Há alguns anos fui convidado pelo professor Antonio Gimenez Macedo a
participar de uma campanha de incentivo à leitura promovida pela Escola
Municipal Amador Bueno. Minha contribuição foi a seguinte frase:
“Com o livro viajo através do espaço-tempo, descubro tesouros fantásticos, vivo mil aventuras, perigos e desafios, aprendo mais sobre mim mesmo!”
Lembrei desse episódio ao ler o terceiro e instigante romance de Milton Hatoum, “Cinzas do Norte”. Esse livro realmente me fez viajar no tempo e no espaço, para o Amazonas da década de 1960, cenário de boa parte da história. Hatoum é muito habilidoso ao narrar suas cenas e situações, dando aqui e ali pinceladas das cores locais (e temporais) que sugerem mais que descrevem, o que obtém o curioso efeito de tornar tudo mais real e vívido para o leitor.
Quanto à trama em si, deixou-me intrigado e até mesmo um tanto desconcertado ao tentar vislumbrar as intenções do autor. O que levou Milton Hatoum a querer contar essa história? As tensões dramáticas entre o filho artista e rebelde e o pai burguês e amigo do regime militar, entremeadas pelos conflitos paralelos vivenciados pela família do narrador e amigo do herói, com direito a várias sequências inesperadas e reviravoltas, tudo isso é contado com muita habilidade, sem dúvida, mas (ao menos para mim) impregnado de um constante estranhamento.
Uma possível chave para solucionar esse enigma é considerar toda a história de forma alegórica, metafórica, onde personagens e situações figuram como símbolos de questões nacionais e, certamente, também pessoais do autor. Assim (para mim ao menos) a história lida passou a fazer mais sentido.
Como o próprio título sugere, “Cinzas do Norte” é também a narrativa de uma destruição, tanto dos ambientes naturais e coletividades humanas da Amazônia, quanto do microcosmos dos personagens do romance. Por esse motivo, inevitavelmente, é uma história eivada de pessimismo, que deixa na boca um gosto mesmo de cinzas.
Aqui e ali, Hatoum lança verdadeiros petardos de realidade, que rompem com sonoras explosões o clima onírico da narrativa. Começando pelo aparente dilema colocado logo nas primeiras páginas:
“Ou a obediência estúpida, ou a revolta.”
Ou em cenas de ácida ironia que retratam a triste condição do povo:
“O diretor perguntou por que ela não tinha documento de identidade. ‘A metade da população não tem’, respondeu Jonas.”
“Não tem lei porra nenhuma, rapaz. Tudo depende das circunstâncias: o réu tem ou não tem grana. Amigo togado também serve. Essa é a lei, o princípio e o fim de todas as sentenças.”
Esse foi o meu primeiro encontro com a literatura de Milton Hatoum. Certamente anseio por novas sessões de estranhamento!
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O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva
“E foi assim
que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais
para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por
trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas
um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os
diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o
inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para
morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos
abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e
filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma
história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das
Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender
o leitor.
Oito anos depois do
lançamento do livro físico, finalmente disponível também em e-book:
https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J
Livro físico:
https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva
Book trailer:
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