Resenha de “LOVE – A HISTÓRIA DE LISEY” de Stephen
King
No dia de meu aniversário, mozãozinho encomendou um caruru vegetariano para o nosso almoço. Quando fui buscar a iguaria, resolvi dar um pulo no Cantinho dos Livros, maravilhoso espaço para doação e troca de livros aqui no Mercado Municipal de Itapuã. Pressentia que os deuses da Literatura guardavam um presentinho para mim, e não me enganei: pois lá estava me esperando esse exemplar de “LOVE – A História de Lisey”.
Ler esse livro foi certamente um presente em minha jornada de leitor e escritor, mas não da maneira como eu estava esperando. Ocorre que estou lendo em paralelo “On Writing” (“Sobre a Escrita”), do mesmo Stephen King, onde o autor faz algumas afirmações bastante enfáticas sobre o ofício e a arte de escrever. Como algumas dessas afirmações parecem entrar em contradição direta com o pouco que eu achava que tinha aprendido a respeito, essa leitura vinha me causando alguma angústia. E agora, depois de ter lido “A História de Lisey”, mais uma vez tomo consciência de que Stephen King sabe muita coisa sobre o processo da escrita. Mas está longe de saber tudo.
A edição que li de “A História de Lisey” tem 675 páginas. Mais ou menos até a página 300, ou seja, até pouco antes da metade, eu li devorando a história e saboreando cada detalhe. E então, após determinado ponto, a leitura tornou-se enfadonha, embaraçosa e penosa. Li o mais rápido possível, só para acabar o quanto antes com aquele suplício. Encontrei uma metáfora que define bem o que experimentei durante essa leitura: na primeira metade, eu estava assistindo a uma produção da Netflix, com ótimos atores, excelentes efeitos especiais e uma história instigante. E então, subitamente, foi como se a verba (criatividade, imaginação ou o “capital” utilizado para se contar uma história) fosse cortada quase que completamente, restando o suficiente apenas para apresentar o storyboard do filme! Os personagens, que até então pareciam reais, de uma hora para a outra viraram figuras bidimensionais, desenhadas numa folha de papel…
Aliás, por falar
em série, acabo de descobrir que “A História de Lisey” virou um seriado da
AppleTV (https://youtu.be/UtvDF59XBA0).
Incluindo esse, já
li 26 livros de Stephen King (alguns mais de uma vez). Meus favoritos são “Quatro
Estações”, “Tripulação de Esqueletos” e “Sombras da Noite”, e em matéria de
terror, “O Cemitério” foi o livro mais apavorante que li na vida. Seguindo a
lista de meus favoritos de King até o fim, “A História de Lisey” ocupa o 25º lugar,
ganhando apenas de “Insônia”.
Mas por que é que detestei tanto essa história da pobre da Lisey? Depois desse “choque térmico” brutal que recebi lá pelo meio da leitura, meu principal propósito foi encontrar respostas para essa pergunta. Afinal, leio os livros de Stephen King (como leio qualquer outro livro) motivado por duas pulsões básicas: 1) me divertir e 2) aprender o máximo possível.
“A História de Lisey”, como tantas outras de King, gira em torno de um escritor de sucesso, que é assombrado por fantasmas reais ou imaginários na mesma medida de seu grande talento. A diferença fundamental é que aqui a protagonista é a esposa do talentoso escritor, que precisa lidar com a herança dos fantasmas deixados pelo marido depois que ele morre. Tentando responder à pergunta acima, creio que a história de Lisey não funciona muito bem da metade para o fim devido aos principais motivos:
* A trama começa a desandar em um ponto que é crucial nas histórias de terror, que é o momento em que o “monstro” (seja ele um assassino ou uma criatura infernal) afinal é revelado para o leitor (geralmente depois de muitas e muitas páginas de suspense). Chamo esse momento de “a nudez do monstro”, e é uma cena problemática por si só, porque o monstro “real” (o que se revela) é sempre menos assustador que o monstro imaginado (sugerido pelo autor antes da cena da revelação). No caso específico de “Love”, os dois monstros principais (o psicopata Dooley e o fantasmagórico Rapaz Espichado) são bem fraquinhos, sem personalidade ou carisma. É como se King estivesse sem combustível criativo, depois de ter criado tantos personagens assustadores.
* Boa parte do suspense da história é construído a partir das lembranças reprimidas de Lisey, que vão sendo descortinadas a conta gotas. Essa estratégia pode funcionar muito bem, como no sensacional filme “Amnésia” (https://youtu.be/t1EuIMA_28w), adaptado pelo diretor Christopher Nolan a partir do conto “Memento Mori”, escrito por seu irmão Johnatan Nolan. Aqui, Stephen King leva centenas de páginas para fazer Lisey lembrar de coisas que o leitor facilmente adivinha na trama… ou que o próprio King já havia antecipado. Isso não é suspense, e sim agonia pura.
* King ficou
excessivamente empolgado pelo paralelismo entre seu alter ego Scott Landon e
sua esposa Lisey e ele mesmo e sua esposa Tabitha King, ao ponto da
autoindulgência. A sensação mais forte que tive com a leitura foi essa: “sou um
escritor de sucesso e meus leitores me amam, e amam tudo o que eu escrevo.” Nem
sempre, meu querido Stephen. Amo quase tudo o que você escreve, o que me leva
certamente a amá-lo. Mas a segunda metade desse livro, para usar uma frase que
é bastante repetida em “A História de Lisey”, parece ter saído diretamente do
rabo do cachorro…
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FAVELA GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
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esse período de pandemia, em meio a tantas incertezas, temos uma única
garantia: a de que nada será como antes. Estamos todos tendo a oportunidade
preciosa de participar ativamente na reconstrução de um mundo novo, mais
luminoso e solidário.
O
livro Favela Gótica fala justamente sobre “a monstruosidade essencial do
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tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos
mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo
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versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas – na
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Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Resenha (Perpétua):
Excelente publicação!! :))
ResponderExcluir-
Deixo flores, com saudades...
Votos de um excelente fim de semana. Beijo.
Gratidão, querida!
ResponderExcluirbjs