Mais
uma exitosa aventura do comissário Salvo Montalbano, personagem criado por
Andrea Camilleri e que é, provavelmente, o maior nome da literatura policial na
Itália atualmente. Para mim, que já li do mesmo autor “A Forma da Água” e “A
Paciência da Aranha”, foi muito instrutivo observar as sutis mudanças na prosa
de Camilleri à medida que seu detetive foi fazendo mais e mais sucesso.
De
modo geral, a impressão que tive foi que a narrativa foi ficando menos
intuitiva e espontânea e mais metódica e sistemática, com o autor se empenhando
em atender, sob demanda, aos possíveis motivos de êxito dos livros anteriores.
Assim é que aqui estão as principais boas características de uma história com
Salvo Montalbano (a julgar pelas três que li):
*
A ambiguidade moral do protagonista, capaz de ser canalha e vil com os
canalhas, mas obrigado a ser justo e correto com os bons.
*
A alternância de cenas violentas, no estilo “máfia italiana”, com investigações
mais sutis sobre a natureza humana.
*
Um toque moderado de romance e sensualidade, proporcionado pela fiel
companheira Lívia e por outras beldades, que insistem em perseguir o pobre
comissário.
*
Suculentas descrições da rica culinária siciliana.
Isso
tudo está em “O Cão de Terracota”, mas tive a impressão de que esses elementos
são apresentados de forma mais estudada e intencional, como se o autor
estivesse tentando repetir uma fórmula de sucesso descoberta inicialmente meio
que por “acaso”.
Senti
também que o sucesso afetou Camilleri, e para pior, em suas digressões sobre
livros de outros autores. Isso me incomodou porque são evidentes intrusões na
trama, que acabam fazendo o leitor sair um pouco da história ao perceber que o
autor está “mandando um recado” para alguém. Isso acontece tanto quando ele
elogia o texto de um autor contemporâneo, quanto ao dar uma sacaneada em outro,
fazendo o livro dele cair na sarjeta logo depois de ser comprado por
Montalbano, para em seguida ter um caramujo esmagado (!!!) contra sua capa. É o
tipo de cena bizarra que meio que “arranca a cortina do palco” e torna o leitor
consciente de que está assistindo a um espetáculo, justamente por ficar
imaginando que catzo estava passando
pela cabeça do escritor ao imaginar aquilo.
Mas
sobretudo não gostei da débil tentativa de zoar e desmerecer Umberto Eco.
Melhor teria feito o autor suprimindo toda e qualquer referência, chistosa ou
não, ao grande Eco, pois assim teria evitado, na mente do leitor, essa por
demais desfavorável comparação entre os dois escritores italianos.
\\\***///
A MARCA – Fabio Shiva
Um
intrigante conto de mistério e assassinato que tem como pano de fundo a saga
dos Anunnaki... “A MARCA” foi originalmente publicada em “REDRUM – Contos de
Crime e Morte” (Caligo Editora, 2014), sendo um dos sete contos selecionados
para a antologia. Em 2016 a história foi republicada no livro duplo de contos
“Labirinto Circular / Isso Tudo É Muito Raro”, de Fabio Shiva (Cogito Editora).
E agora está disponível aqui. Boa leitura!
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5825862
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