O
professor Giraldo Balthazar da Silveira, nascido em Salvador no ano de 1886,
foi um atento observador dos usos e costumes de sua terra. Muito estimado por
seus alunos, a pedido deles começou a escrever um relato sobre a Bahia de sua
infância, desse “tempo que passou”. Contudo a morte o levou antes que pudesse
concluir o trabalho. Ainda assim, graças ao carinho e dedicação dos antigos
alunos, as crônicas que escreveu foram reunidas em um singelo volume,
acompanhadas por belas ilustrações.
Minha
motivação principal ao ler esse livro foi encontrar relatos de expressões
antigas, já não usadas na Bahia de hoje. Fui recompensado, especialmente na
narrativa sobre os ritos fúnebres, quando tomei conhecimento do “banguê”, que
era um carro funerário utilizado pelos muito pobres, que transportava os
defuntos do hospital Santa Izabel para o cemitério, acompanhado pela cantiga
inclemente do povo:
“Nêgo gêge
quando morre,
Vai à tumba de
banguê
E os parentes
vão dizendo:
Urubu tem o
que comê!”
Outro
trecho delicioso trata de tipos populares como o “Macaco Beleza” (será que
influenciou Raulzito a conceber o seu “Maluco Beleza”?). Há uma parte que
descreve a discussão entre o figuraça Professor Gusmão e o poeta Manoel
Tolentino, que o desacatou com essa quadra:
“A onça, bicho
feroz,
Que tudo come
ou devora
Pegou professor
Gusmão
Mastigou,
mastigou... e jogou fora!
Uma
sensação estranha tive nessa leitura, ao deparar com trechos como:
“O carnaval
era a festa preferida pelo povo baiano...”
Ou:
“A capoeira
sempre gozou do maior prestígio e fama, na Bahia; era realizada ao som de
berimbaus, pandeiros e outros instrumentos primitivos...”
Foi
muito esquisito ler essas narrativas “de um tempo que passou” referindo-se a
situações que ainda são atuais como se já fizessem parte de um passado remoto e
esquecido. Tirei dessa estranheza uma oportuna e grata reflexão sobre como tudo
nessa vida é fugaz e passageiro, como “um sonho dentro de um sonho”... O que pode
servir de consolo, diante de um presente muitas vezes tão medonho: “Isso também
vai passar”.
“Hoc opus, hic
labor est”: “Esse é o trabalho, essa é a fadiga”.
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Agora
disponível gratuitamente no Wattpad, LABIRINTO CIRCULAR / ISSO TUDO É MUITO
RARO é um livro duplo de contos estruturados como seis pares de “opostos
espelhados”. São ao todo doze histórias que têm como fio condutor a polarização
entre o Olhar e a Consciência (representados nas capas do livro como as pupilas
sobrepostas e o cérebro, respectivamente) e que abordam, cada uma a seu modo,
alguns dos antagonismos essenciais: Amor e Morte, Cotidiano e Fantástico,
Concreto e Absurdo. Um exercício literário para mentes inquietas e
questionadoras.
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Gostei muito da postagem!
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Jardim delineado ... " Com Amor"
Beijos, e um excelente Domingo!