão profundo da sociedade e da psicologia ocidental, que sugerem uma sabedoria e uma percepção verdadeiramente sobre-humanas. Por outro lado, caso seja Scheurmann o autor, o valor do texto não é diminuído, muito pelo contrário: há aqui a inegável marca de uma grande obra de arte!

Seja como for, esse é um livro que merece ser lido com o espírito aberto e profunda atenção. A civilização tecnológica errou feio o caminho, em algum ponto de sua trajetória. Talvez ainda dê tempo de consertar isso. E o grande valor de “O Papalagui” está em apontar algumas das causas mais evidentes para esse mau passo do mundo moderno, que tornou os homens cegos para o Grande Espírito. Essa é, em minha opinião, a origem de todo o erro.

 

Seguem alguns trechos do livro:

"Os Brancos corromperam os missionários para que eles nos enganassem com as palavras do Grande Espírito. Pois o metal redondo e o papel pesado, que eles chamam dinheiro, é que são a verdadeira divindade dos Brancos."

"Mostra que é muito pobre aquele que precisa de coisas em quantidade porque, assim, prova que lhe faltam as coisas do Grande Espírito." 

 

"Ó irmãos, que é que pensais do homem cuja cabana é tão grande que dá para uma aldeia inteira e que não oferece ao viajante o seu teto por uma noite? Que é que pensais do homem que tem um cacho de bananas nas mãos e não dá uma só fruta a quem, faminto, ávido, lhe pede? Vejo a zanga nos vossos olhos, o maior desprezo nos vossos lábios. E vede que é isso que o Papalagui faz a todo momento. E mesmo que tenha cem esteiras nenhuma dá ao que nenhuma tem. Pelo contrário, acusa-o e censura-o por não ter. Pode estar com a cabana cheia de mantimentos até o alto, muito mais do que ele e sua aiga comem em 100 anos. Não sairá à procura dos que não têm o que comer, dos que estão pálidos de fome. E há muitos Papalaguis pálidos de fome. A palmeira deixa cair as folhas e frutos que estão maduros. Mas o Papalagui vive como se a palmeira quisesse retê-los. ‘São meus! Não os tereis! Jamais deles comereis!’ Mas como faria então a palmeira para dar novos frutos? A palmeira é muito mais sábia do que o Papalagui."

 

“Atmosfera Literária com Fabio Shiva” fez parte do programa ATMOSFERA 102, apresentado aos sábados na Rádio 102.7 FM (Além Paraíba – MG). Apresentação: Fernando Bamboo. Técnico de Som: Venilton Ribeiro. Apoio: NATESHA EDITORA.

 

 

YouTube:

https://youtu.be/BIbdibdzZVk

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