sexta-feira, 2 de abril de 2021

O OFICIAL E O ESPIÃO – Robert Harris

 


Graças a Deus, eu já sofri na pele o que é ser acusado injustamente por um crime que não cometi. E já senti, nos olhares dos outros, as acusações veladas que eu não tinha como refutar. Digo graças a Deus, porque depois que o tempo passou tive a oportunidade de perceber como esse sofrimento que vivenciei foi uma benção disfarçada, que me possibilitou ficar um pouco mais sensível às inúmeras injustiças que são cotidianamente cometidas em nossa sociedade, sob os olhares indiferentes da grande maioria. E digo graças a Deus também porque felizmente tive a oportunidade de viver o outro lado dessa pavorosa experiência, que foi ser publicamente inocentado das acusações (não entro em detalhes a respeito porque fugiria ao âmbito dessa resenha e também porque espero um dia transformar essa experiência em uma história).

Por isso tudo, é claro que teve um apelo muito forte sobre mim a trama de “O Oficial e o Espião”, que foi baseada no célebre e verídico “caso Dreyfus”, um dos mais emblemáticos erros judiciários ocorridos na história mundial. O caso se deu na França, ao final do século XIX, quando o capitão Alfred Dreyfus foi acusado de cometer traição e passar uma série de documentos do exército francês para o rival império alemão. Após um julgamento extremamente parcial, onde faltaram provas e sobraram demonstrações de antissemitismo, o judeu Dreyfus foi degradado publicamente e condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, vivendo em condições sub-humanas e sob tortura física e psicológica.

Esse é apenas o começo do livro “O Oficial e o Espião”, onde Robert Harris transforma os fatos históricos em um thriller impecável, que prende o leitor à trama do início ao fim. O próprio autor conta que escreveu o livro por sugestão do diretor de cinema Roman Polanski, que em 2010 havia adaptado para as telas um outro romance de Harris, “O Escritor Fantasma”. Publicado em 2013, “O Oficial e o Espião” recebeu no ano seguinte o Prêmio Walter Scott e o Paris Book Award. Em 2014 seria filmada em Varsóvia a adaptação do novo livro de Harris, contudo Polanski, ele também às voltas com a justiça, teve que interromper o projeto para lidar com sua iminente extradição para os Estados Unidos, para ser novamente julgado pelo estupro de uma menor, cometido em 1977. Quanto ao filme, só ficou pronto em 2019 (https://youtu.be/OFXJELNxz2w).


Quando comecei a leitura, eu não conhecia o caso Dreyfus, tendo apenas ouvido falar vagamente do manifesto “J’Accuse!”, corajosamente publicado pelo escritor Émile Zola na época. À medida em que fui tomando conhecimento da história, fui ficando cada vez mais assombrado pelas inúmeras sincronicidades entre o caso Dreyfus e a condenação do ex-presidente Lula pela Lava Jato.

Foi especialmente marcante, para mim, ter chegado às últimas páginas do livro na mesma semana em que o ex-juiz Sergio Moro teve a sua suspeição confirmada pelo STF. Para qualquer pessoa que tenha se informado minimamente sobre as conversas vazadas entre Moro e Dallagnol, bem como sobre as análises de juristas sobre as faltas de provas e inúmeras irregularidades cometidas pela promotoria e pelo juiz, fica evidente que Lula foi condenado injustamente, para atender a interesses políticos escusos. Ainda assim, temos muitos e muitos brasileiros que odeiam Lula com todas as forças, e com um ódio tão cego e intenso que (quero crer) não percebem que assim se tornam cúmplices de tenebrosas forças que atualmente destroem a economia e os recursos naturais do Brasil, ao mesmo tempo em que, por incompetência ou por projeto, provocam a morte de centenas de milhares de brasileiros. Mais de cem anos atrás, Alfred Dreyfus também foi odiado com a mesma intensidade, mesmo diante de todas as evidências de sua inocência. Na França do século XIX, o motivo desse ódio contra Dreyfus foi o antissemitismo. No Brasil de hoje, o que motiva tanto ódio contra Lula?

Não poderia encerrar essa resenha sem comentar que esse foi o primeiro livro que li em italiano! A edição que li, com o título de “L’Ufficiale e La Spia”, foi publicada em um curioso formato “flipback”, que me iludiu a achar que o livro era pequeno, antes de atentar para as letras miúdas e as 860 páginas em papel bem fino! Quando percebi meu engano, já estava mais do que envolvido na história... Grazie!!!

 


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FAVELA GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica

 

Durante esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais luminoso e solidário.

 

O livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo das Trevas para a Luz.

 

A versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o PDF de todo o livro.

 

Fique à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.

 

Leia ou baixe todo o livro no link abaixo:

https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica

 

Link do livro no SKOOB:

https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858

 

Book trailer

https://youtu.be/FjoydccxJGA


 

Entrevista sobre o livro na FM Cultura

https://youtu.be/IuZBWIBYeHE


 

 

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