terça-feira, 7 de junho de 2011

Dias contados - org. Ricardo Delfin e Danny Marks


Tenho uma dificuldade enorme em ler contos, demorei horrores neste livro, eu li e reli. Um romance é como um namoro que vai se firmando vagarosamente, já um conto é beijo rápido no portão, é mais contundente, tem que ser arrebatador, tem que fazer um estrago grande senão ele não atinge o leitor. Na grande maioria destes contos o livro me seduziu, é importante dizer isso.

No início eu queria comentar todos os contos, mas eram muitos, ficaria cansativo, por isso resolvi me ater a um comentário mais abrangente.

O fim do mundo pode estar no apocalipse, em um email desaforado da pessoa amada, na impossibilidade de utilizar um dos sentidos, nas contas do fim do mês, nas Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rotas), na ponta de um cigarro, na carreira de pó no espelho, ou na imagem refletida no mesmo. O que é o fim do mundo?

Este livro nos dá 50 possibilidades muito inventivas. E o que mais me chamou a atenção é que a grande maioria dos contos são de jovens escritores que parecem ter uma bagagem já extensa, com um bom domínio da técnica descritiva. O livro é de um capricho e uma qualidade difíceis de encontrar hoje em dia, a capa é uma obra-prima à parte, a revisão é cuidadosa e já mereceria um texto em separado.

O livro possui visões oblíquas e distorcidas, com contos beirando a um Borges acadêmico, ou a um Lovecraft inconcebível. Abro um parêntese aqui pra comentar o conto “Cela 3” da amiga Rosa Maria Martinelli, pois foi através dela que conheci o livro (perdoem-me os outros autores, todos valorosos): Seu conto é um olhar maduro, de um sentimento infantil e puro. É um vômito emocional, jorro de sensações desagradáveis, cruas e indigestas, que nos pega pelo estômago. Em uma única palavra – “forte”.

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