Peguei esse livro para ler
como parte da pesquisa para uma história de ficção que estou escrevendo. Nesse
sentido o livro foi muito útil, especialmente o glossário ao final. Contudo
acabei tendo muitos outros aprendizados e oportunidades de reflexão a partir
dessa leitura. O texto foi originalmente uma dissertação de mestrado, que tem
como tema a criação, funcionamento e extinção de um terreiro de umbanda entre
junho e setembro de 1972, no bairro do Andaraí, no Rio de Janeiro. Só agora, ao
escrever essa resenha, noto duas sincronicidades com minha própria história: morei
no Andaraí durante boa parte dos anos que vivi no Rio, e creio ter ao menos
assistido a uma palestra da professora Yvonne Velho durante o ano que passei
como aluno da Faculdade de Ciências Sociais da UFRJ, para recuperar minha criatividade
e meu “modo bicho grilo de ser”, após ter saído do Exército Brasileiro como 2º Tenente
R2 e me descobrir incapaz de escrever um verso de poesia (felizmente, a terapia
deu certo!).
Acompanho os estudos e
práticas de minha esposa Fabíola Campos, que é umbandista, e foi muito
intrigante perceber que quase nada dos rituais descritos no livro foram reconhecidos
por ela! Creio que isso se deve a uma série de fatores, sendo o mais relevante
o fato de a Umbanda, como religião muito nova (com pouco mais de um século de
sua fundação) e tipicamente brasileira, ainda está em fase de estruturação e
consolidação, com uma saudável reformulação de suas práticas. Muitos terreiros
hoje, por exemplo, já não utilizam álcool ou tabaco em seus rituais, o que era praticamente
obrigatório, imagino, há quase cinquenta anos atrás, quando o estudo
antropológico de Yvonne Velho foi realizado.
Dois outros fatores muito
colaboraram nesse não reconhecimento da Umbanda descrita no livro, e justamente
daí tirei os maiores aprendizados dessa leitura. O primeiro fator de
estranhamento foi a própria história do terreiro, que foi fundado por um aluno
de Yvonne, que na ocasião estava na Umbanda há apenas um ano, com a motivação
de criar um espaço para uma Mãe de Santo conhecida dele, que não tinha
terreiro. Só que essa Mãe de Santo acaba ficando “louca” pouco após a
inauguração do terreiro, e um outro Pai de Santo é chamado para assumir, sendo
que logo começam conflitos com o Presidente do terreiro, justamente o aluno de
Yvonne. Falando de forma bem sincera, achei muito bizarra essa história, que
certamente destoa da história da maioria dos terreiros, e é muito curioso que
justamente esse tenha sido o que calhou de ser estudado nessa dissertação e
tenha obtido tanto êxito a ponto de continuar sendo um texto de referência até
os dias de hoje.
Aí entra o segundo fator de
estranhamento, que foi o da participação da própria autora na sequência de
eventos descritos no livro. Apesar de se colocar com muita transparência como
parte ativa nos acontecimentos, achei muito significativo o fato de a autora
aparentemente não ter notado que os conflitos que levaram ao fechamento do
terreiro foram, muito provavelmente, estimulados por ela própria! Afinal, ela
não estava apenas como uma observadora, mas como professora do Presidente do
terreiro, como uma figura de autoridade. E os conflitos entre o Presidente e o
Pai de Santo começaram justamente no dia em que ela resolveu entrevistar o
Presidente primeiro, gerando a ciumeira que acarretou a cisão final.
Fiquei imaginando como seria
uma pesquisa dessas, caso fosse realizada no âmbito de minha própria prática
religiosa, que consiste em frequentar um grupo de meditação. Fiquei imaginando a
coordenação de nosso grupo anunciando que dali em diante teríamos uma pessoa
observando a nossa prática meditativa. Talvez com o tempo eu acabasse me
acostumando, mas certamente seria um grande incômodo cerrar os olhos para
meditar sabendo que no mesmo ambiente estava alguém de butuca espiando com um
olhar especulativo!
É muito curiosa a mitologia
da imparcialidade e da objetividade científica. Se hoje a mecânica quântica já
demonstra como a presença de um observador altera a experiência no nível
subatômico (vide por exemplo o clássico experimento da fenda dupla), que dirá
no campo das interações humanas! Mais curiosa ainda é uma ciência que se crê
imparcial ao considerar todos os fenômenos da espiritualidade como decorrentes
das funções psíquicas. Uma pesquisa científica que tenha a coragem de admitir a
possibilidade de que a espiritualidade seja real, ao invés de já partir do
pressuposto de que não passa de sistema de crenças, representará notável avanço
na construção do saber científico.
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FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Link do livro no SKOOB:
https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858
Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Gostei muito da publicação! :))
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O silêncio que deslumbra pensamentos
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Beijos Bom Domingo.
Gratidão! Beijos!
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