Esse
livro me fez parar de beber Coca-Cola.
Michael
Crichton é um autor de extremo êxito comercial, com mais de 200 milhões de
livros vendidos em todo o mundo e inúmeras adaptações de suas obras para o
cinema, como “Jurassic Park” e sequências, além de “Westworld”, “Congo” e o próprio
“Linha do Tempo”, entre outros.
A
trama de “Linha do Tempo” é bem instigante e original, misturando ficção
científica, thriller e romance histórico. Em resumo: uma equipe de
historiadores é enviada de volta no tempo até a Idade Média, graças a uma
secreta tecnologia criada por uma megacorporação a partir da Mecânica Quântica.
Chegando lá, os heróis vivem inúmeras aventuras, enquanto, no tempo presente,
os cientistas da corporação se esforçam para trazer a turma de volta.
E
o que é que a Coca-Cola tem a ver com isso? Isso é o que pergunto eu! Pois não
é que lá pela página 300 e tanto (o livro é um tijolo) eu me deparo com um
descarado e inegável merchandising
dos refrigerantes da Coca-Cola!?!
A
cena acontece assim: dois dos cientistas que estão tentando trazer a equipe de
volta para o presente fazem uma pausa em seus incansáveis esforços. Vão até uma
máquina de refrigerantes e escolhem entre os sabores de Coca-Cola, Sprite e
Fanta (todos produtos da mesma corporação, sendo que, para quem não sabe, a
Fanta foi criada durante a Segunda Guerra especificamente para os nazistas). E
então um dos cientistas diz para o outro algo como: “Como estamos no deserto, é
muito importante hidratar bem o organismo.” E os dois bebem gutiguti suas latas
de líquido delicioso e refrescante. Só faltou a musiquinha empolgante e a
mãozinha na cintura ao pôr-do-sol.
Para
não deixar absolutamente nenhuma dúvida de que se tratava mesmo de uma cena de merchandising, umas dez páginas depois a
Coca-Cola aparece de novo, em uma indecorosa associação com poder e êxito
financeiro.
Se
eu fosse expressar o tamanho de minha indignação, escreveria um livro mais
grosso que “Linha do Tempo”. Fiquei sobretudo pê da vida comigo mesmo, por
minha ingenuidade em considerar a Literatura um território sagrado, livre de
tais profanações. Mas vou tentar explicar ao menos, sucintamente, porque acho que
Michael Crichton merece o mármore do inferno.
“Linha
do Tempo” é um thriller científico, embasado por muitos estudos sérios sobre
Mecânica Quântica e outros tantos sobre História Medieval, a ponto de exibir
uma orgulhosa bibliografia de várias páginas de obras científicas. E, ao mesmo
tempo, a obra é voltada para o público jovem e adolescente, consumidor de
aventuras no estilo “Parque dos Dinossauros”. Então considere: você lê algo
sobre Mecânica Quântica que nitidamente está embasado em pesquisa, depois lê
descrições da Europa medieval que também são claramente apoiadas por pesquisa
histórica. Então você confere CREDIBILIDADE à narrativa. E logo em seguida, ao
ler que a Coca-Cola é boa para hidratar o organismo, a tendência é que aceite
isso como um fato! Principalmente se for um adolescente inseguro sobre seu
papel na sociedade e ansioso por aceitação!
Isso
a despeito do fato de ser público e notório (exceto para os que usam a Internet
apenas para jogos e pornografia) que a Coca-Cola possui tanto açúcar que faria
a pessoa vomitar no primeiro gole, caso esse açúcar não fosse contrabalançado
por uma quantidade estúpida de sal. E que para cada copo de refrigerante
precisaríamos beber TRINTA E DOIS copos de água meramente para minimizar os
danos causados ao organismo!
Fiquei
me sentindo tão mal com essa leitura que precisei encontrar algo de positivo
nela, que acabou sendo a resolução de NUNCA MAIS beber um maldito refrigerante
em minha presente encarnação. Michael Crichton, você merece o meu desprezo, por
me mostrar que o dinheiro está mesmo acima de tudo para certas pessoas, mas
também a minha gratidão, por demonstrar que em todas as situações podemos tirar
algo de positivo!
\\\***///
ESCRITORES PERGUNTAM,
ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível
no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
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