domingo, 7 de abril de 2019

O SOPRO DA BESTA – César Costa & Sergio Carmach (org.)



“Nas circunstâncias certas, todos são capazes de cometer o mal.”

Esse foi o mote que deu origem a essa instigante antologia, da qual tive a grande honra e alegria de participar. São ao todo oito histórias, cada uma delas totalmente diferente das demais, indo da sátira ao terror, do suspense histórico ao drama psicológico. Ao mesmo tempo, ao findar a leitura, o leitor tem a impressão de que esses contos tão diversos de alguma forma compõem um mosaico coeso, refletindo cada um ao seu modo o tema comum a todos. Mérito dos organizadores da antologia, que souberam combinar muito bem os autores e suas respectivas histórias.


O livro começa com “Som Alto”, conto de minha autoria e inspirado em fatos reais que são infelizmente vivenciados por inúmeros brasileiros, principalmente nos finais de semana: é o caso dos vizinhos “generosos”, que adoram compartilhar o seu (mau) gosto musical com toda a vizinhança. E o mais irritante é que parece existir uma misteriosa lei cósmica, que estipula que quanto pior for o gosto musical de uma pessoa, mais ela sente a necessidade de impor o que ela ouve aos outros, carregando no botão do volume!

Esse assunto me incomoda tanto que cheguei a escrever, em parceria com meu irmão Fabrício Barretto, o roteiro de um curta em animação denunciando esse ato de desrespeito que simboliza tão perfeitamente tantas coisas que andam erradas em nosso país. Acho muito curioso e até suspeito que não seja de conhecimento geral uma descoberta científica da maior importância: ouvir música muito alto (ou qualquer outro barulho) provoca impotência sexual nos homens!!! Essa impotência é devida a um dano neurológico irreversível, ou seja, não pode ser curado por meio de viagras ou outros tratamentos! Se você não acredita nisso (como eu não acreditei quando soube), dê uma pesquisada na Internet. Seus futuros filhos ainda não nascidos agradecem! Faço questão de divulgar essas informações aqui e sempre que possível, pois bastaria esse fato se tornar de conhecimento público e notório para gerar uma transformação radical no comportamento dos mal educados de plantão.

Ainda sobre “Som Alto”, a narrativa é intercalada por letras das músicas que estariam sendo tocadas no último volume. Uma curiosidade sobre essas letras é que elas faziam parte de um projeto que também desenvolvi com meu irmão Fabrício, chamado de “Ultrapagode”. A ideia era ironizar as letras de baixo calão e sexismo que infestam as rádios baianas (mas não exclusivamente). Acabamos abandonando esse projeto ao notar, desolados, que a nossa ironia passaria totalmente despercebida: fomos absolutamente incapazes de fazer algo ainda mais tosco e grosseiro do que aquilo que estava fazendo sucesso na boca do povo!


“O Sopro da Besta” segue em grande estilo com “O Fantasma da Vila”, tétrica narrativa de Sergio Carmach ambientada no século dezessete, com excruciantes descrições de uma terrível sessão de tortura. O alívio cômico vem com “O Sequestro de Deus”, de Jacob El-Mokdisi, narrativa farsesca de humor agridoce, pois os absurdos retratados na história estão mais próximos de nossa realidade do que qualquer um de nós gostaria.

“Sem Sinal”, de César Costa, é um angustiante e escatológico suspense que faz o leitor perguntar a si mesmo o que faria caso estivesse na difícil posição do protagonista. Já em “Boi Manso”, de Jowilton Amaral, temos uma história de macabra ironia, que mescla bem o cômico e o pavoroso.

“As Duas Mortes de Amanda”, de Priscila Pereira, situa-se com asfixiante nitidez no triste cenário da enfermidade mental. “Humano e Trivial”, de Mogg Mester, é uma história dentro de uma história, que convida o leitor a percorrer alguns dos sombrios labirintos das motivações humanas. Esse conto, aliás, abre com o achado de uma frase de Jung que também resume muito bem a proposta da antologia:

“Se ainda não cometi um assassinato, é porque ainda não me apertaram o botão da animalidade.”

O livro encerra com “Cilada”, de Ilana Sodré, narrativa bastante gráfica e visual de uma terrível vingança, levada a cabo com requintes de crueldade.

Parabéns à Verlidelas Editora (https://www.facebook.com/verlidelas/) por mais um livro publicado com muito esmero e qualidade! Salve a nossa Literatura Brasileira!

O livro “O Sopro da Besta” pode ser adquirido diretamente no site da editora:

  
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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”

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