sábado, 21 de março de 2020

A VOLTA POR CIMA – Fernando Sabino



Peguei esse livro para ler intuitivamente, atraído pelo título e pela chamada da capa: “Tudo que acontece tem seu lado bom. Toda mudança é para melhor.” Esse otimismo me pareceu bastante salutar em nossos tempos de pandemia de coronavírus e, além do mais, sempre faz bem ler Fernando Sabino.

Só que, talvez por estar mais sensível a essas questões ultimamente, fui experimentando uma estranheza crescente: algumas crônicas me pareceram levemente machistas ou homofóbica. Digo “levemente” porque a prosa de Sabino é sobretudo elegante, então ficou apenas uma impressão sutil de que nos dias de hoje o autor talvez escrevesse aquelas crônicas de modo diferente (o livro é de 1990).

Então me deparei com uma crônica onde o próprio Sabino se define como “ranheta”, ao criticar duramente a juventude em termos bastante conservadores, que colocou em minha cabeça uma incômoda pergunta: “será que, caso estivesse vivo em 2018, Fernando Sabino teria votado no Bozo?”

Essa pergunta tornou-se crucial nos dias de hoje, e surge quase inevitavelmente toda vez que conhecemos alguém: “Em quem essa pessoa votou nas últimas eleições para presidente?” Contudo até então esse “X da questão” ainda não havia surgido para mim de forma retroativa, como foi provocado pela leitura de Fernando Sabino. Isso ficou de tal modo em minha mente que ao término da leitura fiz questão de assuntar alguma coisa a respeito na Internet. Imaginem a minha surpresa ao me deparar com o artigo de Henrique Balbi para a Revista Época, indagando justamente o que Fernando Sabino diria de Bolsonaro!

Encerro, portanto, citando os trechos mais marcantes:

“Como sempre, é um prazer relê-lo [Fernando Sabino]. A agilidade da sua prosa nos dá inveja, logo rebatida pelas risadas que Sabino sabe provocar como ninguém; em instantes, ele nos puxa para dentro de suas tramas, em que equívocos brotam a todo instante e em qualquer lugar; seus contos e crônicas, se é que podemos distingui-los, nunca soam datados.”

“Sabino disse não ter medo de Collor, mas vergonha – sentimento que alguns cidadãos, críticos a Jair Bolsonaro, compartilhamos.

“A tentação de imaginar o que Sabino diria hoje é imensa. (...) O que Sabino diria de Jair Bolsonaro, que naquele dezembro de 1989 se preparava para o primeiro mandato de sua carreira legislativa de quase trinta anos, como vereador pelo Rio de Janeiro? Só podemos especular, já que esta coluna não trabalha com psicografias.





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Contos da Era Bolsonaro - baixe o livro gratuitamente:

Foi disponibilizado gratuitamente nas plataformas digitais o livro “TANTO TEMPO DIRIGINDO SEM NINGUÉM NO RETROVISOR: Contos da Era Bolsonaro”, de Fabio Shiva. Lançado pela Caligo Editora, o livro impresso pode ser adquirido na Amazon a R$20 (https://www.amazon.com/dp/B0851LYQVG), enquanto a versão para Kindle fica por R$ 4,35:

Mas o livro também está disponível para leitura online no Wattpad:

Quem preferir fazer o download gratuito do PDF, pode acessar o Recanto das Letras:

Os contos do livro nascem de uma perplexidade comum a milhões de brasileiros: como é que Bolsonaro foi eleito? Como é possível que, depois de tantos absurdos, ainda tenhamos parentes e amigos apoiando fanaticamente o governo? O que aconteceu com essas pessoas? O que aconteceu com o Brasil?

Para lidar com os horrores do obscurantismo que assola o país, precisamos mais do que nunca das luzes da Arte. E é assim que a Literatura Fantástica surge como uma resposta lúdica e inesperada diante de mesquinhas realidades.

Nas oito histórias aqui reunidas, Fabio Shiva explora os pontos cardeais desse grande enigma brasileiro:

* Será que o bolsonarismo surgiu de uma epidemia cósmica? - “O ódio que veio do espaço”
* Ou será tudo parte de um audacioso plano traçado na espiritualidade? - “Acima de todos”
* Será que isso implica no fim do mundo como o conhecemos? - “A espera”
* Como será o futuro dominado pelas Fake News? - “Notícias da Democracia”
* E o que aconteceria se ninguém mais pudesse mentir? - “Verdade e Consequência”

Que essas e outras incômodas perguntas aqui apresentadas possam fortalecer os leitores em seu processo de resistência vital contra o culto generalizado da morte: a morte da natureza, a morte da educação e da cultura, a morte da diversidade, do respeito e de tudo o que nos faz ter orgulho de sermos brasileiros. Contra as trevas da ignorância, salve a nossa Literatura!

Um comentário:

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