Sempre considerei Plínio Marcos uma espécie de “herdeiro
intelectual” de Nelson Rodrigues, por isso quis aproveitar a oportunidade de
lê-lo na sequência de Nelson. Assim pude perceber mais as óbvias semelhanças
entre os dois, e também notáveis diferenças.
Assim como Augusto dos Anjos, outro célebre “maldito” e
também muito caro a meu coração, Plínio e Nelson são poetas do sombrio, do
grotesco, do escatológico. Os dois são movidos pelo apelo estético da feiúra,
da tristeza, da maldade. Não pelo amor à feiúra em si: o que os move é a
angústia de denunciar o feio no mundo.
Os dois são, principalmente, moralistas! Denunciam o feio
porque não o suportam, e com seu grande talento são capazes de transmitir essa
angústia em suas peças.
E aí nasce a principal diferença entre os dois. Nelson
Rodrigues é principalmente o crítico dos costumes. Plínio Marcos é acima de
tudo o reformador social.
Nelson puxa sua plateia pelos cabelos e grita: vejam como o
pecado é feio e gosmento!
Plínio chuta a plateia no estômago e brada: vejam como a
miséria e feia e abjeta!
Outra diferença forte é que Plínio é absolutamente
asfixiante. Não há brechas em suas trevas. Em Nelson, ao menos, encontramos o
alívio da tensão em seus momentos de ironia e deboche.
“O Abajur Lilás” é uma peça com cinco personagens: Dilma,
Célia e Leninha, prostitutas da boca do lixo, Giro, seu cafetão homossexual e
Osvaldo, o segurança brocha e sádico. O título da peça é esse porque no mundo
sórdido e cruel descrito pelo autor, um reles objeto de terceira categoria tem
mais valor que a vida humana.
Triste, porém verdade.
A edição que li é de 1979 (a peça foi escrita em 1975), e na
época “O Abajur Lilás” estava proibido de ser encenado pela censura.
Curiosamente, liberaram o texto impresso. Vá entender a infinita burrice da
censura!
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