Foi
mesmo uma sincronicidade que nessa fase em que tenho relido alguns livros
especiais fosse justamente Descartes o próximo da fila na Coleção Os
Pensadores. Já havia lido a introdução e o “Discurso do Método” para a
faculdade, e gostei tanto que li por conta própria as “Meditações”, leituras
que acabaram na letra de uma música heavy metal.
Pois
bem. Comecei a ler pela segunda vez, desde o princípio. Jamais esperava o
impacto das revelações que recebi. Tive que parar a leitura no início do
“Discurso”, assim que terminei a longa introdução (59 páginas). Precisava parar
para absorver aquilo tudo. Agora posso falar sobre o assunto.
Pois
então. Na introdução, é claro que Descarte é louvado como um grande filósofo,
imortal autor da célebre frase: “Penso, logo existo.” Mas há também, aqui e
ali, a acusação mais ou menos velada a uma falha fundamental no sistema
filosófico de Descartes, e até de uma covardia intelectual.
Essa
mesma conversa eu escutei na sala de aula. Galileu disse uma coisa que a Igreja
não gostou, e foi obrigado a abjurar, a renegar seu próprio trabalho
científico. Então Descartes ficou com medo e recuou em suas teorias.
Eu
escutei isso na faculdade, e li no livro, então acreditei! Hoje percebo que
essa é uma leitura totalmente não-filosófica de Descartes!!!
o covarde e o herói
O xis
da questão é o seguinte: Descartes é um dos nobres pais da ciência. Ao formular
em seu “Discurso” as regras do método científico, influenciou definitivamente o
modo de se entender e fazer ciência, tanto que vem de seu nome a palavra
“cartesiano”.
O
grande embaraço, para os ferrenhos seguidores do cartesianismo tal como ficou
conhecido, é que a filosofia de Descartes apóia-se em Deus! Após sua belíssima
odisséia até chegar ao “cogito”, abraçando totalmente a dúvida até que a
própria dúvida torne-se a certeza de um ser que duvida, Descartes ancora a
existência do ser pensante à necessária existência de Deus. Essa é a filosofia
cartesiana, purinha.
Descartes
não foi um covarde (ou pode até ter sido, é algo totalmente irrelevante do
ponto de vista de sua filosofia). Eu acreditei nisso porque acreditei em
pessoas que acreditam que o materialismo científico é a conclusão inevitável de
toda ciência possível, então se Descartes não chegou a essa conclusão, logo ele
que foi o pai (padrasto) dessa zorra toda, então para essas pessoas Descartes
foi um covarde.
No
entender dessas pessoas, corajoso foi Laplace, matemático que veio logo depois
de Descartes. Questionado pelo rei por não ter mencionado Deus em parte alguma
de seu tratado, ele respondeu que Deus não era necessário em suas equações.
a dúvida e a certeza
Sabem
qual é o problema de uma ciência sem Deus? Quando um deus é derrubado, logo
outro toma seu lugar. O deus que a ciência segue hoje atende pelo nome de
Progresso. Em nome do progresso, todos os avanços da ciência são justificados.
E é assim que temos xampu que não arde no olho da criança, graças à tortura e
morte de incontáveis seres sencientes, tão capazes de sentir dor quanto os
seres humanos. É assim que temos Progresso para todos os lados, a custo da
poluição e extinção da vida no planeta.
O Deus
que está faltando na ciência não virá de nenhum dogma religioso, de nenhuma
seita ou igreja estabelecida. Isso também pode ser jogado fora junto com a
velha ciência. O Deus que está faltando é o mero pressuposto: existe Deus. Só
isso basta.
Sabendo
que Deus existe, nenhum cientista que se preze vai torturar coelhinhos para
fazer xampu!!!
Parece
brincadeira, mas a coisa é profunda, estremece até os alicerces.
Descartes
foi lá, viu, e contou. É só olhar e ver.
***
vista o manto sagrado ao ler um livro assim
Donde a
importante conclusão: só se pode ler filosofia sendo filósofo.
Nunca
leia um livro de filosofia de boca aberta: os pensamentos de outra pessoa podem
se tornar os seus, sem que você sequer perceba.
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LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
Fabinho!
ResponderExcluirSabe o que mais gosto em você? É esse ecletismo na leitura e a transmissão dos sentimentos ao ler um livro. Fabuloso!!
cheirinhos
Rudy