Algumas leituras somam não
tanto pelo que proporcionam, e sim pelo que lhes falta. Ler essa antologia de
contos foi para mim uma verdadeira aula de escrita, principalmente onde me
senti frustrado!
Um ponto positivo certamente se
destaca: Robert Silverberg possui muita imaginação! As ideias que motivam os
dez contos desse livro são bastante instigantes, como por exemplo: um
computador psicólogo que começa a enlouquecer (“Um descer suave”), um golfinho inteligente
que se apaixona pela humana que é sua colega de trabalho (“Ismael apaixonado”),
o sobrevivente de um acidente espacial que é reconstruído por uma raça superior
e enviado de volta à Terra como um experimento científico...
Contudo o que mais me chamou
a atenção nessa leitura foi o que ficou faltando em cada uma dessas histórias,
que foi justamente a história em si, propriamente: uma certa maneira de
organizar e apresentar a sequência de acontecimentos em um arco dramático, de
modo a gerar no leitor as emoções associadas à leitura de um bom conto. O que
senti aqui, em todos os contos, foi um encantamento inicial pela inventividade
da ideia, seguido pela expectativa de como o tema seria trabalhado pelo autor,
culminando em uma fria frustração, quando constatava que a narrativa terminava
dando a impressão de não ter chegado a lugar nenhum.
O melhor exemplo disso está no
primeiro conto, “O homem que jamais esquecia”, por justamente apresentar o
mesmo tema de um espetacular conto de Jorge Luis Borges, “Funes, o Memorioso”.
Comparar a história de Silverberg e a de Borges é como colocar lado a lado o
desenho de uma mulher feito por um talentoso iniciante e a “Mona Lisa”. Resumindo:
como autor de ficção científica Robert Silverberg é ótimo na parte da ciência,
mas não tanto na da ficção...
Um detalhe que achei
interessante: o título em português não tem nada a ver com o original, “Parsecs
and Parables”, mas me pareceu bem mais atraente e sugestivo!
Não quero passar uma
impressão errada: foi divertido ler esse livro. Estou enfatizando o que me
desagradou na leitura porque foi justamente o que mais me trouxe aprendizado
como escritor. Ou seja, a parte que eu mais gostei foi a que eu não gostei!
\\\***///
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monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam
monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui
ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em
nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira
mais ordinária de ser monstruoso.”
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