Li
esse pequeno grande livro imediatamente após as apaixonantes “Aulas de
Literatura” de Julio Cortázar. Aqui temos belos exemplos da Literatura
Fantástica, tal como compreendida e praticada pelo autor (inquestionavelmente
um mestre no estilo), muitos dos quais foram lidos e comentados em suas aulas.
Na
concepção de Cortázar, o fantástico nada mais é que a realidade, quando
percebida por uma consciência expandida. Essa chave é fundamental para abrir as
portas de seu rico universo simbólico, vivenciando uma deliciosa e lírica
aventura.
O
livro é composto de narrativas curtas, a maioria de apenas uma ou duas páginas,
que estão agrupadas em quatro seções:
1)
MANUAL DE INSTRUÇÕES: aqui o autor desafia, com muita sutileza e bom humor,
nossas noções de normalidade, ao elaborar meticulosas instruções para atos tão
banais quanto “chorar”, “subir uma escada” ou “dar corda no relógio”.
2)
OCUPAÇÕES RARAS: avançando na proposta, Cortázar apresenta historietas
hilariantes onde o absurdo das situações nos ajuda a perceber o quanto o que
consideramos normal é socialmente construído. Gostei especialmente de “Conduta
nos velórios”, que narra as aventuras de uma família cuja principal ocupação é invadir
velórios de desconhecidos e, de forma gradual e inexorável, conquistar todos os
papéis de destaque, reservados para os familiares e íntimos do falecido.
3)
MATERIAL PLÁSTICO: ainda um passo além, com verdadeiras pérolas do conto
fantástico como “Possibilidades da abstração” e “Fim do mundo do fim”, que
narra um apocalipse causado por escritores que não param de escrever e soterram
o mundo com papel. É possível sentir que nossa percepção de realidade vai se
expandindo ao ler essas histórias.
4)
HISTÓRIAS DE CRONÓPIOS E DE FAMAS: a chave de ouro, com pequenas narrativas que
conseguem ser ao mesmo tempo enternecedoras e muito engraçadas. Ao fim da
leitura, é muito grande a tentação de classificar as pessoas que conhecemos em
cronópios, famas e esperanças.
Em
resumo: uma obra genial! Sou muito grato ao Universo pela oportunidade de ter
lido esse livro no original em espanhol (graças ao P.U.L.A. – Passe Um Livro
Adiante), que me possibilitou travar contato direto com a saborosa linguagem de
mestre Júlio Cortázar.
Entrevista
do autor falando sobre a obra:
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
maneira mais ordinária de ser monstruoso.”
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agora “Favela Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
Maravilhosa postagem!
ResponderExcluirBom Domingo
Gratidão, querida!
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