Livro
publicado no Brasil em 1978, pela antiga “coleção horas em suspense” da Editora
Francisco Alves. No prefácio, o expert e organizador da coleção, Paulo de
Medeiros e Albuquerque, nos informa que o grande interesse da obra é se passar
na Holanda e ter sido escrita por um holandês que antes de virar escritor
integrou a força policial holandesa. Eu particularmente gostei mais das
reflexões do autor sobre o sentido da vida, que ele coloca na boca de um e
outro personagem enquanto acontece a investigação de um estranho assassinato.
A
década de 1970 viveu um certo boom da ficção policial, dando margem a um livro
desse tipo, em que a trama toda gira praticamente em torno de descobrir como o
assassinato foi cometido. Ou seja, em identificar a arma do crime. A solução,
apesar de engenhosa, não deixa de ser decepcionante, depois do leitor passar o
livro inteiro dando tratos à bola para imaginar as armas mais mirabolantes.
Mas
a grande distinção que esse livro tem, ao meu ver, é a de apresentar a
revelação do assassino mais fuleira que eu já encontrei em um romance policial.
E olhe que já li um bocado! Naturalmente, um livro que eu só recomendo para
estudantes da ficção policial (como eu mesmo). Pois mesmo um livro ruim pode
oferecer uma boa leitura para quem procura aprendizado.
Que
neste caso ficou por conta do texto de apresentação da “coleção horas em
suspense” constante na orelha do livro:
“Lançamos
esta coleção motivados pela constatação de que os livros de detecção policial
escasseiam cada vez mais, esmagados pela produção maciça de obras em que
prevalece a violência gratuita.”
O
texto continua, louvando o livro policial “inteligente” e o prazer intelectual
de desvendar o assassino. Fórmula que constitui o clássico “whodunit” (que
significa mais ou menos “quem é o culpado?”), em contraste com o já igualmente
clássico “noir” (“romance negro”), que é marcado mais pela troca de bofetões e
tiros que pelas baforadas no cachimbo e pelo uso das pequenas células
cinzentas.
Mas,
convenhamos, romance policial é sempre marcado pela violência. Não existe
romance policial sem assassinato ou outro tipo de crime violento (sequestro,
assalto etc.). Mesmo as obras da grande rainha do romance de detecção, Agatha
Christie, são marcadas por atos de violência extremamente cruéis e até
apavorantes em sua frieza, se pararmos para considerar.
No
caso do livro em questão, essas palavras da editora acabam sendo extremamente
irônicas, mesmo sem intenção. Pois é muito bizarro um livro que traz uma morte
por esmagamento craniano e outra por decapitação ser apresentado como uma alternativa
intelectual para a violência excessiva!
Tudo
bem que o livro é antigo e esgotado, e a série obsoleta. Mas a pergunta que me
fiz ao lê-lo talvez não seja: existe lugar para esse tipo de literatura no
século XXI? O terceiro milênio suportará ainda a violenta fórmula do romance
policial?
\\\***///
A MARCA – Fabio Shiva
Um
intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga
dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de
Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados
para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos
“Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora).
E agora está disponível aqui. Boa leitura!
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