quinta-feira, 2 de junho de 2011

O Testamento dos Séculos - Henri Loevenbruck




Eis aqui um livro curioso, confesso que quando vi a sinopse num anuncio, não lembro se na net ou numa revista não dei muita importância, a própria vinheta promocional me predispôs contra ler esse livro, uma referencia ao Código da Vince, do Dan Brown.Mas por esses acasos que acontecem, fizeram uma doação a biblioteca municipal e o bibliotecário logo lembrou de mim, enfim lá vem o "bendito" as minhas mãos, rs. Li as orelhas, lá estava a mesma formula clichê e banal do "Código", certo?? Errado!! Sim os ingredientes estão ali, mas o autor conseguiu escrever uma estória interessante, num ritmo legal, e a despeito do clichê do "casal contra o mundo" em diversos pontos bem original.
De inicio nosso "herói" um homem de meia idade, em conflito consigo mesmo, escritor de folhetins, no caso a versão moderna, séries para TV recheadas de sexo e violência, um profissional com um certo sucesso e entretanto insatisfeito, para complicar recebe a noticia da morte súbita de seu pai, que não vê há anos. Qualquer semelhança, ainda que espelhada..
Todavia aqui temos um ponto interessante, que talvez alguns achem enfadonho, o autor nos leva a conhecer a fundo os dramas e traumas de seu "herói", vamos entender a difícil relação entre Damien e seu pai. Junto a isso, as circunstancias misteriosas de sua morte começam a inquietar Damien, bem como a misteriosa casa longe de Paris, casa que seu pai dispôs de todos seus livros para comprar..
É nesse cenário tão curioso que somos apresentados a nossa "heroína", sim, aqui o forte, é ela, não ele. Todavia o autor reserva mais uma surpresa, e creio, aqui as opiniões divergem. Ao contrário de Código, em que o autor usa o velho clichê da "mocinha indefesa" e "o homem mais velho charmoso", aqui temos o "homem fragilizado" e uma mulher sofrida porém forte". Logo de inicio Sophie domina a situação, tanto quanto aos misteriosos "homens de preto" que os perseguem ,quanto com a relação com Damien, com diálogos tendendo ao sarcasmo e ao mesmo tempo doçura, inicia-se uma amizade, nas aparências, percebe-se de início, que logo de cara o que está é algo mais forte. Segue-se o famoso romance não é?? Não! E não vou dizer que aqui o autor foi original,não creio que tenha sido mero acaso ele escolher essa forma, a despeito dos pontos clichês, tem muitas mensagens "por dentro" da trama, nos diálogos de Sophie e Damien, nos seus encontros e desencontros o autor, critica a sociedade, Igreja e religiões em geral, o preconceito e diversos outros temas, discretamente são discutidos, Sophie vai explicar um ponto da história e somos mergulhados numa discussão filosófica sobre o real papel da Igreja em nossos dias. Sophie é implacável, critica sem dó, não a Igreja em si, mas o "poder" a Ela investido.
Enquanto nossos "heróis " lutam para se manterem vivos e descobrir a verdade, também lutam para compreenderem e aceitarem suas diferenças, lidarem com um sentimento que dada as circunstancias é um amor "quase" impossível. De forma doce, o autor nos leva a junto com Damien rever nossas idéias sobre sexualidade, enxergar como o outro pode ser diferente do que nós consideramos correto, e o quanto rotulamos e excluímos.
Paralelo a essas questões a trama vai se desenvolvendo a ponto atingir um ritmo vertiginoso, somos apresentados a outros personagens e algo a ser dito é que os personagens do autor não são simples, em poucas palavras ele nos mostra personagens complexos, inteiros.
A referencia a Da Vince, é feita de forma inteligente e apesar de usar o mesmo quadro, a questão é tratada de forma melhor, e até perfeitamente possível, aqui o código não é algo óbvio, é mais sutil , com um pé na atualidade, na tecnologia atual.
Chegamos enfim a conclusão da trama, aqui conforme resenhas que li de outros leitores, e mesmo baseado em minhas próprias impressões, tem-se a impressão de que o autor nos traiu.. Analisando de forma mais objetiva isso não é verdade, a questão é que o autor levou a estória por um caminho em que a solução politicamente correta seria uma traição a tudo o que de forma velada foi defendido no livro, entendo que o autor preferiu a opção menos "agradável" do que se contradizer. Ainda assim não é o desfecho que gostaríamos de ler, emocionalmente desagrada e muito.
Por fim nas ultimas paginas, somos apresentados ao tal "segredo", confesso que imaginei que o autor fosse matar o livro aqui..pensei que à semelhança de outros íamos cair em explicações irracionais, em teses descabidas ou frases de efeito para agradar os mais cristãos.. Não.. Na verdade ironicamente o autor menciona o segredo no meio do livro, mas não nos damos conta disso. Ao reafirmá-lo no final, o autor convida-nos a meditar sobre o real propósito de nossa existência, mas isso não, sob o véu de uma religiosidade barata,não, a indagação é mais profunda.Fica claro que o propósito do livro, da estória não foi contar só mais uma estória sobre segredos e códigos, não!.. O propósito aqui é um convite a reflexão, um convite velado,verdade, mas um convite.
A despeito do mal estar em certos trechos, das descrições históricas um tanto prolongadas, é um livro que eu recomendo, além de proporcionar um certo entretenimento, proporciona bem mais que isso, para quem se dispuser a pensar a respeito

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