segunda-feira, 18 de julho de 2011

OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS DO SÉCULO (Part 3) - Org. Ítalo Moriconi

“E apesar de terem sido rotulados, por muitos literatos teórico-tecnicistas-arrogantes-acadêmicos, como realismo mágico ou fantástico, os contos nos anos 60 são muito ricos, superando qualquer argumento que tente limitá-los para outros fins...”

Por Elenilson Nascimento

Nessa terceira parte da antologia "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi, os contos dos anos 60 foram marcados pela abordagem de conflitos psicológicos e crises de identidade. Em geral, os autores dessa época buscavam traduzir com dramaticidade e riqueza metafórica as crueldades do mundo real. Nesse período, o texto curto explodiu no país, consolidando-se nos anos 70, que entrou como a década do conto. “Se o clima dos anos 60 foi de revolução em todos os quadrantes do mundo e dimensões de vida, devemos incluir aí a tremenda explosão de qualidade no campo da ficção curta brasileira. São desta década algumas das realizações máximas no gênero em nosso país. Contos de Clarice Lispector e Rubem Fonseca, por exemplo, legam modelos narrativos que vão influenciar todas as gerações seguintes de escritores. Os contos dos anos 60 falam de nossa contemporaneidade, quase sempre urbana, agitada por conflitos psicológicos e sociais. Desenredam-se laços, tradições. Homens e mulheres se dilaceram em conflitos de identidade. Não há mais lugar para a inocência, o lirismo puro. Ficamos mais adultos. Os leitores inclusive. Querem mais narrativas que traduzam com força dramática e riqueza metafórica as cruezas do real. A literatura brasileira nunca mais será a mesma depois do vendaval dos 60”, escreveu o organizador.

Apesar da riqueza e variedade de personagens, com predileção pelos infantis no início da adolescência, em fase de amadurecimento, o que motiva, muitas vezes, finais aparentemente absurdos, todavia comoventes, fantásticos, surpreendentes, que nos levam à reflexão, contínuo achando desnecessária a repetição de autores nos capítulos, visto a variedade de autores não citados na obra. E apesar de terem sido rotulados, por muitos literatos teórico-tecnicistas-arrogantes-acadêmicos, como realismo mágico ou fantástico, os contos nos anos 60 são muito ricos, superando qualquer argumento que tente limitá-los para outros fins que não o deleite de uma boa e satisfativa leitura.

Part 3 – Anos 60 (Conflitos e desenredos)

30. “A força humana”, de Rubem Fonseca. Se alguém começar a leitura desse conto de Rubem Fonseca ficará logo com a impressão de que o escritor está apresentando um tipo de história com que já nos acostumou e na qual adquiriu um domínio invejável: o conto de violência e banditismo, descritos frequentemente com simplicidade, num tom cotidiano e isento do patético, como se a morte nestas circunstâncias fosse algo normal e aceitável. Mas, no caso de “A força humana”, esta impressão se reforça pelo fato de a ação se passar dentro de uma academia (*e notei que o autor se especializou em bíceps, tríceps, leg press e outras coisas desse ambiente de músculos e suor). O conto é todo em 1ª pessoa, onde um rapaz que trabalha numa academia de musculação e é treinado pelo dono João para ser campeão de fisiculturismo. Igual ao Schwarzenegger. Só que o Schwarzenegger não é citado o conto. Um dia ele, que gostava de ficar ouvindo música em frente a uma loja, vê um jovem crioulo, Waterloo (*isso mesmo, com dábliu e dois os”), dançando na rua para ganhar dinheiro. “Outro maluco, pois a cidade está cada vez mais cheia de maluco, de maluco e de viado”. Depois da dança, o rapaz, percebendo o físico torneado do crioulo o leva para a academia, mesmo com a desconfiança do crioulo. “...o que os outros pensam da gente não interessa, só interessa o que a gente pensa da gente...” João a princípio olhou atravessado, mas ficou muito impressionado com a musculatura de Waterloo e lhe dá emprego de ajudante na academia. Em pouco tempo, Waterloo ganha a preferência de João. Para saber qual o mais forte, Waterloo e o rapaz tiram uma queda-de-braço, da qual o segundo ganha com dificuldade e vai embora em silêncio. Essa, contudo, é a melhor parte desse conto. A segunda parte é demasiadamente desinteressante. O rapaz vai para a casa de sua namorada, a prostituta Leninha. Vão a uma boate, voltam para casa. Transam pela última vez e o ele se despede dela. Anda a madrugada toda e de manhã pára na loja de discos mais uma vez. Bacana mesmo é constatar as críticas do autor com relação aos “doentes” por academia: “Tem aqueles que gostam de olhar no espelho o tempo todo e usar camisa de manga curta apertada pro braço parecer mais forte; têm os garotos de calça Lee, cujo objetivo é desfila na praia; os que vêm no verão, perto do carnaval, e azem uma série violenta para inchar rápido e eles vestirem suas fantasias de sarongue, grego, qualquer coisa que ponha a musculatura à mostra; tem os coroas cujo objetivo é queimar a banha da barriga...”. E pelo visto as coisas não mudaram tanto assim!

+ Clique aqui e leia a continuação da Part 3 da resenha – Anos 60 (Conflitos e desenredos).

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Um comentário:

  1. Massa demais!!!

    Rubem Fonseca para mim é O Cara!!!

    Gosto muito desse conto "A Força Humana". Adorei a resenha!!!

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