Ao
ler esse divertido “folhetim eletrônico”, fiquei com a impressão de que o gaúcho
David Coimbra é uma espécie de cruza literária entre Rubem Fonseca e Marcos
Rey: uma narrativa policial ágil, entremeada por tiradas filosóficas sobre as
mulheres e temperada com fartas doses de malandragem urbana, além de um toque
de bom humor. O resultado é bem interessante e deixa o leitor grudadinho na
leitura e satisfeito do início ao fim.
Um
senão encontrado na leitura, e que me fez refletir (pelo que sou muito grato),
é que a história reflete o ponto de vista do protagonista, tipicamente um “homem
branco heterossexual” (título de um artigo do autor recentemente publicado no
Zero Hora). Daí a trama estar recheada por considerações bem humoradas sobre as
mulheres, o que a princípio não me chamou a atenção. Só que então chegamos à
cena de uma partida de futebol, onde há várias menções a um “negrinho” ou “neguinho”
sem nome, que desperta a antipatia (e o racismo?) do protagonista por ser muito
superior no jogo de bola. Essa passagem me incomodou. E daí a reflexão, que
acabou sendo proveitosa para meus próprios escritos.
Vivemos
em uma época muito interessante, sob todos os aspectos, em que estamos mudando
radicalmente de paradigmas, em todos os níveis. E essa mudança vem acontecendo
muito rápido. Às vezes parece que não, mas é só porque não nos damos conta do
tamanho da mudança. Pois então, creio que em 2007, esse trecho do livro talvez
não chamasse tanto a atenção. Mas creio que hoje, meros dez anos depois, já mudou
muita coisa na consciência coletiva.
Mesmo
considerando que o texto retrata o ponto de vista do personagem, até que ponto
é lícito e desejável retratar uma situação de racismo (ou sexismo) como se
fosse algo normal? Talvez seja exagero questionar isso. Penso que não.
\\\***///
A MARCA – Fabio Shiva
Um
intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga
dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de
Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados
para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos
“Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora).
E agora está disponível aqui. Boa leitura!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5825862
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