Esse
foi o primeiro de tantos livros de Jorge que eu li e que achei menos que
excelente. Também pudera, foi o primeiro que ele escreveu, em 1931, quando
tinha apenas dezoito para dezenove anos (sem contar um livro de poemas e uma
novela que o próprio autor retirou da lista de suas obras completas). Ainda
assim, a obra foi forte o suficiente para ser considerada subversiva e até foi
queimada em praça pública, por determinação da polícia do Estado Novo, em 1937.
Sobretudo
se comparado com seus livros posteriores, “O País do Carnaval” revela um autor
ainda tentando acertar a mão. Aqui Jorge aparece raivoso em suas críticas à
sociedade, sem a leveza e o fino humor que iriam caracterizar seu texto mais
para a frente. Veja-se essa fala do protagonista Paulo Rigger logo no primeiro
capítulo, como exemplo marcante:
“Hoje
o feitiço domina. No Norte, senhor bispo, a religião é uma mistura de
fetichismo, espiritismo e catolicismo. Aliás, eu não acredito que Cristo haja
pregado religiões. Cristo foi apenas um romântico judeu revoltoso. Os senhores,
Padres e Papas, é que fizeram a religião... Mas se o senhor pensa que essa
religião domina o Brasil, está enganado. Há uma falsificação africana dessa
religião. A macumba, no Norte, substitui a Igreja, que, no Sul, é substituída
pelas lojas espíritas. No Brasil a questão de religião é uma questão de medo.”
A
história gira em torno de Paulo Rigger, brasileiro filho de fazendeiro que foi
educado na Europa e que não se sente identificado com seu país natal, de
regresso ao lar em busca da “felicidade”, que poderia ser traduzida por um “sentido
da vida”. Com seu grupo de amigos intelectuais, discute qual o segredo do bom
viver, que uns acham que está no amor, outros na religião, outros na filosofia
e outros ainda na renúncia a todos os desejos, no “viver por viver”. Achei
interessante esse ser o tema central do primeiro livro de Jorge Amado, e sobretudo
ele ter passado de raspão nas respostas que o Bhagavad Gita, principal obra da
filosofia e da espiritualidade na Índia, dá para essas mesmas questões. Segundo
o Gita, o segredo da felicidade está em agir livre de desejos, dedicando todas
as ações a Deus.
Essa
leitura reforçou em mim a percepção mística de um secreto parentesco entre a
Bahia e a Índia, sendo as duas terras povoadas por uma gente de pele escura com
uma profunda espiritualidade inata e uma inesgotável capacidade para a alegria.
O fato do grande avatar da literatura baiana ter iniciado sua obra com uma
pergunta que encontra sua resposta na mais sagrada escritura da Índia, para meu
coração, não pode ser apenas uma simples coincidência.
Salve
Jorge!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade
habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que
aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas
normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a
maneira mais ordinária de ser monstruoso.”
Compre
agora “Favela Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
muito interessante o estudo sobre Jorge Amado!
ResponderExcluirbeijinho grande :)
Gratidão pelo comentário e por essa energia boa!
Excluirbjs