Acho
que todo mundo deveria ter alguns livros favoritos, desses que nunca cansamos
de reler. Já perdi a conta de quantas vezes revivi essas amadas “Aventuras de Sherlock
Holmes”! Cheguei ao ponto de quase saber de cor alguns dos imortais diálogos
trocados entre Holmes e seu fiel escudeiro Watson enquanto deslindavam os mais
intrincados e sinistros mistérios...
Quanto
às histórias em si, claro que estão gravadas em meu coração. O que não diminui
em nada o prazer da leitura, renovado e aumentado a cada vez. Sempre encontro
algum novo aprendizado. Dessa vez, por exemplo, me chamou a atenção o fato de
as histórias serem conduzidas por um senso de justiça implacável. Não é
incomum, nas aventuras de Sherlock Holmes, que o malfeitor seja punido em
consequência direta de suas próprias más ações, por uma justiça mais refinada
que a dos homens. Mesmo antes de abraçar a doutrina do kardecismo, ao final da
vida, Conan Doyle já demonstrava ser bastante sensível à inapelável lei do
karma...
Outra
surpresa que tive nessa releitura foi constatar o quanto algumas questões
abordadas no livro continuam (infelizmente) muito atuais. No conto “A Faixa
Malhada”, por exemplo, Holmes afirma:
“Quando um
médico desvia-se do bem, torna-se o pior dos criminosos.”
Li
essa frase em sincronicidade com algumas tristes reflexões sobre como atualmente
a prática da medicina, ao menos em nosso país, está tão emaranhada com
interesses financeiros que ficou difícil distinguir o que é medicina e o que é
comércio...
Outra
sincronicidade chocante foi me deparar, no conto “As Cinco Sementes de Laranja”,
com a seguinte descrição da infame KKK:
“Ku, Klux, Klan é o nome derivado
da semelhança imaginária com o som produzido ao carregar uma espingarda.”
Será
que a obsessão por armas está sempre ligada ao racismo e à intolerância? O nome
KKK, com sua associação a armas de fogo, devia evocar o mesmo tipo de prazer
pervertido nos capuzes brancos que hoje o símbolo da “arminha” evoca em alguns “cidadãos
de bem”, com seu novo partido treisoitão e seu racismo (e homofobia e misoginia
e intolerância religiosa etc. etc. etc.) cada vez mais mal disfarçado. Como bom
baiano e apreciador de Freud, não posso deixar de pensar que a origem de tanta
agressividade mal direcionada só pode estar em sérios problemas sexuais.
E
como músico e fã de Sherlock Holmes, só posso concordar com meu herói quando
ele diz:
“Não há mais
nada a fazer e a dizer hoje mesmo, por isso dê-me meu violino e vamos
experimentar esquecer por meia hora esse tempo miserável e o procedimento ainda
mais miserável dos nossos semelhantes.”
E
viva Sherlock Holmes!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as
outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
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Shiva:
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