Assisti
essa peça pela primeira vez aos 16 anos, em uma montagem universitária no
Teatro da UERJ. Foi meu primeiro contato real com o teatro. Que experiência mágica!
Gostei tanto que voltei duas vezes mais, e arrastei todos os amigos que pude
para assistir.
Abelardo
I é o Rei da Vela, que ganha um tostão com a morte de cada brasileiro. Pois
nenhum homem é tão miserável que não mereça ao menos um toco de vela entre os
dedos mortos na hora da última partida. Para o Rei da Vela, só essa fortuna é
pouco, por isso ele empresta a juros altíssimos para uma multidão de
desesperados que é tratada na base do chicote por Abelardo II, assecla de
Abelardo I.
Mas no
fundo o Rei da Vela não passa de um cupincha do Americano Mr. Jones, que tem
inclusive “direito de pernada” com a noiva Heloísa de Lesbos. A família de
Heloísa é de origem nobre e falida, daí o casamento por interesse de ambas as
partes.
É uma
família e tanto, a de Heloísa. O pai, Coronel Belarmino, acredita firmemente
que o banco hipotecário é a solução para o Brasil. A mãe, Dona Cesarina, cada
vez resiste menos ao assédio descarado de seu futuro genro. Um dos irmãos de
Heloísa chama-se Totó Fruta-do-Conde, e sua frase predileta é: “Sou uma
fracassada!” O outro irmão, Perdigoto, é um facista encubado. E há também uma
irmã, Joana, mais conhecida como João dos Divãs, e uma avó, Dona Poloquinha
(não confundir com Polaquinha, que na época era sinônimo de prostituta).
Fora
isso, seguindo a tradição de irreverência metalinguística de Oswald, há uma
pequena porém marcante participação do Ponto, que era a pessoa que ficava
escondida soprando as falas para os atores. Esse Oswald!!! Acho que foi em
“Serafim Ponte Grande” que ele expulsou um personagem do livro por ter soltado
um pum.
Isso
tudo que eu escrevi é pouco mais que a enumeração dos personagens principais.
Para saber o que é “O Rei da Vela”, só mesmo vendo a peça, lendo o livro.
“Espinafração”
pura, explícita, ainda afiada mesmo depois de tanto tempo. Achei triste ainda
achar engraçadas essas cenas escritas há mais de oitenta anos. Pois isso é
sinal de que os tristes costumes que a peça castiga fazendo rir continuam
existindo em nossos dias.
Uma
curiosa revelação tive com essa leitura: creio que Nelson Rodrigues leu “O Rei
da Vela”, bem antes de sua antológica estreia em 1967 (que acabou sendo um
fator determinante na gestação do Tropicalismo). Afinal, a peça foi escrita em
1933 e publicada em 1937. Creio que Nelson, ao ler “O Rei da Vela”, soltou um
ou dois grunhidos de satisfação.
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Aproveito para convidar você a conhecer o livro O SINCRONICÍDIO:
Booktrailler:
http://youtu.be/Umq25bFP1HI
Blog:
http://sincronicidio.blogspot.com/
LEIA AGORA (porque não existe outro momento):
Deve ser interessante! Não li ainda.
ResponderExcluircheirinhos
Rudy