“A Solidão dos Números Primos” é uma obra admirável pela maneira única e reveladora que, Paolo Giordano, expõe seus personagens.
É extremamente triste, melancólico e profundamente marcante. Fiquei surpreendida com a formação do autor, Físico, o que me levou a pensar na dificuldade que possa ter existido para escrever uma história assim tão perturbadora, carregada de sentimentos tão abstratos, com personagens tão únicos em sua dor. Paolo nos permite meditar sobre como se formam as relações humanas.
Os capítulos são divididos entre duas histórias paralelas, que se entrelaçam e se misturam com outras histórias ao longo da leitura, de maneira densa cheia de desencontros, sonhos e desejos, muitas vezes abafados, que chega a criar um abismo, difícil de ser rompido.
Alice e Mattia vêm de uma infância complicada, e conforme vão crescendo tornam-se pessoas melancólicas, incapazes de falarem de seus segredos e de suas tristezas o que os tornam diferentes de todos os outros que os rodeiam, criando dificuldades em relacionarem-se com pessoas que fazem parte de seu convívio. Simplesmente não combinam com o mundo em que vivem, mas reconhecem-se um no outro a ponta de ter um laço que os aproxima e “um número par” que os mantém distanciados um do outro.
É possível notar o quanto Alice e Mattia são diferentes daqueles que os cercam à medida que a narrativa avança e outras histórias se misturam as suas, fica impossível não notar o quanto os dois vivem a margem dos demais, presos em sua própria solidão.
"Atravessaram aquele período em apnéia, ele recusando o mundo, ela sentindo-se recusada pelo mundo, e perceberam que não fazia grande diferença."
Não existe comodismo nesta obra, é uma história comum, um retrato geral da dificuldade das relações entre as pessoas. Sem um fim necessário, mas que consegue captar o retrato da vida, das relações humanas. Dois estranhos, imperfeitos, desajustados, destinados a se encontrar, porque se completavam em suas dores trazidas desde a infância.
Acredito que seja por isso que o autor optou por deixar em aberto o seu final, para que o leitor pudesse divagar como tudo poderia ter sido “se”, ou, por simplesmente querer deixar claro que a vida segue seu curso de acordo com o que se escolhe para si.
Confesso que não é o meu ‘The End’ favorito, mas combinou perfeitamente com esta obra excepcional, sem cair na mesmice, Paolo, construiu personagens humanos, com todos os seus defeitos e qualidades, desafiando o mesmo conseguiu ser original sem cair em “clichês”.
Muito mais que recomendado!
A solidão e mais ainda a incompreensão é fator eminentemente moderno. Num mundo globalizado, mas pautado em amizades e contatos virtuais, muitas vezes nos sentimos isolados, desajustados e depressivos.
ResponderExcluirResenha belíssima, dessas que nos faz querer ler o livro imediatamente. Parabés Léia.