CÍNTHIA HOLMES & WATSON E SUAS INCRÍVEIS DESCOBERTAS – Christiane Gribel

 

Fui atraído por esse livro pelo título, que me sugeriu ser a obra uma dessas releituras do universo de Sherlock Holmes para o público infantojuvenil, a exemplo da ótima Enola Holmes (amei o filme e pretendo ler os livros da série criada por Nancy Springer). Por ter uma sobrinha adolescente que, como eu, é fã de Sherlock Holmes, decidi ler o livro e depois passar para ela, para resenharmos a respeito.

Quando peguei o livro para ler, a primeira surpresa foi descobrir que se tratava de uma obra nacional, e a segunda foi que era voltada para um público mais jovem que a minha sobrinha, que já está para fazer 17 anos. A Cínthia Holmes que protagoniza a história tem apenas 7 anos, tem um pai cientista e uma mãe que faz geleias, e é tão inteligente que, além de desvendar facilmente os mistérios da vizinhança, ainda é capaz de deduzir a teoria gravitacional de Newton tendo como pista unicamente a famosa história da maçã! Já o seu ajudante Watson, que também aparece no título, é na verdade um hamster branco, proporcionalmente tão esperto quanto sua dona. Achei a história muito bem escrita, leve e divertida, com o atrativo a mais de trazer criativas ilustrações feitas pela própria filha da autora.

Mas… não pude deixar de sentir um indistinto mal-estar, que só foi aumentando à medida que tomei consciência dele. A menina Cínthia tem “olhos verdes e cabelos ruivos”, o que para ela é uma prova irrefutável de sua ascendência inglesa e de um provável parentesco com o famoso Sherlock. Até aí, ok. Contudo todos os personagens da história são igualmente brancos e ricos. Os únicos pobres que aparecem são uns anônimos carregadores de um caminhão de mudanças. Há também uma empregada Maria, que não chega a aparecer na história, e a sua fala (que seria uma pista para solucionar o primeiro mistério, o sumiço de uma joia) jamais chega a ser ouvida: tudo o que temos é a menina Cínthia imitando de forma cômica o que ela supôs que a empregada teria dito, sendo aplaudida pela mãe: “Tá igualzinha à Maria – a minha mãe riu”.

A sensação que tive, em resumo, foi a de que essa é uma história sobre crianças brancas, ricas, belas e inteligentes, destinada a um público leitor identificado a esse protagonismo específico e exclusivo, formado de crianças que talvez morem em luxuosos condomínios fechados, que mantém fora de suas grades, longe das vistas e da consciência, toda a pobreza e feiura do Brasil.

Esse é apenas o relato de minhas impressões pessoais a partir dessa leitura. Pode ser que tudo o que eu disse acima não passe de “mimimi”. Mas também pode ser que seja válido esse sinal de alerta: a literatura não deveria ser algo feito para refletir os valores e a ética de um condomínio de luxo, mesmo quando se trata de literatura infantojuvenil. Principalmente quando se trata de literatura infantojuvenil.

 

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Imagine um jogo que ensina as crianças a rimar e fazer Poesia!

Disponível gratuitamente no link abaixo:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934

 

O jogo POESIA DE BOTÃO faz parte do projeto selecionado pelo Edital Arte Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura de Salvador), com apoio de Athelier PHNX, Verlidelas Editora, Caligo Editora, Suporte Informática e AG1. O propósito do jogo é convidar as crianças a vivenciar o universo da Poesia de forma lúdica e atrativa, como uma “brincadeira de montar versos”. POESIA DE BOTÃO é especialmente indicado para crianças já alfabetizadas, mas nada impede que adultos possam brincar também e se beneficiar com o jogo.

https://youtu.be/UUm0XQfaslM