sexta-feira, 7 de julho de 2023

BANDIDOS BONS X BANDIDOS MAUS: UM PLANO MIRABOLANTE DO MESTRE DO DIÁLOGO

 


Resenha do livro “BANDIDOS”, de Elmore Leonard

Meu primeiro contato com Elmore Leonard foi “Chamariz”, que tentei ler há muitos anos, mas acabei abandonando. Depois de ler uma inspiradora entrevista do autor no jornal O Globo, fiquei curioso para tentar novamente, e acabei tendo uma agradável surpresa com “Um Homem Destemido” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2013/05/um-homem-destemido-elmore-leonard.html). Tempos depois tive outra boa experiência ao ler um conto de Leonard na antologia “Noir Americano” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/05/noir-americano-peter-haining-org.html). E agora aconteceu o meu melhor encontro com esse autor, que é considerado um mestre do diálogo, e não sem motivo, como é bem demonstrado nesse “Bandidos”.

A trama é para lá de mirabolante: Jack Delaney, ex-modelo fotográfico e ex-presidiário, atualmente trabalhando como assistente de papa-defuntos, acaba se envolvendo com a freira Lucy Nichols, que cuidava de um leprosário na Nicarágua sandinista. Esse é o mote para uma história policial do tipo “plano para um golpe”, do qual tivemos um bom exemplo contemporâneo na ótima série espanhola “La Casa de Papel”. O diferencial da história de Elmore Leonard é que os bandidos “bons” se juntam para roubar os bandidos “maus”, o que gera todo tipo de questionamentos éticos e filosóficos entre personagens para lá de bizarros. Claro que a graça de toda história do tipo “plano para um golpe” é que, assim como na vida real, muitas surpresas acabam atrapalhando o mais meticuloso planejamento...



E o que faz de Elmore Leonard um mestre do diálogo? Realmente as falas de seus personagens são escritas com muita vivacidade, com ótimas tiradas e boas doses de personalidade. Mas penso que o recurso mais interessante utilizado por Leonard é omitir trechos da narrativa e deixá-los subentendidos nos diálogos. Não me lembro de ter visto esse “truque” sendo aplicado com tanta habilidade: pela reação de um dos personagens, expressada em suas falas, adivinhamos algo que está acontecendo na história, mas que não chega a ser explicitado no texto. O resultado faz a história ganhar vida e dinamismo.

Lamento não ter tomado nota dos trechos em que esse recurso foi utilizado. Como é algo bem sutil, não adiantou folhear as páginas a esmo, procurando encontrar algum bom exemplo dessa prática. Bom, ao menos anotei algumas falas bem expressivas, como o trecho em que a irmã Lucy, contando a história de São Francisco de Assis, tenta explicar a Jack que não é tão fácil assim se tornar um santo:

“Se você tem consciência de que está buscando, Jack, não tem a menor chance.”

A trama é permeada por muitas críticas sociais, como por exemplo:

“Com a sua permissão, irmã, considere um povo criado para acreditar que está certo explodir as pernas de uma mulher por uma causa justa, mas que é um pecado mortal abri-las.”

“Os escritórios vivem cheios de pessoas fazendo coisas que, se não fossem feitas, ninguém notaria a diferença.”

Espero ter em breve outra aula de diálogos com o mestre Elmore Leonard!

 



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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

Facebook: https://www.facebook.com/sincronicidio

Instagram: https://www.instagram.com/prosaepoesiadefabioshiva/


 

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O SINCRONICÍDIO – Fabio Shiva

 “E foi assim que descobri que a inocência é como a esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”

Haverá um desígnio oculto por trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para morrer.

“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos abraçar a escuridão.”

Suspense, erotismo e filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo (clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das Mutações. Um romance de muitas possibilidades.

Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender o leitor.

 

Oito anos depois do lançamento do livro físico, finalmente disponível também em e-book:

https://www.amazon.com.br/dp/B09L69CN1J

 

Livro físico:

https://caligo.lojaintegrada.com.br/o-sincronicidio-fabio-shiva

 

Book trailer:

http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA


  

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