domingo, 12 de novembro de 2023

COMO LER CINCO VEZES O MESMO LIVRO... E LER UM LIVRO DIFERENTE DE CADA VEZ!

 


Resenha do livro A METAMORFOSE, de Franz Kafka

Eu ainda era adolescente quando li “A Metamorfose” de Kafka pela primeira vez. Analisando hoje, imagino que essa leitura foi cercada por expectativas (errôneas) sobre como deveria ser a história de um homem que se transforma em uma barata gigante... Por essa época, viciado nas emoções adrenérgicas das histórias de horror, eu tinha Stephen King como um verdadeiro rei dos escritores, e certamente li a célebre novela de Franz Kafka usando a régua de “Carrie”, “O Iluminado” e “O Cemitério” para medir o meu nível de satisfação com a leitura. Inevitavelmente, saí frustrado, achando a narrativa insossa e sem entender porque era celebrada como um clássico da literatura mundial.


Por isso mesmo é que não me conformei (graças aos deuses da literatura) com essa primeira opinião. Dois ou três anos depois, decidi ler “A Metamorfose” novamente. Dessa vez aconteceu o fenômeno contrário: eu esperava uma história “sem sal”, e acabei ficando impressionado pelo impacto que essa segunda leitura me causou. Entre a primeira e a segunda leitura, caminhei um bocado, enriquecendo minha bagagem literária com Aldous Huxley, George Orwell, Hermann Hesse e, obviamente, outros textos famosos de Kafka, como “O Processo”. Por isso, creio, pude apreciar um pouco melhor a qualidade e a potência de “A Metamorfose”.

Gostei tanto que, pouco tempo depois, quis ler o livro pela terceira vez. E dessa vez foi que realmente senti de fato como “A Metamorfose” é uma história existencialmente apavorante! Da terceira vez que li, achei a saga de Gregor Samsa muito mais assustadora que qualquer história do Stephen King.


E caminhei mais um tanto e, dentre as tantas leituras que fiz, uma me marcou especialmente: “A Paixão Segundo G.H.”, de Clarice Lispector (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/10/a-paixao-segundo-gh-clarice-lispector.html). Seguramente um dos livros mais instigantes que li na vida, com seu inescapável aforismo:

“Eu sabia que o erro básico de viver era ter nojo de uma barata.”

Claro que o diálogo com “A Metamorfose” era inevitável, e acabou gerando em mim um poeminha:


A NAMORADA DE FRANZ

Enxergar a barata

em si mesmo

e compor um belo poema:


isso faz de você um Kafka.

 

Enxergar na barata

um portal

para o Si mesmo:

 

é o que transforma em Clarice.

 

E foram tantas reflexões provocadas por essa leitura de Clarice, que vi que tinha mesmo que ler mais uma vez (a quarta!) esse incrível livrinho do Kafka. Pois então, dessa vez fiquei tão apavorado com a leitura que tive medo de ir dormir e acordar metamorfoseado. Não estou exagerando. A quarta leitura de “A Metamorfose” chacoalhou minha conexão com a realidade.

Acho que mais de quinze anos se passaram. E um belo dia encontrei um exemplar de “A Metamorfose” no Cantinho dos Livros da pró Nélia (espaço para doação e troca de livros aqui no Mercado Municipal de Itapuã). E então pensei, por que não? Estava na hora de ler o mesmo livro pela quinta vez. Com a exceção da “Autobiografia de um Iogue”, de Paramahansa Yogananda (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2022/07/ler-yogananda-e-saber-que-nao-ha-amor.html), nunca li o mesmo livro tantas vezes. Cheguei a ler umas três vezes vários de Agatha Christie e recentemente li pela terceira vez “O Lobo da Estepe”, de Hermann Hesse. Mas não lembro de nenhum outro livro que eu tenha lido quatro vezes, que dirá cinco!


Pois então, essa quinta leitura me surpreendeu completamente (mais uma vez!). Eu estava curioso para saber se sentiria novamente o medo intenso que experimentei das duas leituras anteriores, mas o sentimento dominante agora foi a compaixão. Senti muita pena de Gregor Samsa e, por tabela, tive muito dó de nossa condição humana, de nossa sociedade tão enferma, de tanto potencial humano desperdiçado em tantas insanidades inúteis a que damos tanto valor...

Nessa quinta leitura constatei, consternado, que se metamorfosear em uma barata é até uma atitude sensata, diante das circunstâncias... E mais até, talvez mesmo um destino inescapável para um ser humano que se esforce o suficiente para “se adaptar” e “se encaixar” em um mundo tão doentio...


Por outro lado, curiosamente, saí dessa quinta leitura com a impressão de que não é o texto em si que faz de “A Metamorfose” uma obra tão pungente. Acho que é a ideia em si, de um homem acordar transformado em barata, que é tão poderosa, mais que o modo como Kafka conta essa história. É meio como o “Frankenstein” de Mary Shelley, uma ideia que incendeia a nossa imaginação, talvez por estar ancorada em um arquétipo moderno, que por si só vai se perpetuando no imaginário coletivo.

Seja como for, espero não ter que ler esse livro por uma sexta vez...


   

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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).

 

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