segunda-feira, 27 de maio de 2019

FRENESI – Arthur La Bern



“Frenesi” (https://youtu.be/x_ihVr5l83Y) foi o primeiro filme de Hitchcock que assisti, ainda bem guri. Lembro que aquela explosiva mistura de sexo e assassinato causou um forte impacto em minha mentalidade infantil. Foi o início de um fascínio que só foi crescendo à medida que assisti vezes sem conta filmes como “Um Corpo Que Cai”, “O Homem Que Sabia Demais”, “Intriga Internacional”, “Os Pássaros” e a obra-prima “Psicose”, que sempre me provoca o estado sublime de enlevo que experimentamos diante de uma grande obra de arte (mesmo tratando de temas tão tenebrosos!).


Penso que muito da genialidade dos filmes de Hitchcock é simplesmente inacessível para um público mais jovem, acostumado a efeitos especiais gerados por computador. A sutil narrativa visual do tipo “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, na qual o velho Hitch exerceu sua maestria, carece de apelo para olhares empanzinados pelo banquete pirotécnico dos grandes sucessos do momento. Contudo, o legado do mestre permanece, e continua despertando terror e êxtase nos corações daqueles dispostos a desvendar segredos.

A grande motivação para a leitura do livro “Frenesi” (cujo título original é “Goodbye Piccadilly, Farewell Leicester Square”) é mesmo a comparação com o filme. Penso que o roteiro adaptado beneficiou grandemente a história. O próprio autor, contudo, não gostou da adaptação e chegou a reclamar em carta publicada no jornal The Times.

A narrativa de Arthur La Bern foge ao padrão típico das histórias policiais e de suspense, mas de um jeito ruim. A revelação da identidade do assassino ocorre, no livro, do jeito mais tosco que já vi em um romance policial. Hitchcock suplantou essa deficiência mostrando desde o início quem era o assassino, fortalecendo o suspense onde o mistério era muito fraco. O final do livro também foi muito melhorado pelo filme, em minha opinião, assim como várias outras cenas.

O livro apresenta, contudo, uma cena de grande força emocional, que foi seguida com muita fidelidade no filme: um estupro onde a vítima recita o Salmo 23, enquanto seu algoz arfa e profere obscenas declarações de amor. Aposto que foi essa única cena que capturou a imaginação de Hitchcock e o fez querer transformar a história em um filme.


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”

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