Que
obra magistral!!!
Mas
de que modo esta obra é magistral? Ao tratar de temas cruciais com grande
engenho e arte, ao ensinar e instruir, mas sobretudo ao fazer pensar, ao propor
muito mais questionamentos que respostas prontas. Ao inspirar e emocionar, em
suma, com um exemplo eloquente do grande poder da Literatura!
Certamente
vou continuar com esse livro em minha mente, sendo digerido e repensado, ainda
por um bom tempo. Ainda estou sob o impacto inicial da leitura, mas teria tanto
a falar a respeito que prefiro reduzir minha resenha ao essencial.
Apesar
de estar qualificado como um romance, o livro possui muito de relato
autobiográfico, entremeado por reflexões filosóficas e políticas. Mas não deixa
de ser também um Romance, com “R” maiúsculo, pois se propõe à elevada e nobre
meta de “representar a totalidade da vida”.
Literariamente,
a obra segue a senda das “narrativas enigmáticas”: trata-se do relato minucioso
de um único dia, no caso um domingo passado no campo de concentração nazista de
Buchenwald. E a rememoração desse domingo vai sendo intercalada por outros
episódios passados e futuros na vida do Narrador, de forma a compor um complexo
mosaico que, aos poucos, vai adquirindo formas e cores definidas na mente no
leitor.
Amo
muito as narrativas estruturadas dessa forma, que se propõem a contar um único
dia e, a partir desse dia, falar da vida toda e do mundo inteiro! Desde o
brilhante e monstruoso Ulisses de
James Joyce até o mais feminino (e inteligente) Mrs Dalloway de Virginia Woolf, tanto que o primeiro livro que
escrevi, O Sincronicídio, segue a
mesma e mística cartilha. Então esse foi mais um motivo para eu achar Um Belo Domingo uma obra incrível.
Dito
isso, ficou patente na leitura a sensação de que textos desse quilate são
raramente produzidos hoje em dia (o livro foi publicado originalmente em 1980).
Ficou muito forte a impressão de que muito poucas pessoas atualmente
apreciariam esse livro. Não somente pela estrutura narrativa, que exige esforço
intelectual e cumplicidade por parte do leitor, mas principalmente pelas
reflexões suscitadas pela leitura.
Pois
o livro traça um paralelo entre a opressão do Sistema e a busca individual por
autonomia, felicidade e sentido. O Sistema, no caso, é bipartido: de um lado o
capitalismo, que de forma deformada e grotesca gera o campo de concentração
nazista, e do outro o comunismo, que de forma igualmente monstruosa acaba
parindo o gulag stalinista. Ao menos no cenário brasileiro, que parece
irremediavelmente dividido entre mortadelas e coxinhas (para alegria e gozo
geral dos donos da Padaria...), esse tipo de reflexão soa como aberrante e
fundamentalmente incompreensível para a grande maioria.
Esse
magnífico livro “só para loucos, só para raros” termina de forma triste e
desesperançada, ainda que belamente. E ainda mais solitário, louco e raro eu me
senti ao divisar uma renovada esperança para além do horizonte retratado pelo
autor. Pois não existe futuro e nem felicidade em nenhum sistema político, seja
ele qual for. Isso ficou ainda mais claro. De onde então, vem a esperança?
É
que a verdadeira e definitiva revolução humana será uma revolução de
consciência, uma revolução da Espiritualidade, que não acontecerá no embate
sangrento de exércitos, nem no igualmente violento confronto de ideologias, e
sim no mais íntimo de cada ser humano. E daí minha grande alegria e esperança: mesmo
sendo ainda invisível e aparentemente impossível, a vitória é inevitável!
Então
vamos a ela, a essa bela e irreversível vitória. Que assim seja!
\\\***///
MANIFESTO – Mensageiros
do Vento
Um
experimento literário realizado com muita autenticidade e ousadia. A ideia é
apresentar um diálogo contínuo, não de diversos personagens entre si, mas entre
as diversas vozes de um coral e o leitor. Seguir a pista do fluxo da
consciência e levá-la a um surpreendente ritmo da consciência. A meta desse
livro é gerar ondas, movimento e transformação na cabeça do leitor. Clarice
Lispector, Ferreira Gullar, James Joyce e Virginia Woolf, entre outros, são
grandes influências. Por demonstrarem que a literatura pode ser vista como uma
caixa fechada, e que um dos papéis mais essenciais do escritor é, de dentro da
caixa, testar os limites das paredes... Agora imagine esse livro escrito por
uma banda de rock! É o que encontramos no livro MANIFESTO – Mensageiros do
Vento, disponível aqui. Leia e descubra por si mesmo!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5823590
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