domingo, 29 de maio de 2011

A História Sem Fim - Michael Ende

Eis aqui um dos melhores livros que já li, alias li e reli, inteiro e trechos inúmeras vezes, é aquele tipo de livro que você deve ter um exemplar seu, não sou adepto,mas para os que gostam de sublinhar pontos importantes, bem, esse é o livro. De fato é uma história sem fim, não só pelas inúmeras estórias que começam e não nos são contadas, em diversos pontos o autor nos dá um resumo do que aconteceu, mas nos diz essa é uma outra estória e terá de ser contada em outra ocasião, um claro paralelo com a vida real, onde pessoas nos encontram e se vão viver suas estórias e pouco sabemos as vezes do desenrolar delas.Os encontros e desencontros. É um livro que fala de perda, ou antes da capacidade de se transformar, e é claro isso nunca é fácil.

Usando diversas metáforas, algumas bíblicas (ou não) o autor nos convida ida a um mundo encantado, porém e isso deve ficar bem claro, não é um livro infantil, ao terminar a leitura creio que quase todos hão de concordar que os temas tratados são de uma complexidade inaceitável a uma criança, salvo se ela tiver uma formação muito especial. O que hoje com nossa sociedade da "desinformação' está muito difícil.

Digno de nota são dois recursos interessantes que o autor utiliza para nos contar a estória, os acontecimentos em nosso mundo são escritos em vermelho, ou alias quase cobre.. Clara alusão a terra, ao firme, o que se passa em fantasia está escrito em verde, desnecessário dizer que remete as esperanças e sonhos.O outro recurso é o uso de iluminuras, dando ao livro a aparência de algo muito velho, remetendo ao trabalho dos monges copistas do passado, não bastasse isso segue-se rigorosamente a ordem alfabética, é como se estivesse indicada uma linha temporal através das letras.Nas iluminuras temos representados os principais personagens e alguns acontecimentos de cada capitulo.

Outro ponto importante é que a história de Bastian começa pela manhã, quando ele invade a livraria do Sr Koreander, de certa forma Ende nos engana, porque nos apresenta um velho antipático, que em sua conversa com Bastian de certa forma só esmiúça suas deficiências e mais age como se de fato não soubesse o que aquele momento significava. Bem Ende não nos diz quem é Karl, salvo muito a frente, mas estou me adiantando. Vale lembrar também que encontramos um reflexo dele no meio da estória que Bastian lê.

O sr Karl se afasta e aqui temos uma coisa, que alguns, bem eu já passei por isso, acho que todo leitor tem isso uma vez na vida, Bastian vê o livro que o Sr Karl estava lendo e sente-se atraído por ele, sabe quando você esta numa livraria e um livro te chama? Você o vê de longe?Bem seria bom atentar para isso mensagens estão em toda a parte. Enfim foi o que Bastian sente e ao tocar o livro, sente o clic, eles se pertencem. Não raciocina, não mede, rouba o livro. Aqui alguns dirão, mas como um livro infantil incentivando o roubo, de forma alguma, fica claro e no fim se demonstra que o livro sempre pertenceu a Bastian,a semelhança da Excalibur para Arthur ou a varinha de pena de fênix para Harry Potter, bem nada novo a mitologia está cheia de casos assim. Predestinação. Somente após que sai da loja Bastian cai em si, mas já é tarde, a semelhança das decisões irreversíveis sabe que não pode, e alis não quer devolver o livro, pelo menos não antes de lê-lo. Unto com ele preocupamo-nos onde nos esconder, e como o iniciado que vai a caverna, Bastian vai ao sótão de sua escola.Não nos é dita a hora, mas podemos apreende que inicia a leitura perto das oito da manhã, e isso é um ponto muito importante, talvez muitos passem batido, mas o autor faz questão de nos informar a hora o tempo todo, a cada hora, Bastian sempre interrompe a leitura ao soar da batida das horas. E não é de se achar coincidência que a segunda parte do livro inicia-se exatamente a meia noite.,mas voltaremos a isso.

Enfim temos Bastian acomodado no sótão, e inicia a leitura, Bastian sente que aquilo tem algo de solene, de iniciático, e bem nós também de início não sabemos,mas ao lermos junto com ele percebemos que algo estranho acontece.

Somos apresentados ao reino sem fronteiras de fantasia, de uma forma terna, mas ao mesmo tempo firme, Ende logo de cara introduz conceitos, deixa claro que ali existia uma justiça verdadeira, cujo eixo principal e razão de existir era a bela e enigmática Imperatriz Criança, outro ponto curioso, Ende não nos diz quem é Ela, nos dá pistas, brinca conosco, mas em verdade é um mistério.

Bom indo ao ponto temos o conselho de médicos e o sábio Cairon é enviado buscar um herói, temos a descrição do tenso encontro entre eles e por fim Cairon sente, que aquele menino, sim um menino da mesma idade de Bastian ( e claramente sua imagem idealizada de como gostaria de ser)é a despeito de todas as questões em contrário sim um herói. Atreiú parte e Bastian e nós com ele na Grande Busca. Tomaria muito tempo (e linhas rs) descrever as nuanças de cada capitulo, a estória é de tal riqueza que passagem aparentemente bobas tem mensagens muito válidas. Dois pontos alto dessa primeira parte, alias três pontos, são a peregrinação e encontro com Uiulala, o Oráculo do sul, a conversa com Gmork, e é claro o encontro de Atreiú com a Imperatriz Criança, toda a expectativa e decepção do momento, e a brusca resolução da mesma. Novamente vemos uma face diferente, o próprio Atreíu se assusta. Enfim a Imperatriz usa de sua ultima cartada e traz Bastian na marra, certo que ele não tinha como fugir porque ao contrário do que pensava, ele pertencia a História Sem Fim. Vencido, Bastian se entrega ao seu destino e pronuncia o novo nome da Imperatriz. Desnecessário dizer que aqui existe uma profunda simbologia, que além do mito cristão-judaico da criação remonta outras fontes. O relógio bate meia-noite, hora da abertura dos mundos em todos ou quase todos os folclores.

Inicia-se a segunda parte do livro e de longe a melhor. Bastian de frente a Imperatriz, um dialogo terno e ao mesmo tempo cujo significado somente mais a frente vamos perceber, de repente e sem aviso a Imperatriz desaparece na frente de Bastian, deixando-lhe o Aurin. Perplexo e intrigado,Bastian vê que atrás do medalhão tem uma inscrição, "Faça o que quiser" Simples não??Errado! Aqui inicia-se uma viagem de Bastian de desejo em desejo, em principio sem rumo. Mas logo de cara temos o primeiro dos dois diálogos mais importantes da segunda parte, o dialogo com Graograman, e uma das frases mais deliciosas e profundas do livro:

O que você sabe sobre os desejos???? O que você sabe sobre o que é bom e o que não é????

Óbvio percebemos a força dessa afirmação mas como Bastian teremos de viver muita coisa antes de compreender o seu real significado. Temos o encontro de Bastian e Atreiú, o desejo de Bastian de surpreender o rapaz, e mais que isso o surgimento de uma coisa que nós não sabemos, mas nos é dito depois, rara, uma amizade entre um homem e um ser fantástico.Bastian continua sua jornada agora com Atreiú e Fuchur juntos, mas logo percebem que ele está perdendo suas recordações.

Chega-se a um impasse, mas não tem como, os desejos não podem ser controlados, eles surgem.

Depois de diversos fatos, Bastian encontra sua última esperança e aqui temos o segundo dialogo mais importante da segunda parte, onde nos é explicado o porque Bastian precisou passar pelo que passou. Somos apresentados a Dama Aiyuola e a Casa Mutante, cenas entre comoventes e sérias, chega o momento de partir. Novamente Bastian parte em busca do caminho de casa, depois de mais algumas aventuras, de uma simbólica descida ao esconderijos de sua alma, (dentro da Mina das Imagens) encontra aquilo que poderia levá-lo de volta. A descrição dessa descoberta é intensa, é difícil não se comover junto com Bastian, não tem como não chorar junto com ele, tal é a força da imagem apresentada.

Novamente Bastian parte agora com rumo certo, porém, e aqui Ende nos brinda com uma lição moral, um de seus imprudentes desejos aparece e pôe tudo a perder, Bastian olha desconsolado a "imagem" sua guia, destruída. Ele já nu, sem nada, ouve um som como um sino de bronze. Eis que surgem Atreiú e Fuchur, Bastian tira o Aurin do pescoço o põe no chão entre eles, Aurin reflete a luz do sol e ao mesmo tempo começa a resplandecer.

Inicia-se o ultimo e magistral capitulo da História sem Fim, cheio de imagens e novamente referências, quando tudo parecia perdido Bastian encontra a porta. Volta ao seu mundo, reencontra seu pai, o livro misteriosamente desaparece...reencontra o sr Karl, bem mas esse dialogo é melhor que vocês leiam.

O que se apreende da História sem Fim é que Ende nos convida a olharmos para nós mesmos, através dos olhos de Bastian quando ele começa a ver sua verdadeira essência, que nós também nos indaguemos sobre nossa verdadeira essência. Percebe-se nitidamente que, (alias não comentei sobre ela), a terrível Xayide, bem como diversos personagens são personificações do próprio Bastian, como se ele estivesse dentro de si mesmo. Alguns personagens representam imagens óbvias, anseios., outros são mais misteriosos, mas no fundo o propósito é antes salvar o próprio Bastian. Julgamos que ele foi salvar fantasia, sim de fato, mas fazendo isso encontrou e salvou-se a si mesmo. Ende convida-nos a trilhar o mesmo caminho, dentro de nossa própria História sem Fim; Faça o que Quiser!!!

3 comentários:

  1. Linda resenha!
    Quero ler esse livro!

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  2. Ótima resenha, um dos livros mais legais que já li!

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  3. Quero ler este livro pois quando criança eu amava esse filme e tenho o dvd. um dias desses, estava eu, retornando a infancia, assistindo-o. Ótima resenha!

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