terça-feira, 7 de junho de 2011

Chá nas montanhas: Contos reunidos - Paul Bowles


Não sei explicar suficientemente bem o que é ler Paul Bowles. Talvez seja como chegar à conclusão de que definitivamente finais felizes não existem. É com grande estranhamento que termino este livro de contos. Do México ao norte da África onde viveu o autor, tudo é descrito em imagens cruas e, confesso, maravilhosas. Como é bom conhecer outras culturas.

O autor trata de homossexualismo, violência, folclore, lendas, tradições sem meias palavras, sem juízo de valores. É corajoso já que a maioria dos contos é do final da década de 40. O choque de civilizações permeia todo o livro. Aqui vai um trecho pra degustação:

O homem o encarou com indiferença na manhã cinzenta. Com os dedos, ele tapou as narinas do Professor. Quando ele abriu a boca para respirar, o homem com muita agilidade agarrou sua língua e puxou-a com toda força. O Professor foi tomado de náusea e tentou respirar; não entendeu o que acontecia. Não pôde distinguir a dor do brutal puxão, daquela provocada pela faca afiada. Depois, automaticamente, como se ele já não fosse parte daquilo, veio uma incessante sufocação e uma contínua necessidade de cuspir. A palavra "operação' passava toda hora pela sua cabeça; isso apaziguava um pouco seu terror à medida que ele voltava a afundar nas trevas.

Isso mesmo, um nativo decepa sem piedade a língua de um pobre incauto. Seco, duro, aconselho este livro apenas para os fortes. E olha que são apenas contos. Nas palavras introdutórias de Gore Vidal:

...Como Webster via a caveira por baixo da pele, Bowles vislumbrou o que há por trás do céu que nos protege... um interminável fluxo de estrelas, tão semelhantes aos átomos de que somos constituídos que, em nossa apreensão pela sua terrível infinidade, experimentamos não só horror mas também afinidade.

Preparem-se pra ler pedreira pura.

Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...