Peguei
esse livro para ler intuitivamente, atraído pelo título e pela chamada da capa:
“Tudo que acontece tem seu lado bom. Toda mudança é para melhor.” Esse otimismo
me pareceu bastante salutar em nossos tempos de pandemia de coronavírus e, além
do mais, sempre faz bem ler Fernando Sabino.
Só
que, talvez por estar mais sensível a essas questões ultimamente, fui
experimentando uma estranheza crescente: algumas crônicas me pareceram
levemente machistas ou homofóbica. Digo “levemente” porque a prosa de Sabino é
sobretudo elegante, então ficou apenas uma impressão sutil de que nos dias de
hoje o autor talvez escrevesse aquelas crônicas de modo diferente (o livro é de
1990).
Então
me deparei com uma crônica onde o próprio Sabino se define como “ranheta”, ao
criticar duramente a juventude em termos bastante conservadores, que colocou em
minha cabeça uma incômoda pergunta: “será que, caso estivesse vivo em 2018,
Fernando Sabino teria votado no Bozo?”
Essa
pergunta tornou-se crucial nos dias de hoje, e surge quase inevitavelmente toda
vez que conhecemos alguém: “Em quem essa pessoa votou nas últimas eleições para
presidente?” Contudo até então esse “X da questão” ainda não havia surgido para
mim de forma retroativa, como foi provocado pela leitura de Fernando Sabino. Isso
ficou de tal modo em minha mente que ao término da leitura fiz questão de assuntar
alguma coisa a respeito na Internet. Imaginem a minha surpresa ao me deparar
com o artigo de Henrique Balbi para a Revista Época, indagando justamente o que
Fernando Sabino diria de Bolsonaro!
Encerro,
portanto, citando os trechos mais marcantes:
“Como sempre, é um prazer relê-lo [Fernando Sabino]. A agilidade da sua
prosa nos dá inveja, logo rebatida pelas risadas que Sabino sabe provocar como
ninguém; em instantes, ele nos puxa para dentro de suas tramas, em que
equívocos brotam a todo instante e em qualquer lugar; seus contos e crônicas,
se é que podemos distingui-los, nunca soam datados.”
“Sabino disse não ter medo de Collor, mas vergonha – sentimento que
alguns cidadãos, críticos a Jair Bolsonaro, compartilhamos.”
“A tentação de imaginar o que Sabino diria hoje é imensa. (...) O que Sabino diria de Jair Bolsonaro, que naquele dezembro de 1989 se preparava para o primeiro mandato de sua carreira legislativa de quase trinta anos, como vereador pelo Rio de Janeiro? Só podemos especular, já que esta coluna não trabalha com psicografias.”
\\\***///
Contos
da Era Bolsonaro - baixe o livro gratuitamente:
Foi disponibilizado gratuitamente nas plataformas
digitais o livro “TANTO TEMPO DIRIGINDO SEM NINGUÉM NO RETROVISOR: Contos da
Era Bolsonaro”, de Fabio Shiva. Lançado pela Caligo Editora, o livro impresso pode
ser adquirido na Amazon a R$20 (https://www.amazon.com/dp/B0851LYQVG),
enquanto a versão para Kindle fica por R$ 4,35:
Mas o livro também está disponível para leitura
online no Wattpad:
Quem preferir fazer o download gratuito do PDF,
pode acessar o Recanto das Letras:
Os contos do livro nascem de uma perplexidade
comum a milhões de brasileiros: como é que Bolsonaro foi eleito? Como é
possível que, depois de tantos absurdos, ainda tenhamos parentes e amigos
apoiando fanaticamente o governo? O que aconteceu com essas pessoas? O que
aconteceu com o Brasil?
Para lidar com os horrores do obscurantismo que
assola o país, precisamos mais do que nunca das luzes da Arte. E é assim que a
Literatura Fantástica surge como uma resposta lúdica e inesperada diante de
mesquinhas realidades.
Nas oito histórias aqui reunidas, Fabio Shiva
explora os pontos cardeais desse grande enigma brasileiro:
* Será que o bolsonarismo surgiu de uma epidemia
cósmica? - “O ódio que veio do espaço”
* Ou será tudo parte de um audacioso plano
traçado na espiritualidade? - “Acima de todos”
* Será que isso implica no fim do mundo como o
conhecemos? - “A espera”
* Como será o futuro dominado pelas Fake News? -
“Notícias da Democracia”
* E o que aconteceria se ninguém mais pudesse
mentir? - “Verdade e Consequência”
Que essas e outras incômodas perguntas aqui
apresentadas possam fortalecer os leitores em seu processo de resistência vital
contra o culto generalizado da morte: a morte da natureza, a morte da educação
e da cultura, a morte da diversidade, do respeito e de tudo o que nos faz ter
orgulho de sermos brasileiros. Contra as trevas da ignorância, salve a nossa
Literatura!
Uma postagem maravilhosa!
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Entre trajetos árduos ...
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Beijos e um Domingo
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Obrigada. Vai tudo ficar bem