domingo, 23 de julho de 2017

O FUTURO COMEÇOU (THE EARLY ASIMOV Book One) – Isaac Asimov



Por volta de 2005 fui presenteado pela querida amiga Leila de Souza Mendes com uma majestosa coleção de pockets de Agatha Christie e Isaac Asimov, que devorei com infinita alegria e gratidão. Esse “Early Asimov”, coletânea dos primeiros contos escritos por Isaac, um dos primeiros que li, foi uma leitura muito marcante. Pois cada conto é acompanhado por um relato do próprio Asimov sobre as circunstâncias em que foi escrito e todo o processo para que cada história fosse vendida para uma das muitas revistas de ficção científica que circulavam nos Estados Unidos durante as décadas de 1930 e 1940.

Esses relatos são simplesmente deliciosos, não raro bem mais interessantes que as histórias em si, que afinal são os primeiros esforços de um jovem de pouco mais de 18 anos, que ainda escreveria obras muito mais marcantes e que acabaram consagrando-o como um dos principais nomes da ficção científica no século XX. Asimov tem um jeito muito cândido e cativante de falar sobre seu processo literário, encarando com muito bom humor a própria vaidade e outras vicissitudes dos escritores. Para o leitor, é um deleite adentrar “por trás dos bastidores” e conhecer um pouco sobre as motivações e desafios do escritor, sobre técnicas de escrita e mercado editorial. Para o aspirante a escritor que eu era ao ler esse livro pela primeira vez, então, é um aprendizado muito rico e inspirador!


E a segunda leitura, feita mais de dez anos depois, trouxe novos aprendizados e descobertas. Por sincronicidade, durante a leitura me deparei com um interessante artigo (https://www.1843magazine.com/culture/the-daily/if-you-think-scifi-is-about-the-future-think-again), que afirma que a ficção científica pode estar mais interessada no passado e na nostalgia que propriamente no futuro. E nostalgia é bem a palavra-chave para definir o prazer de ler esses primeiros escritos de Asimov hoje.

É muito interessante ler textos sobre o futuro escritos há tantos anos. Primeiro, pelo tanto que o autor foi capaz de vislumbrar. No caso de Asimov, não foi pouco: ele foi o primeiro a utilizar a palavra “robótica” (embora ainda não nesses primeiros contos) e não é exagero afirmar que a ciência robótica deve muito ao seu gênio imaginativo. Entretanto, ao menos em minha opinião, não é menos instrutivo e divertido observar, beneficiado pelo ponto de vista do futuro, o quanto um autor de ficção científica ainda fica condicionado às tecnologias e costumes de sua época. Isso vale como um precioso lembrete do quanto temos de condicionamento dos valores e crenças de nosso tempo, que muitas vezes tomamos como eternos, quando não passam de modismos que mudam daqui para ali.

E esses primeiros e imaturos escritos de Asimov são muito férteis nesses deliciosos anacronismos. Muitos são de ordem estritamente tecnológica, como dois astronautas às voltas com um manual mimeografado em uma nave espacial, ou um marciano (e terráqueos do futuro) que datilografa seus escritos em uma máquina de escrever. Mas os mais interessantes, para mim, são o de ordem social, como vermos um eminente psicólogo galáctico que tem por esposa uma típica Amélia dona de casa, cuja ocupação principal é preparar o jantar do maridão...

Por falar em psicologia, nessa segunda leitura achei muito tocante o desconhecimento de Asimov a respeito, que o levou a considerar a psicologia como uma ciência exata, colocando o psicólogo no papel de um super-homem, com o poder de prever e influenciar o comportamento dos outros a partir de fórmulas matemáticas. Um conceito ingênuo, certamente, mas que acabou culminando na formulação da interessantíssima “Psico-história”, ciência inventada por Asimov que seria capaz de prever com exatidão o futuro, desde que aplicada a grandes quantidades de seres humanos.

Esse conceito da Psico-história, bem como outras ideias geniais de Asimov, acabaram sendo alvo de um tributo de minha parte, em meu primeiro romance, “O Sincronicídio”, que comecei a escrever pouco tempo depois de ler “Early Asimov” pela primeira vez. Não à toa, o mote que motivou a trama do livro foi: “As bodas alquímicas de Isaac Asimov e Agatha Christie, com as bênçãos do padre Hermann Hesse”.

Como acabei de reler um da Agatha antes desse do Isaac, é certo que está na hora de reler algum do querido Hermann...

  

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ESCRITORES PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever para quê? 
Doze escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual, recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058

 

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