Comentários sobre o
livro “ISSO TUDO É MUITO RARO” de Fabio Shiva
Resolvi aproveitar a energia inercial adquirida ao converter para e-book o meu primeiro romance, “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J) e fazer o mesmo com outros livros meus, começando por esse livro duplo de contos, lançado em 2016 e hoje esgotado fisicamente. Aliás, que interessante essa ideia de um livro “esgotado fisicamente”! Há algumas décadas essa expressão seria incompreensível, mas hoje é perfeitamente natural. Só mais um pequeno e eloquente indício de como o nosso mundo vem mudando vertiginosamente e de como os nossos conceitos do que é “normal” e do que é “absurdo” sofrem alterações quase que diárias. E esse é justamente um dos conceitos subjacentes aos contos desse “Isso Tudo É Muito Raro” (https://www.amazon.com.br/Isso-Tudo-%C3%89-Muito-Raro-ebook/dp/B09MSWTTBP).
Em seu formato físico, o livro foi lançado fazendo par com “Labirinto Circular” (https://www.amazon.com.br/Labirinto-Circular-Fabio-Shiva-ebook/dp/B09MSVN9GZ), sendo que os dois ficavam de ponta cabeça um com relação ao outro, e a capa de um era a contracapa do outro. Daí chamá-lo de “livro duplo”, embora talvez uma expressão mais precisa fosse algo como “livros gêmeos siameses”. Pois a ideia de espelhos invertidos, alter egos, ou opostos e complementares é dominante na estrutura dos dois livros. Cada “metade” é composta por seis contos, sendo que cada conto possui um equivalente distorcido na outra metade. Consegui organizar isso escrevendo sempre um par de contos totalmente diferentes entre si, mas versando sobre o mesmo tema, aparentemente escolhido de forma aleatória. Os seis temas são: Sobrenatural, Assassinato, Carta, Literatura, Ufologia e Saga.
Pode parecer maluquice, mas juro que tive bons motivos para me esforçar em tão meticulosas elucubrações. Em primeiro lugar, porque me divirto com essas coisas. E em segundo lugar, porque o fio condutor dessas doze histórias é a polarização entre o Olhar e a Consciência, representados nas capas dos dois livros como as pupilas sobrepostas em “Isso Tudo É Muito Raro” e o cérebro em “Labirinto Circular”. Entre o Olhar (que nos traz o mundo externo) e a Consciência (que nos fala do mundo interno) circulam todas as perguntas, inclusive as cruciais: o que é realidade? O que é ilusão? Acredito que uma das funções da Literatura é reverberar essas questões.
Quero falar brevemente sobre cada um dos contos, não tanto sobre as histórias em si, mas sobre o processo de criação e as motivações envolvidas (até onde me dou conta delas):
EU, GAMEBOY
Esse conto, um de meus favoritos, teve como mote um célebre trecho do
Mundaka Upanishad:
“Dois pássaros de belas asas, amigos íntimos, vivem na mesma árvore, assim como o ego e o Eu habitam o mesmo corpo. Dos dois, um come os frutos doces e azedos da árvore da vida, enquanto o outro apenas observa o companheiro.”
Esse trecho, que expressa de forma tão poética a relação entre a alma e o ego, foi também o mote inicial para a minha oficina de “Meditação para Crianças”, que acabou virando um livro em versos rimados, que espero publicar em breve. No conto, utilizei essa ideia para imaginar a alma como um jogador de videogame onde o ego é o jogo. Assim, a ideia foi retratar um dia enfadonho na vida de um funcionário do departamento de pessoal de uma empresa, com todas as suas mesquinhas alegrias e agonias, que são vivenciadas pelo jogador oculto como lances emocionantes do game. Acho que é uma metáfora bem aceitável para a vida da maioria de nós.
A MARCA
Esse conto foi originalmente publicado em “REDRUM – Contos de Crime e
Morte”, antologia lançada em 2014 pela Caligo Editora. Quando Bia Machado,
editora da Caligo, me convidou para participar do livro, eu e meu irmão
Fabrício Barretto estávamos mergulhados na produção de “ANUNNAKI – Mensageiros
do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
Por isso, o bom senso mandava que eu recusasse o convite. Mas guloso de escrita
como eu sou, encontrei uma desculpa plausível, encaixando uma história de
assassinato (como a Bia havia pedido) na temática dos Anunnaki e das tabuletas
sumérias (para apaziguar minha consciência culpada). E o resultado me deixou muito
feliz. Aproveito para agradecer novamente à minha irmã caçula Flávia Barretto e
aos seus colegas do laboratório da UENF, que me ajudaram a planejar um
horripilante crime de morte!
MENSAGEM DENTRO DE UMA
GARRAFA PET
Esse é um de meus primeiros contos, e o escrevi para participar de um
concurso promovido pelo jornal O Globo, com o tema “O Rio e o Mar”. Lembro que
caprichei ao mandar o conto, enviando junto com o texto impresso uma cópia do
conto devidamente datilografada em uma velha Remington 14 e inserida dentro de
uma garrafa Pet, tal como a história de meu conto. Quando o resultado do
concurso saiu, lendo os contos vencedores, dei-me conta (mais uma vez) de minha
ingenuidade: o jornal queria histórias de louvores ao cenário (inegavelmente)
paradisíaco do Rio de Janeiro, enquanto o meu conto, passado em um futuro
próximo, narrava um derradeiro dilúvio carioca.
1%
Escrevi esse conto para a antologia “Os 7 Pecados Capitais” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2013/05/os-7-pecados-capitais.html),
lançado em 2013 pela Editora Pimenta Malagueta, de minha querida amiga Miriam
de Sales. Foi a minha primeira história publicada em livro. Escolhi a preguiça
como o pecado capital tema do conto, narrando a trajetória de um escritor
genial, mas preguiçoso, que possuía o 1% de inspiração, mas carecia totalmente
dos 99% restantes de transpiração…
ANGÉLICA E AS FADAS
Escrevi esse conto para cumprir a promessa feita à minha querida amiga
Angélica Bernardino, que conheci na Comunidade Resenhas Literárias do Orkut
(sim, faz tempo isso!), junto com outras duas queridas amigas, Bia Machado e
Elda Araújo, trio a quem dediquei o livro “Isso Tudo É Muito Raro”. Prometi que
escreveria uma história onde a protagonista se chamaria Angélica, e cumpri a
promessa não apenas aqui, mas também em outro livro (que não posso revelar qual
é, sob pena de cometer spoiler!).
ISSO TUDO É MUITO RARO
Foi uma delícia escrever essa história, por três motivos. Primeiro, ela
me deu a oportunidade de reecontrar alguns personagens queridos de “O
Sincronicídio: sexo, morte & revelações transcendentais”. O Inspetor
Teixeira, protagonista de meu primeiro romance, aparece aqui como mero espectador
da história de uma noite perfeita vivida pelos Olimpianos, o talentoso grupo de
jovens universitários que acaba inventando uma máquina capaz de descobrir o
futuro, em “O Sincronicídio”, ao alimentar um computador que joga xadrez com o
sistema binário dinâmico do I Ching. Segundo, aqui realizei o desejo de
escrever uma história nos moldes de um diálogo platônico, mais especificamente
de “O Banquete”. A narrativa é toda construída através de diálogos e, tal como
no clássico de Platão, fala sobre um concurso de discursos. Terceiro e
principal motivo: por conta desse concurso, pude aproveitar algumas de minhas
reflexões metafísicas favoritas. Uma delas é a ideia de que existe uma única
alma, que reencarna sucessivamente em todas as pessoas que já existiram,
avançando tanto para o futuro quanto para o passado em seu processo de
evolução. Tempos depois, descobri que essa é a trama essencial do conto “O Ovo”,
de Andy Weir, que rendeu algumas ótimas adaptações audiovisuais (https://youtu.be/h6fcK_fRYaI). No meu
conto, a primeira pessoa encarnada poderia ter sido Judas Iscariote, sendo a
derradeira encarnação a de Jesus Cristo. E seguindo até o fim o paralelismo com
“O Banquete”, não foi esse, o meu discurso favorito, que foi sagrado vencedor
do concurso, mas um que veio depois e que justamente encerra com a frase que dá
nome ao conto e ao livro: “Isso tudo é muito raro”. Cada pessoa viva ou morta, cada
floco de neve, cada grão de areia, cada ser do universo, isso tudo é muito
raro. Penso que perceber isso é outra forma de entender que tudo é um milagre,
como expressado tão precisamente por Albert Einstein:
“Só há duas maneiras de viver a vida: a primeira é vivê-la como se os milagres não existissem. A segunda é vivê-la como se tudo fosse milagre.”
Foto: Fabíola Campos
https://www.amazon.com.br/Isso-Tudo-%C3%89-Muito-Raro-ebook/dp/B09MSWTTBP
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FAVELA GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Durante
esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos
tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
das Trevas para a Luz.
A
versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
tentativa de proporcionar entretenimento a todos durante a quarentena – o autor
e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o
PDF de todo o livro.
Fique
à vontade para repassar o arquivo para amigos e parentes.
Leia
ou baixe todo o livro no link abaixo:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
Link do livro no SKOOB:
https://www.skoob.com.br/livro/840734ED845858
Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Resenha (Perpétua):
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