Li
com grande deleite o soberbo romance da maturidade desse grande autor
português, Eça de Queirós. “A Ilustre Casa de Ramires” foi publicado em 1900,
na transição do século dezenove para o vinte, e expressa bem o choque entre os
valores tradicionais e modernos na figura do protagonista, Gonçalo Ramires, o “Fidalgo
da Torre”, membro de uma família que é “mais velha que Portugal” e que agora
precisa se valer de recursos pouco heroicos para amealhar fama e fortuna e
fazer jus ao prestigioso nome de seus ancestrais.
De
Eça de Queirós li “O Crime do Padre Amaro” e assisti à minissérie da Globo
inspirada em “O Primo Basílio”. Das duas vezes cheguei ao fim da história
levemente nauseado, embora impressionado com a capacidade do autor de retratar
as fraquezas e vilezas da natureza humana. “A Ilustre Casa de Ramires” também
traz esse olhar ferino e cínico, mas não somente. Vemos o Gonçalo covarde,
vaidoso e interesseiro, mas vemos da mesma forma o homem generoso e magnânimo,
o amigo fiel e capaz de gestos verdadeiramente nobres. Gonçalo é mais humano e
completo que Amaro e Basílio. Por isso considero essa obra superior às outras
duas, embora essas sejam inegavelmente grandes e até mais famosas que “A
Ilustre Casa de Ramires”, responsáveis pela imagem de Eça como um feroz crítico
dos costumes.
De
resto, a intensa diversão e o rico aprendizado de testemunhar um mestre da pena
em ação. Eça de Queirós esbanja sutilezas e constrói seu drama com absoluto
domínio da narrativa. Dois pontos de destaque são: 1) o “livro dentro do livro”,
a novela escrita por Gonçalo sobre seus antepassados e cuja trama vai sendo
apresentada em paralelo à história principal, de forma esplêndida, e 2) a “cena
do mirante”, que constitui o ápice dramático e que é narrada com tanto primor
que eu cheguei a sentir em meu próprio peito as intensas e aflitivas emoções
vividas pelo pobre Gonçalo. Uma maravilhosa vivência do poder da Literatura!
\\\***///
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monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas
as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É
claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
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Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
Muito bom! :)
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Memórias e boas lembranças - Parte 2
Beijo e uma boa noite!
Valeu querida!
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