sexta-feira, 27 de setembro de 2019

OUTROS TEMPOS, OUTROS MUNDOS – Robert Silverberg



Algumas leituras somam não tanto pelo que proporcionam, e sim pelo que lhes falta. Ler essa antologia de contos foi para mim uma verdadeira aula de escrita, principalmente onde me senti frustrado!

Um ponto positivo certamente se destaca: Robert Silverberg possui muita imaginação! As ideias que motivam os dez contos desse livro são bastante instigantes, como por exemplo: um computador psicólogo que começa a enlouquecer (“Um descer suave”), um golfinho inteligente que se apaixona pela humana que é sua colega de trabalho (“Ismael apaixonado”), o sobrevivente de um acidente espacial que é reconstruído por uma raça superior e enviado de volta à Terra como um experimento científico...

Contudo o que mais me chamou a atenção nessa leitura foi o que ficou faltando em cada uma dessas histórias, que foi justamente a história em si, propriamente: uma certa maneira de organizar e apresentar a sequência de acontecimentos em um arco dramático, de modo a gerar no leitor as emoções associadas à leitura de um bom conto. O que senti aqui, em todos os contos, foi um encantamento inicial pela inventividade da ideia, seguido pela expectativa de como o tema seria trabalhado pelo autor, culminando em uma fria frustração, quando constatava que a narrativa terminava dando a impressão de não ter chegado a lugar nenhum.

O melhor exemplo disso está no primeiro conto, “O homem que jamais esquecia”, por justamente apresentar o mesmo tema de um espetacular conto de Jorge Luis Borges, “Funes, o Memorioso”. Comparar a história de Silverberg e a de Borges é como colocar lado a lado o desenho de uma mulher feito por um talentoso iniciante e a “Mona Lisa”. Resumindo: como autor de ficção científica Robert Silverberg é ótimo na parte da ciência, mas não tanto na da ficção...

Um detalhe que achei interessante: o título em português não tem nada a ver com o original, “Parsecs and Parables”, mas me pareceu bem mais atraente e sugestivo!

Não quero passar uma impressão errada: foi divertido ler esse livro. Estou enfatizando o que me desagradou na leitura porque foi justamente o que mais me trouxe aprendizado como escritor. Ou seja, a parte que eu mais gostei foi a que eu não gostei!


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“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


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