Resenha do livro “OLHOS
D’ÁGUA”, de Conceição Evaristo
Há tempos que eu queria ler um livro inteiro de Conceição Evaristo, que cheguei a homenagear no espetáculo “Cecília no Planeta Poesia”, compondo a tríade derradeira das “Poetas com C maiúsculo”:
“Conceição, Carolina, Cecília!”
Então pensem na minha alegria ao encontrar na Mansão dos Livros (espaço para doação e troca de livros em Itapuã) um exemplar novinho em folha de “Olhos d’água”, justamente uma de suas obras mais comentadas, que rendeu a Conceição o Prêmio Jabuti! E também outras obras interessantíssimas, dentre as quais outra que queria muito ler (e que já comecei): “O Que É Lugar de Fala?”, de Djamila Ribeiro, que inclusive cita “Olhos d’água”. E a surpresa foi completa quando encontrei um de meus próprios livros em tão prestigiosa companhia, um exemplar de “Favela Gótica” (https://youtu.be/FjoydccxJGA), cuja dedicatória solucionou o enigma: o doador daqueles livros foi o querido irmão de Poesia e Capoeira, Tanderson Gangoji! Gratidão, meu malungo, por proporcionar a mim e à minha esposa Fabíola Alfazema essas gratas leituras (e também por possibilitar que outras pessoas leiam o meu livro)!
“Olhos d’água” é um livro pesado, apesar de fininho (114 páginas). É doloroso de se ler, não obstante as tramas envolventes. Chega a ser asfixiante, mesmo sendo permeado pelo perfume de lindas imagens poéticas. Não espere finais felizes: as dores afloram em tragédias a cada conto, evocando com minucioso lirismo cortes profundos na carne, que sangram em abundância. Até o denso sentimentalismo que emana de algumas das histórias serve ao mesmo e inexorável propósito de Conceição: sua ficção é tão pungente porque nasce das banais tragédias que atingem tantas vidas negras em nosso Brasil e no mundo. Tragédias tão comuns que na maioria das vezes nem chegam a merecer a reles dignidade de uma matéria jornalística. Conceição Evaristo é a cronista das tragédias invisibilizadas.
O próprio título “Olhos d’água” não poderia ter sido melhor escolhido. Esse é o nome também da história que abre o livro, na qual a narradora repetidamente se pergunta:
“De que cor eram os olhos de minha mãe?”
São os labores e dissabores constantes que fazem a mulher negra que é a mãe da narradora ter esses olhos “de cor tão úmida”, em uma metáfora poderosa que gruda na alma da gente. As injustiças e desigualdades invisibilizam e desumanizam a pessoa preta: seus olhos constantemente banhados em lágrimas não nos permitem vislumbrar sua cor. Mas esse mesmo sofrimento é gerador da beleza que transcende e liberta, que nos empodera a sonhar com um mundo mais justo. Tocados por essa emoção, nossos olhos também adquirem essa cor das águas.
Um louvor à parte deve ser feito à primorosa edição da Pallas, com todo o texto impresso em azul, evocando de forma inspirada essa cor dos “olhos d’água”.
Bravíssimo!
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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