Incrível
como um livro tão fininho pôde suscitar tantas reflexões sobre a Literatura!
Fui
atraído inicialmente pelo insólito título e também pela sincronicidade, pois
acabo de finalizar um livro de contos (a ser lançado brevemente) cujo título me
pareceu ter a mesma métrica deste: “Tanto Tempo Dirigindo Sem Ninguém No
Retrovisor”. Então notei que o livro foi laureado com o 1º lugar no Prêmio
Literário Augusto dos Anjos (FUNESC – 2013), o que aumentou minha curiosidade.
O
texto foi uma completa surpresa. Não sei bem o que eu esperava, mas decerto não
era aquele hermetismo denso de noite sem lua, a ponto de às vezes parecer que o
autor estava brincando de falar só consigo mesmo. Li os primeiros dois contos (“As
moças do sobrado” e “Meteorango dia”) dividido entre a admiração e a irritação.
Então tomei a decisão de ler atentamente o terceiro conto, “As miudezas
cotidianas”, determinado a me esforçar ao máximo para decifrar o código
proposto pelo autor. Lá pela metade do conto, imaginei risonho que a história poderia
ser interpretada como um troca-troca entre o protagonista e seu primo Luciano.
Ao chegar ao fim do conto, confirmei o inesperado enredo com a mesma alegria de
quem descobre o assassino em um livro de Agatha Christie! Daí em diante,
consegui perambular tranquilo pelo universo semântico de Políbio Alves.
“Esse texto
escrevi. Com fôlego. Não é outra coisa. É real, dizem. Em suma, pensado.
Incomoda. Eu sei. Desordena qualquer conjectura. Embora tenha reinventado tudo.
Estritamente infestado do cotidiano. Vertiginoso. Deve ser isso. Numa só
reencarnação escolástica de estrosa ousadia. Claro. Só para espantar as
pessoas.”
Achei
digna e muito válida a proposta literária do autor, e celebro a existência de
um Prêmio Literário que reconheça tais iniciativas. Não se trata de uma leitura
fácil, sequer agradável. Mas quem foi que disse que a Literatura tem que ser
fácil e agradável?
Como
escritor, tenho buscado escrever da forma mais direta e simples possível. O que
não me impede de apreciar algo que trilha caminhos totalmente diversos, e de
considerar muito necessário e valioso esse lembrete de que a Arte de modo geral
e a Literatura em particular também precisam incomodar, cutucar feridas, nos
arrancar a tapas de nossa zona de conforto. Pois tenho notado muitos leitores
que parecem ficar ofendidos quando o autor expressa algo que vai além de seu
sistema de crenças, ou mesmo ousa experimentar algo criativo, que obriga a algum
esforço mental a mais. O que me faz lembrar os proféticos versos de Kurt Cobain
em seu hino “Smells Like a Teen Spirit” (https://youtu.be/hTWKbfoikeg):
“I feel stupid and contagious
Here we are now, entertain us”
[“Eu me
sinto estúpido e contagioso
Aqui
estamos, entretenha-nos”]
Pelo
bem da humanidade, penso que a Literatura pode e deve ser mais que mera e inócua
diversão. Gratidão a Políbio Alves por nos lembrar disso. E salve nossa
Literatura Brasileira!
\\\***///
Qual é o seu tipo de
monstro? Faça o teste e descubra!
“Em nossa cidade habitam monstros, como em todas
as outras.
A diferença é que aqui ninguém finge que eles não
existem.
Há pessoas normais em nossa cidade também. É
claro.
Ser normal é só a maneira mais ordinária de ser
monstruoso.”
Compre agora “Favela
Gótica”, segundo romance de Fabio Shiva:
Muito bom :)
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ÀS VEZES...
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Beijo e boa noite!
Gratidão querida!
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