Foi no meio da leitura dessa
obra, que aliás Espinosa desencarnou antes de concluir, que sete anos atrás
coloquei o livro de lado, exausto e derrotado. Nessa segunda tentativa de ler
até o fim o volume dedicado a Espinosa na coleção Os Pensadores, tive uma
experiência interessante, que valeu um bom aprendizado. Lá pelas tantas,
comecei a me sentir muito cansado com a leitura, quando notei que eu estava exatamente
a uma página do ponto onde antes havia abandonado. Isso me fez ficar atento e
perceber exatamente o que estava me cansando tanto: as inúmeras notas inseridas
pelo tradutor, muito meticulosas e (para mim) absolutamente irrelevantes!
Olha que coisa: o tradutor
(não acho necessário mencionar seu nome, pois não se trata de criticar sua
tradução, mas de refletir sobre as armadilhas e meandros da vida acadêmica) é
certamente um grande e douto especialista em Espinosa. Tanto que a cada
parágrafo de sua tradução julga necessário incluir notas comparando (geralmente
apontando erros) com outras traduções, além de fazer referências sobre o que
Aristóteles, Fulano ou Sicrano achavam sobre aquele determinado ponto da
filosofia de Espinosa.
Ora, considerando que o tema
abordado no livro já é complexo o suficiente, e que o próprio autor achou
necessário pontuar o seu texto com diversas notas e comentários, essas notas
adicionais do tradutor, ao meu ver, acrescentaram um desnecessário calvário ao que
poderia ter sido uma leitura bem mais fácil e agradável. Penso que aqui vi em
ação uma variante da chamada “Maldição do Conhecimento”, descrita pelos irmãos Chip
e Dan Heath em seu livro “Ideias Que Colam” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/05/ideias-que-colam-chip-heath-e-dan-heath.html). Parece que o tradutor sabe tanto sobre Espinosa que
não consegue se conter e tem que colocar notas e mais notas a cada parágrafo.
Talvez essas notas sejam úteis para alguém que vai fazer uma tese de doutorado
sobre essa obra específica de Espinosa (e mais especificamente sobre as nuances
de tradução tão caras ao tradutor). Para alguém como eu, interessado em
conhecer “a verdadeira verdade” com a ajuda dos grandes filósofos, contudo,
essa meticulosidade quase que escolástica mais atrapalha que ajuda.
Felizmente, a dificuldade foi
identificada e deixou de ser um problema! Removidos os obstáculos, resta a
filosofia luminosa desse grande pensador que, cada vez mais me convenço, deve
ter sido um iogue em outra encarnação, e veio para a Europa no século XVII para
ajudar a humanidade a recuperar a sabedoria dos antigos. Sinto que há uma
profunda afinidade entre a filosofia de Espinosa e a filosofia védica,
especialmente na sua concepção de Deus e da Natureza, que na filosofia Sankhya
são conceituados como Purusha (Deus ou Espírito) e Prakriti (Natureza).
Que linda e excitante
aventura, a do ser humano em busca de entendimento! Começando por essa frase de
abertura, que coloco entre as mais belas que já li:
“Desde que a experiência me ensinou ser
vão e fútil tudo o que costuma acontecer na vida cotidiana, e tendo eu visto
que todas as coisas de que me arreceava ou que temia não continham em si nada
de bom nem de mau senão enquanto o ânimo se deixava abalar por elas, resolvi,
enfim, indagar se existia algo que fosse o bem verdadeiro e capaz de
comunicar-se, e pelo qual unicamente, rejeitado tudo o mais, o ânimo fosse
afetado; mais ainda, se existia algo que, achado e adquirido, me desse para
sempre o gozo de uma alegria contínua e suprema.”
Destaco ainda essas duas
outras passagens, em meio a tantas outras igualmente belas:
“(...) a aquisição de dinheiro ou a concupiscência
e a glória só prejudicam enquanto são procuradas por si e não como meio para
outras coisas.”
“Mas
o amor de uma coisa eterna e infinita alimenta a alma de pura alegria, sem
qualquer tristeza.”
E viva Espinosa!
\\\***///
FAVELA
GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
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Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Muito bem. Gostei de ler!:)
ResponderExcluir-
Entreguei um sonho à lua
-
Beijos e um excelente fim de semana.:)
Gratidão, querida!
ExcluirBeijos!