Resenha do livro “HOTEL PARADISE”, de Martha Grimes
Confesso que o que primeiro me atraiu para a leitura desse livro foi a capa: uma bela composição em azul cobalto (minha cor favorita) sugerindo o drama da menina afogada, que é o tema central da história. Eu já estava na metade do livro quando me dei conta de que o nome da autora também foi um fator atrativo: na época em que eu estava fazendo uma obsessiva pesquisa sobre romances policiais, com a desculpa de estar escrevendo meu próprio romance policial, “O Sincronicídio” (http://youtu.be/Vr9Ez7fZMVA), o nome de Martha Grimes foi um dos tantos que atiçou minha insaciável curiosidade.
Terminada a leitura, pelo que vi na Internet, imagino que esse “Hotel Paradise” deve ter uma pegada diferente dos outros livros policiais de Martha Grimes. Mas o livro deve ter feito bastante sucesso, a ponto de iniciar uma série com a protagonista Emma Graham, de quatro volumes no total.
Algumas coisas chamam a atenção. É inegável a habilidade da autora em proporcionar uma leitura agradável e envolvente. E é também inegável o sentimento de estranheza que essa história provoca, a ponto de um mistério sobrepujar todos os outros que aparecem na trama: “O que será que levou Martha Grimes a querer escrever essa história?”
Uma menina que se afogou em um lago há 40 anos vira a obsessão da menina Emma, que tem a mesma idade da menina quando morreu: 12 anos. Emma é a narradora da história e filha da dona do decadente Hotel Paradise, que conheceu dias bem melhores na época do tal afogamento. A protagonista investiga esse mistério de décadas passadas quando acontece uma nova tragédia.
Só para dar uma ideia da estranheza que esse livro provoca, nessa curta resenha eu já citei o nome da narradora três vezes. Mas na história, no entanto, esse nome só é revelado na página 392, quase no final. Em que pese a habilidade da autora, a trama toda é cercada por uma inverossimilhança que beira o onírico: parece que a história que está sendo contada não passa de um sonho. Além disso, por conta de uma exasperante característica da protagonista Emma, de nunca falar diretamente o que deseja e de tampouco revelar o que sabe, a trama se estende por no mínimo umas cem páginas a mais. Isso me fez refletir muito sobre o ofício de escritor de ficção, que procura criar um mundo envolvente para o leitor, o que implica criar um cenário e uma atmosfera convincentes, além de personagens vívidos. Não se trata apenas de enumerar ações. Em meu gosto pessoal, prefiro ir direto ao assunto e ir cuidando desses outros elementos enquanto a história vai acontecendo. Cada vez menos aprecio o que considero “encheção de linguiça”, mas há escritores de sucesso que usam e abusam desse recurso, principalmente em histórias de suspense. Um dos exemplos mais famosos é Stephen King, mas ninguém que eu tenha lido enrola tanto ao contar uma história quanto Dean Koontz, ironicamente intitulado “mestre da ameaça” (ameaça contar, mas demooora pra cumprir a ameaça...). Pois bem, penso que Martha Grimes faz parte desse time. Isso não é demérito, apenas uma questão de gosto.
Outro detalhe interessante sobre “Hotel Paradise” é que é difícil situar a história no tempo. O livro foi publicado em 1996, mas a impressão que a história dá é a de que acontece bem antes, em algum ponto perdido no tempo. Pelo que me lembro não há qualquer referência à tevê ou mesmo ao rádio – o jornal local parece ser a única fonte de notícias. Uma referência temporal é a série de livros da Nancy Drew, alter ego da protagonista Emma, e que começou a ser publicada em 1930.
É difícil elaborar sobre o estranhamento que esse livro causa sem cometer spoiler, por isso vou me limitar à descoberta que considero o maior ganho de ter lido “Hotel Paradise”. Senti algo parecido ao ler um livro totalmente diferente: “Os Servos da Morte”, de Adonias Filho. Ao reler a resenha que escrevi na época (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2019/12/os-servos-da-morte-adonias-filho.html), deparei-me com essa frase, que poderia muito bem estar se referindo a “Hotel Paradise”:
“Nada parece acontecer, em meio a um intenso clima de tragédia iminente.”
O ganho foi perceber o ponto de conexão entre obras tão díspares: a trama calcada em traumas profundos em uma determinada constelação familiar. É muito ódio e crimes de morte no seio da família. São dores tão profundas que sentimos o ímpeto de respeitar mesmo o que não compreendemos. Talvez daí venha esse apelo inexprimível de “Hotel Paradise”.
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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FAVELA GÓTICA liberado na íntegra no site da Verlidelas Editora:
https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica
O livro Favela Gótica fala sobre “a monstruosidade essencial do cotidiano”, em uma história cheia de suspense, fantasia e aventura. Ao nos tornamos mais conscientes das sombras que existem em nossa sociedade, seremos mais capazes, assim como a protagonista Liana, de trilhar um caminho coletivo das Trevas para a Luz.
A versão física de Favela Gótica está à venda no site da Verlidelas, mas o autor e a editora estão disponibilizando gratuitamente, inclusive para download, o PDF de todo o livro.
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Link do livro no SKOOB:
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Book
trailer
Entrevista sobre o livro na
FM Cultura
Resenha (Perpétua):
Uma publicação bem interessante!!
ResponderExcluir.
Aproveitando o intervalo para dizer...
.
Beijos. Bom fim de semana.
Gratidão, querida!
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