domingo, 21 de novembro de 2021

COMO INCENTIVAR NOS JOVENS BRASILEIROS DE HOJE O GOSTO PELA LEITURA?

 


Resenha de “UM FIO DE PROSA – Antologia de Contos e Crônicas para Jovens”

Em um mundo cada vez mais sobrecarregado pela multiplicidade de informações digitais, que nos assaltam diariamente na forma de vídeos, fotos e demais postagens nas redes sociais, é sempre uma pergunta que volta à mente daqueles que, como eu, amam os livros: será que ainda há espaço para a leitura na vida dos jovens de hoje? Esse questionamento é especialmente relevante quando consideramos a realidade atual dos jovens do Brasil, país que mesmo em dias melhores nunca se destacou pelo número de bibliotecas ou livrarias.

Por essas e outras fiquei feliz ao me deparar com essa bela iniciativa da Editora Global, de lançar uma “antologia de contos e crônicas para jovens”. Fui de imediato atraído por “Um Fio de Prosa” pela rara oportunidade de ver alguns de meus poetas favoritos exercitando-se na prosa: ninguém menos que Mario Quintana, Cora Coralina, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade! Só por esse quinteto o livro certamente já mereceria uma leitura atenta. Mas a antologia ainda traz autores já consagrados no território da prosa, como Ignácio de Loyola Brandão, Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Rachel de Queiroz e Luís da Câmara Cascudo. E de quebra, fechando o livro, o excelente Daniel Munduruku, o único desses autores que eu ainda não conhecia.

Só pela simples enunciação dos autores que participam da coletânea, já temos a certeza de duas coisas: esse livro tem qualidade e diversidade. Cada história é um universo à parte. Esse, ao meu ver, é um dos grandes méritos de uma obra que se propõe a despertar o gosto pela literatura em jovens leitores. Pois demonstra, em poucas páginas, como é possível encontrar tantas emoções de sabores diferentes nesse mundo mágico dos livros.

Temos, abrindo muito bem a antologia, a comédia nonsense de Mário Quintana em “Conto familiar”, seguida por “Medo”, que ao contrário do que sugere o título é uma engraçada crônica de Cora Coralina. O humor continua dando a tônica em “Zeppelin em Santa Teresa”, texto satírico de Manuel Bandeira, e em “O homem que devia entregar a carta”, de Ignácio de Loyola Brandão, que já começa a apresentar um saudável estranhamento, levando o leitor a se perguntar: “o que será que o autor quis dizer com essa história?” Acho esse estranhamento, quando na dose certa, um dos ingredientes mais formidáveis para estimular o gosto pela leitura.

Em seguida temos “A arte de brincar”, uma sensível reflexão de Cecília Meireles sobre o quanto a infância está perdendo algo de precioso ao substituir os folguedos coletivos na rua por sofisticados e solitários equipamentos eletrônicos. Um texto profético, para dizer o mínimo. Essas reflexões preparam o terreno para “As pérolas”, de Lygia Fagundes Telles, um conto mais denso e repleto de sutilezas, que descortina possibilidades dramáticas mais amplas para o leitor.

Para refrescar um pouco, mas ainda convidando à reflexão, temos “João Brandão adere ao punk”, surpreendente crônica de Carlos Drummond de Andrade, seguida por “A tecelã”, poética narrativa de Marina Colasanti, cheia de ricos simbolismos. E novamente é hora de se divertir pensando com “Assim caminha a humanidade”, outra crônica profética, dessa vez sobre a progressiva inviabilidade das grandes cidades, assinada por Rachel de Queiroz.

Certamente seguindo um propósito bastante sensível, o livro encerra com um regresso às tradições brasileiras, inicialmente com “O boi leição”, uma bela narrativa folclórica de Luís da Câmara Cascudo, e encerrando com “Por que o sol anda devagar?”, empolgante mito indígena muito bem narrado por Daniel Munduruku, que deixa o leitor com aquele gostinho maravilhoso de “quero mais”.

Como incentivar o gosto pela leitura nos jovens brasileiros de hoje? Uma das soluções mais simples para essa pergunta, ao meu ver, é tornar acessíveis para a juventude boas obras, de preferência escritas por autores brasileiros sobre questões eminentemente brasileiras. Obras como esse belo “Fio de Prosa”.


\\\***///


 

Imagine um jogo que ensina as crianças a rimar e fazer Poesia!

Disponível gratuitamente no link abaixo:

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/6446934

 

O jogo POESIA DE BOTÃO faz parte do projeto selecionado pelo Edital Arte Todo Dia – Ano IV, da Fundação Gregório de Mattos (Prefeitura de Salvador), com apoio de Athelier PHNX, Verlidelas Editora, Caligo Editora, Suporte Informática e AG1. O propósito do jogo é convidar as crianças a vivenciar o universo da Poesia de forma lúdica e atrativa, como uma “brincadeira de montar versos”. POESIA DE BOTÃO é especialmente indicado para crianças já alfabetizadas, mas nada impede que adultos possam brincar também e se beneficiar com o jogo.

https://youtu.be/UUm0XQfaslM


 



2 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...