Ao
ler esse excelente livro, uma frase que ouvi em algum lugar ficou martelando na
minha cabeça: “Seja o que for que você
faça, tem sempre um japonês se esforçando para fazer melhor, menor e mais
rápido!”
Essa
frase jocosa, que expressa muito do espírito japonês do “Ganbatte” (algo como “faça o seu melhor”), também tem muito a ver
com a vida e a obra do incrível sensei Haruki Murakami.
Primeiro,
ele decide abrir um bar de jazz em Tóquio, mesmo sem ter tido nenhuma
experiência com o comércio. O bar se torna um sucesso, então Murakami decide vendê-lo,
para se dedicar à sua nova carreira: escritor profissional. Isso porque ele
escreveu um romance para participar de um concurso literário, enviou os
originais de sua primeira obra (sem tirar cópias!) para o concurso, foi
premiado, publicado, virou um autor de sucesso, escreveu várias outras obras
traduzidas no mundo inteiro. Enquanto isso, nas horas vagas, Murakami se dedica
a participar de maratonas e competições de triatlo ao redor do globo e até
mesmo, certa vez, de uma ultramaratona, onde correu durante nada menos que 100
quilômetros!
Certamente
não se alcança o que Murakami alcançou sem muito esforço, sem muito “Ganbatte”. Assimilar um pouco mais isso
foi o primeiro grande ganho que tive ao ler esse livro.
Pois
Murakami fala sobre escrever (mas não somente) quando fala de corrida. E sobre
o esforço necessário, e sobre o condicionamento físico (!) que se precisa ter
para ser um escritor. Levei uns bons puxões de orelha durante a leitura, pois o
autor, ao colocar para si mesmo questões cruciais no ato da escrita, acaba
devassando e desfazendo qualquer tentativa indulgente de autojustificativa para
procrastinar e não escrever, prática muito comum dentre escritores que não
aprimoraram sua força de vontade correndo dezenas de quilômetros diariamente.
Felizmente para mim, recebi com humildade a sóbria e rígida lição do sensei. E
aprendi um pouco mais, graças a Deus! Coloquei em prática alguns dos
ensinamentos obtidos no livro, e digo com muita gratidão que nunca me senti
escrevendo tão bem!
Não
que esse livro seja algum tipo de manual sobre como escrever. As lições são
mais de ordem existencial, sutil, e não algum tipo de guia passo-a-passo.
Felizmente, fui agraciado por uma experiência que há quase um ano vem
transformando muito positivamente minha vida: a Capoeira, que vem me ensinando
como ser uma pessoa melhor e, por que não, um escritor melhor. Sinto que essa
vivência com a Capoeira me possibilitou acessar muitos conteúdos “ocultos” no
livro, que de outra forma teriam passado despercebidos.
Já
havia lido e ouvido falar muito bem de Murakami antes de ler esse livro, que me
foi lindamente presenteado por minha querida amiga e editora Bia Machado, a
quem expresso, mais uma vez, minha imensa e crescente gratidão.
Outro
grande ganho que tive ao ler esse livro surgiu só agora, na hora de escrever a
resenha. Pois percebi que Murakami é tão bom escritor por ser tão japonês! Mas
isso não significa que, para me tornar um bom escritor, eu precise virar
japonês! Muito pelo contrário, meu caminho reside em me tornar, cada vez mais,
um bom baiano. Que assim seja!
\\\***///
ESCRITORES PERGUNTAM,
ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível
no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
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