segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

A ILUSTRE CASA DE RAMIRES – Eça de Queirós



Li com grande deleite o soberbo romance da maturidade desse grande autor português, Eça de Queirós. “A Ilustre Casa de Ramires” foi publicado em 1900, na transição do século dezenove para o vinte, e expressa bem o choque entre os valores tradicionais e modernos na figura do protagonista, Gonçalo Ramires, o “Fidalgo da Torre”, membro de uma família que é “mais velha que Portugal” e que agora precisa se valer de recursos pouco heroicos para amealhar fama e fortuna e fazer jus ao prestigioso nome de seus ancestrais.

De Eça de Queirós li “O Crime do Padre Amaro” e assisti à minissérie da Globo inspirada em “O Primo Basílio”. Das duas vezes cheguei ao fim da história levemente nauseado, embora impressionado com a capacidade do autor de retratar as fraquezas e vilezas da natureza humana. “A Ilustre Casa de Ramires” também traz esse olhar ferino e cínico, mas não somente. Vemos o Gonçalo covarde, vaidoso e interesseiro, mas vemos da mesma forma o homem generoso e magnânimo, o amigo fiel e capaz de gestos verdadeiramente nobres. Gonçalo é mais humano e completo que Amaro e Basílio. Por isso considero essa obra superior às outras duas, embora essas sejam inegavelmente grandes e até mais famosas que “A Ilustre Casa de Ramires”, responsáveis pela imagem de Eça como um feroz crítico dos costumes.

De resto, a intensa diversão e o rico aprendizado de testemunhar um mestre da pena em ação. Eça de Queirós esbanja sutilezas e constrói seu drama com absoluto domínio da narrativa. Dois pontos de destaque são: 1) o “livro dentro do livro”, a novela escrita por Gonçalo sobre seus antepassados e cuja trama vai sendo apresentada em paralelo à história principal, de forma esplêndida, e 2) a “cena do mirante”, que constitui o ápice dramático e que é narrada com tanto primor que eu cheguei a sentir em meu próprio peito as intensas e aflitivas emoções vividas pelo pobre Gonçalo. Uma maravilhosa vivência do poder da Literatura!


\\\***///



Qual é o seu tipo de monstro? Faça o teste e descubra!

“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser monstruoso.”


Compre agora “Favela Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:



2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...