Que
livro genial! Certamente uma obra-prima da Literatura mundial, que dá orgulho
de ser brasileiro! Ainda que a genialidade maior da obra seja justamente
retratar o brasileiro, através do herói Macunaíma, como um ser “sem nenhum
caráter”...
A
tese da ausência de caráter do brasileiro é apresentada em dois níveis. O
primeiro é o caráter como uma espécie de personalidade, uma “entidade psíquica
permanente, se manifestando por tudo, nos costumes na ação exterior no
sentimento na língua na História na andadura, tanto no bem como no mal”, como
define o próprio Mário de Andrade. E ele continua: “O brasileiro não tem
caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional”.
E
então surge a sacação verdadeiramente genial: “Dessa falta de caráter
psicológico, creio otimistamente, deriva a nossa falta de caráter moral. Daí
nossa gatunagem sem esperteza (a honradez elástica/a elasticidade da nossa
honradez), o desapreço à cultura verdadeira, o improviso, a falta de senso
étnico nas famílias.”
É
por isso que “Macunaíma” continua extremamente atual: embora tenha sido escrito
em 1926 e publicado em 1928, continua botando o dedo na ferida de nossa
identidade nacional, tão confusa e sujeita às apropriações mais nefastas. E não
é à toa que esse seja um dos livros brasileiros mais estudados de todos os
tempos, e que ainda hoje gere polêmica.
Em
1969 o livro ganhou uma versão cinematográfica igualmente genial:
A
obra de Mário de Andrade já se encontra em domínio público e “Macunaíma” é facilmente
encontrado em PDF:
Eu
tive a sorte de ler uma esmerada edição da Agir, que traz ao final um “Dossiê
Macunaíma”, contendo vários rascunhos do autor sobre sua obra, de onde extraí
as seguintes pérolas:
“Quanto
a algum escândalo possível que o trabalho possa causar, sem sacudir a poeira
das sandálias, que não uso sandálias dessas, sempre tive uma paciência (muito)
piedosa com a imbecilidade”.
“Quanto
a estilo, empreguei essa fala simples tão sonorizada, música mesmo, por causa
das repetições, que é costume dos livros religiosos e dos contos estagnados do
rapsodismo popular. Foi pra fastarem de minha estrada essas gentes que compram
livros pornográficos por causa da pornografia.”
“Não
sei ter humildades falsas não e se publico um livro é porque acredito no valor
dele. (...) Principalmente disso vem o orgulho tamanho que possuo e me impede
completamente qualquer manifestação de vaidade.”
“Outro
problema que careço explicar é da imoralidade. Palavra que seria falso concluir
pela imoralidade e pela porcariada mesmo que está aqui dentro, que me comprazo
com isso. Quando muito admito que concluam que me comprazo... com o brasileiro.”
E
viva Macunaíma! Viva Mário de Andrade! Viva a Literatura Brasileira!
\\\***///
ESCRITORES
PERGUNTAM, ESCRITORES RESPONDEM
Escrever
para quê?
Doze
escritores dos mais diversos estilos e tendências, cada um de seu canto do
Brasil, reunidos para trocar ideias sobre a arte e o ofício de escrever. O
resultado é este livro: um bate-papo divertido e muito sério, que instiga o
leitor a participar ativamente da reflexão coletiva, investigando junto com os
autores os bastidores da literatura moderna. Uma obra única e atual,
recomendada a todos os que amam o mundo dos livros.
Disponível
no link abaixo, leia e compartilhe:
http://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5890058
Uma postagem muito rica!
ResponderExcluirBeijo. Bom fim de semana!
Valeu querida!
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