Li
há muitos anos “Eros e Repressão”. Em resumo, Rollo May faz nesse livro uma
comparação entre a sociedade vitoriana e a sociedade de sua época moderna (por
volta dos anos 1950), mostrando que nos dois casos há uma incapacidade
patológica de lidar com o sexo. Na era vitoriana, o sexo era reprimido de forma
doentia, assim como na era moderna o sexo é exacerbado de forma doentia. Foi uma
leitura que me marcou profundamente, e cujos ensinamentos têm me ajudado a entender
muita coisa estranha que tenho visto desde então.
Por
isso fiquei tão feliz ao me deparar com “O Homem à Procura de Si Mesmo”. Aqui a
proposta do autor é mais abrangente e mais ambiciosa, como o próprio título do
livro já mostra. Talvez por isso, algumas das ideias e argumentos desta obra de
1953 pareçam um pouco defasados a um olhar de 2019. Contudo, encontrei muito
mais “gols certeiros” que “bolas para fora” nesse livro, e fiquei muito
impressionado sobre como alguns trechos parecem ter sido escritos para
descrever o Brasil de hoje:
“Quando
uma nação é presa de insuportável crise econômica e se encontra vazia
psicológica e espiritualmente o totalitarismo surge para preencher o vácuo e as
pessoas vendem a liberdade pela precisão de livrar-se da ansiedade demasiado
intensa.”
“A
característica de um período de transição como o atual é precisamente o fato de
todos fazerem perguntas erradas.”
“Outra
prova de que as pessoas que renunciam à liberdade precisam odiar está evidente
no fato de que os governos totalitários fornecem ao povo um objeto de ódio,
sentimento gerado pela suspensão da liberdade.”
“Quando
as pessoas se sentem ameaçadas e ansiosas tornam-se mais rígidas, e quando em
dúvida tendem a tornar-se dogmáticas, perdendo assim sua vitalidade.”
“A
perda da eficácia da linguagem, por estranho que pareça, é sintoma de uma época
histórica conturbada.”
Além
dessas passagens, anotei outras que pretendo reler no futuro:
“O
fato central é vivermos num daqueles momentos da história em que um tipo de
vida se encontra em agonia e outro começa a surgir, isto é, os valores e
objetivos da sociedade ocidental encontram-se em estado de transição.”
O
autor assinala que o que está em crise é o valor da competição:
“Aprendemos
a esforçar-nos para passar à frente dos outros, mas na verdade o êxito de cada
um depende muito mais, hoje em dia, de saber trabalhar em equipe.”
Sobre
a perda do senso trágico na sociedade moderna:
“Pois
a visão trágica indica que levamos a sério a liberdade do homem e sua
necessidade de realizar-se; demonstra ainda nossa fé na ‘vontade indestrutível
do homem para realizar sua humanidade’.”
“A
ciência pode ser utilizada como fé rígida e dogmática, por meio da qual a
pessoa foge à insegurança emocional e às dúvidas, ou pode ser uma busca sincera
de novas verdades.”
“O
homem moderno perdeu em grande parte a capacidade de crer e afirmar qualquer
valor.”
Citando
Meister Eckhart: “Ninguém conhece a Deus antes de conhecer a si mesmo. Voe para a alma,
o lugar secreto do Altíssimo.”
“Recebemos
amor – tanto dos filhos, como de todos os demais – não na medida de nossas
exigências, sacrifícios ou necessidades, e sim na proporção de nossa capacidade
de amar.”
Citando
um autor de sucesso: “Quem quiser ter sucesso escreva o que bem
entender.”
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Agora
disponível gratuitamente no Wattpad, LABIRINTO CIRCULAR / ISSO TUDO É MUITO
RARO é um livro duplo de contos estruturados como seis pares de “opostos
espelhados”. São ao todo doze histórias que têm como fio condutor a polarização
entre o Olhar e a Consciência (representados nas capas do livro como as pupilas
sobrepostas e o cérebro, respectivamente) e que abordam, cada uma a seu modo,
alguns dos antagonismos essenciais: Amor e Morte, Cotidiano e Fantástico, Concreto
e Absurdo. Um exercício literário para mentes inquietas e questionadoras.
LABIRINTO
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Postagem maravilhosa :))
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Melancolia das manhãs ...
Beijos e uma excelente semana!
Valeu demais querida Cidália! Beijos
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