“Nas
circunstâncias certas, todos são capazes de cometer o mal.”
Esse
foi o mote que deu origem a essa instigante antologia, da qual tive a grande
honra e alegria de participar. São ao todo oito histórias, cada uma delas
totalmente diferente das demais, indo da sátira ao terror, do suspense
histórico ao drama psicológico. Ao mesmo tempo, ao findar a leitura, o leitor
tem a impressão de que esses contos tão diversos de alguma forma compõem um
mosaico coeso, refletindo cada um ao seu modo o tema comum a todos. Mérito dos
organizadores da antologia, que souberam combinar muito bem os autores e suas
respectivas histórias.
O
livro começa com “Som Alto”, conto de minha autoria e inspirado em fatos reais que
são infelizmente vivenciados por inúmeros brasileiros, principalmente nos finais
de semana: é o caso dos vizinhos “generosos”, que adoram compartilhar o seu
(mau) gosto musical com toda a vizinhança. E o mais irritante é que parece
existir uma misteriosa lei cósmica, que estipula que quanto pior for o gosto
musical de uma pessoa, mais ela sente a necessidade de impor o que ela ouve aos
outros, carregando no botão do volume!
Esse
assunto me incomoda tanto que cheguei a escrever, em parceria com meu irmão
Fabrício Barretto, o roteiro de um curta em animação denunciando esse ato de
desrespeito que simboliza tão perfeitamente tantas coisas que andam erradas em
nosso país. Acho muito curioso e até suspeito que não seja de conhecimento
geral uma descoberta científica da maior importância: ouvir música muito alto
(ou qualquer outro barulho) provoca impotência sexual nos homens!!! Essa impotência
é devida a um dano neurológico irreversível, ou seja, não pode ser curado por
meio de viagras ou outros tratamentos! Se você não acredita nisso (como eu não
acreditei quando soube), dê uma pesquisada na Internet. Seus futuros filhos
ainda não nascidos agradecem! Faço questão de divulgar essas informações aqui e
sempre que possível, pois bastaria esse fato se tornar de conhecimento público
e notório para gerar uma transformação radical no comportamento dos mal
educados de plantão.
Ainda
sobre “Som Alto”, a narrativa é intercalada por letras das músicas que estariam
sendo tocadas no último volume. Uma curiosidade sobre essas letras é que elas
faziam parte de um projeto que também desenvolvi com meu irmão Fabrício,
chamado de “Ultrapagode”. A ideia era ironizar as letras de baixo calão e
sexismo que infestam as rádios baianas (mas não exclusivamente). Acabamos
abandonando esse projeto ao notar, desolados, que a nossa ironia passaria
totalmente despercebida: fomos absolutamente incapazes de fazer algo ainda mais
tosco e grosseiro do que aquilo que estava fazendo sucesso na boca do povo!
“O
Sopro da Besta” segue em grande estilo com “O Fantasma da Vila”, tétrica
narrativa de Sergio Carmach ambientada no século dezessete, com excruciantes
descrições de uma terrível sessão de tortura. O alívio cômico vem com “O
Sequestro de Deus”, de Jacob El-Mokdisi, narrativa farsesca de humor agridoce, pois
os absurdos retratados na história estão mais próximos de nossa realidade do
que qualquer um de nós gostaria.
“Sem
Sinal”, de César Costa, é um angustiante e escatológico suspense que faz o
leitor perguntar a si mesmo o que faria caso estivesse na difícil posição do
protagonista. Já em “Boi Manso”, de Jowilton Amaral, temos uma história de
macabra ironia, que mescla bem o cômico e o pavoroso.
“As
Duas Mortes de Amanda”, de Priscila Pereira, situa-se com asfixiante nitidez no
triste cenário da enfermidade mental. “Humano e Trivial”, de Mogg Mester, é uma
história dentro de uma história, que convida o leitor a percorrer alguns dos
sombrios labirintos das motivações humanas. Esse conto, aliás, abre com o
achado de uma frase de Jung que também resume muito bem a proposta da
antologia:
“Se
ainda não cometi um assassinato, é porque ainda não me apertaram o botão da
animalidade.”
O
livro encerra com “Cilada”, de Ilana Sodré, narrativa bastante gráfica e visual
de uma terrível vingança, levada a cabo com requintes de crueldade.
Parabéns
à Verlidelas Editora (https://www.facebook.com/verlidelas/) por mais um
livro publicado com muito esmero e qualidade! Salve a nossa Literatura
Brasileira!
O
livro “O Sopro da Besta” pode ser adquirido diretamente no site da editora:
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monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
maneira mais ordinária de ser monstruoso.”
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