domingo, 22 de setembro de 2019

O HOMEM À PROCURA DE SI MESMO – Rollo May



Li há muitos anos “Eros e Repressão”. Em resumo, Rollo May faz nesse livro uma comparação entre a sociedade vitoriana e a sociedade de sua época moderna (por volta dos anos 1950), mostrando que nos dois casos há uma incapacidade patológica de lidar com o sexo. Na era vitoriana, o sexo era reprimido de forma doentia, assim como na era moderna o sexo é exacerbado de forma doentia. Foi uma leitura que me marcou profundamente, e cujos ensinamentos têm me ajudado a entender muita coisa estranha que tenho visto desde então.

Por isso fiquei tão feliz ao me deparar com “O Homem à Procura de Si Mesmo”. Aqui a proposta do autor é mais abrangente e mais ambiciosa, como o próprio título do livro já mostra. Talvez por isso, algumas das ideias e argumentos desta obra de 1953 pareçam um pouco defasados a um olhar de 2019. Contudo, encontrei muito mais “gols certeiros” que “bolas para fora” nesse livro, e fiquei muito impressionado sobre como alguns trechos parecem ter sido escritos para descrever o Brasil de hoje:

“Quando uma nação é presa de insuportável crise econômica e se encontra vazia psicológica e espiritualmente o totalitarismo surge para preencher o vácuo e as pessoas vendem a liberdade pela precisão de livrar-se da ansiedade demasiado intensa.”

“A característica de um período de transição como o atual é precisamente o fato de todos fazerem perguntas erradas.”

“Outra prova de que as pessoas que renunciam à liberdade precisam odiar está evidente no fato de que os governos totalitários fornecem ao povo um objeto de ódio, sentimento gerado pela suspensão da liberdade.”

“Quando as pessoas se sentem ameaçadas e ansiosas tornam-se mais rígidas, e quando em dúvida tendem a tornar-se dogmáticas, perdendo assim sua vitalidade.”

“A perda da eficácia da linguagem, por estranho que pareça, é sintoma de uma época histórica conturbada.”

Além dessas passagens, anotei outras que pretendo reler no futuro:

“O fato central é vivermos num daqueles momentos da história em que um tipo de vida se encontra em agonia e outro começa a surgir, isto é, os valores e objetivos da sociedade ocidental encontram-se em estado de transição.”

O autor assinala que o que está em crise é o valor da competição:
“Aprendemos a esforçar-nos para passar à frente dos outros, mas na verdade o êxito de cada um depende muito mais, hoje em dia, de saber trabalhar em equipe.”

Sobre a perda do senso trágico na sociedade moderna:
“Pois a visão trágica indica que levamos a sério a liberdade do homem e sua necessidade de realizar-se; demonstra ainda nossa fé na ‘vontade indestrutível do homem para realizar sua humanidade’.”

“A ciência pode ser utilizada como fé rígida e dogmática, por meio da qual a pessoa foge à insegurança emocional e às dúvidas, ou pode ser uma busca sincera de novas verdades.”

“O homem moderno perdeu em grande parte a capacidade de crer e afirmar qualquer valor.”

Citando Meister Eckhart: “Ninguém conhece a Deus antes de conhecer a si mesmo. Voe para a alma, o lugar secreto do Altíssimo.”

“Recebemos amor – tanto dos filhos, como de todos os demais – não na medida de nossas exigências, sacrifícios ou necessidades, e sim na proporção de nossa capacidade de amar.”

Citando um autor de sucesso: “Quem quiser ter sucesso escreva o que bem entender.”




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