Resenha do livro “AS
PÉROLAS PEREGRINAS”, de Manuel de Lope
Preciso dizer que a leitura desse livro foi iniciada com uma impressionante sincronicidade. Na sexta eu havia terminado de ler (pela quinta vez) “A Metamorfose” de Kafka (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2023/11/como-ler-cinco-vezes-o-mesmo-livro-e.html). No sábado, ao sair da festa de aniversário de uma amiga, tive um inusitado encontro com uma barata, que pousou em minha nuca. Recebi como um beijo e como um sinal do universo de que eu estaria avançando para corrigir o meu “erro básico”, tal como enunciado por Clarice Lispector em seu magnífico livro “A Paixão Segundo G.H.” (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2012/10/a-paixao-segundo-gh-clarice-lispector.html):
“Eu sabia que o erro básico de viver era ter nojo de uma barata.”
Pois bem. Ao chegar da festa e com vontade de ler uma história policial, fucei na estante e escolhi ao acaso esse “As Pérolas Peregrinas”. Imaginem o meu espanto ao ler a primeira frase do livro:
“No dia 3 de agosto, pouco antes de fechar o escritório de advocacia para férias, apareceram várias baratas no gabinete de Alfredo Kauffman, advogado de prestígio e um dos mais solicitados assessores jurídicos da cidade.”
Sempre que me deparo com uma sincronicidade, sei que estou no lugar certo e na hora certa. Por isso segui na leitura com confiança. Algumas dezenas de páginas depois, contudo, acompanhando o entusiasmo com que Manuel de Lope discorria sobre as tais pérolas peregrinas, fiquei me perguntando se esse seria ou não um MacGuffin...
Gosto muito desse
tema do MacGuffin, que é um recurso muito interessante na contação de histórias,
e que consiste basicamente em algum objetivo ou objeto desejado, um motivador
para a ação, mas que na prática não tem muita importância para a trama. Uma das
melhores definições para o MacGuffin foi dada por Alfred Hitchcock na forma de
uma divertida anedota:
Dois homens conversam em um trem.
– O que há nesse
pacote acima da sua bagagem?
– Isso é um
MacGuffin.
– O que é um
MacGuffin?
– É um aparelho
para caçar leões na Escócia.
– Mas não há leões
na Escócia!
– Bem, então isso
não é um MacGuffin.
Ou seja, um MacGuffin é algo que parece ter muita importância na história, mas que no fundo é apenas um pretexto para que a ação ocorra. O melhor exemplo de MacGuffin que conheço aparece na obra-prima do próprio Hitchcock, “Psicose” (https://youtu.be/wfGjWZmyvfo?si=_Dk64RGf_bdO-3-G): são os quarenta mil dólares que a protagonista rouba no início do filme. Esse dinheiro roubado é fundamental como um pretexto para a ação, mas quem já viu o filme sabe que a história trata de algo bem diferente... e muito mais sinistro!
Na literatura policial temos também um clássico exemplo de MacGuffin, que é o fenomenal “O Falcão Maltês”, de Dashiell Hammett (https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2011/05/o-falcao-maltes-reliquia-macabra.html). A tal da “Relíquia Macabra” é só uma desculpa para o detetive Sam Spade derramar seu sarcástico carisma nas páginas de uma obra-prima do romance policial.
Pois então, voltando a “As Pérolas Peregrinas”, por volta da página 50 acreditei que o autor Manuel de Lope queria de fato falar mesmo é sobre as tais pérolas, o que não me interessou muito. Lá pela página 200 é que vi que o tema do livro ia além das pérolas, se expandindo na descrição de uns tipos pra lá de bizarros e em situações esdrúxulas beirando (e às vezes ultrapassando) o inverossímil. Tudo considerado, achei impressionante que esse livro tenha sido laureado com o Prêmio Primavera de melhor romance em 1998.
O ganho maior que tive com essa leitura foi a oportunidade de refletir mais uma vez sobre a ambiguidade do conceito de riqueza. Pois um homem verdadeiramente rico talvez não seja aquele que possui fortunas, e sim aquele que não necessita de nada...
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FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor
de “Favela Gótica” (https://www.verlidelas.com/product-page/favela-g%C3%B3tica), “Diário de um Imago” (https://www.amazon.com.br/dp/B07Z5CBTQ3) e “O Sincronicídio” (https://www.amazon.com.br/Sincronic%C3%ADdio-sexo-morte-revela%C3%A7%C3%B5es-transcendentais-ebook/dp/B09L69CN1J/). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento” (https://youtu.be/bBkdLzya3B4).
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Instagram: https://www.instagram.com/fabioshivaprosaepoesia/
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Para celebrar o
seu décimo aniversário, a Caligo Editora está disponibilizando gratuitamente o
PDF do romance policial “O SINCRONICÍDIO: sexo, morte & revelações
transcendentais”, de Fabio Shiva. Lançado em 2013, o livro chama atenção pela
originalidade da trama, que mistura xadrez e I Ching. Confira no link:
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/7847612
“E foi assim que descobri que a inocência é como a
esperança. Sempre resta um pouco mais para se perder.”
Haverá um desígnio oculto por
trás da horrenda série de assassinatos que abala a cidade de Rio Santo? Apenas
um homem em toda a força policial poderia reconhecer as conexões entre os
diversos crimes e elucidar o mistério do Sincronicídio. Por esse motivo é que o
inspetor Alberto Teixeira, da Delegacia de Homicídios, está marcado para
morrer.
“Era para sermos centelhas divinas. Mas escolhemos
abraçar a escuridão.”
Suspense, erotismo e
filosofia em uma trama instigante que desafia o leitor a cada passo. Uma
história contada de forma extremamente inovadora, como um Passeio do Cavalo
(clássico problema de xadrez) pelos 64 hexagramas do I Ching, o Livro das
Mutações. Um romance de muitas possibilidades.
Leia e descubra porque O Sincronicídio não para de surpreender
o leitor.
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