quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O SORRISO DO LAGARTO - João Ubaldo Ribeiro

"A obra trata-se de um apanhado de situações-clichê (tem até aquela cena clássica, imortalizada pelo cinemão hollywoodiano e pelas novelas da televisão, da queda da escadaria provocando um aborto providencial) muito bem encadeadas e recheadas de diálogos primorosos. "
Por Elenilson Nascimento
O autor do best-seller Viva o Povo Brasileiro” (não gostei do livro, apesar de já ter sido obrigado há ministrar aulas em pré-vestibulares sobre ele) já foi chamado pelo ator Lima Duarte de “gênio, um desses baianos que aparecem a cada século”. Já para o Jorge Amado, ele era “um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos e está entre os maiores ficcionistas contemporâneos do mundo inteiro”. Vá lá, o primeiro é amigo do João Ubaldo Ribeiro de longas datas e o segundo, como todo mundo já sabe, foi até compadre e, talvez, ainda olhem para ele através de uma lente mais poderosa que a minha. Porém, no panorama desolador da nossa literatura brasileira contemporânea, o João Ubaldo e o Roberto Piva são duas dentre as vozes congregadas em torno de ideais surrealistas que expressam uma margem de “revolução constante” – preservando a escrita como espaço de liberdade e criação visionária.
Em “O Sorriso do Lagarto”, por exemplo, João acrescenta um pouco mais de dimensão à nossa (tão desvalorizada e desrespeitada) literatura. Aliando sua vasta erudição (no livro podemos encontrar muitos termos científicos, provavelmente de um ardo trabalho de pesquisa) ao tratamento semicoloquial que dá a suas personagens, o autor mostrou uma linguagem exageradamente “baianesca” (desnecessariamente empobrecida), mas eficiente na compreensão e dimensão desses personagens.
À primeira vista, esse livro mais parece um emaranhado de frases complicadas só para complicar, como no primeiro período do primeiro capítulo: “Talvez isso não fique claro ainda por muito tempo, mas o exame consciencioso dos fatos que levaram aos acontecimentos principais deste relato mostrou que sua primeira cena se desenrolou em data já um pouco distante, sem que ninguém então pudesse saber o que pressagiava”. Pois bem. Ainda acho que o autor poderia ter sido um pouco menos grandeloqüente, ajudaria muito, principalmente nas explicações sobre “ovo aminiótico” nas recordações do biólogo amador João Pedroso.
A história desenrola-se em Itaparica (porque será?) em torno de alguns estranhos acontecimentos, mas só começa de verdade a partir da página 18 com as conversas picantes sobre traição de Ana Clara e sua amiga Bebel, regadas há um veneradossíssimo baseado. E nesse meio tempo, Ângelo Marcos, um político consagrado e marido de Ana Clara, é recomendado a passar uma temporada em Itaparica para se recuperar das conseqüências de suas hemorróidas nos seus “baixos incendiados” – apesar de matar-se ter sido o primeiro pensamento do político ao saber que tinha um “carcinoma epidermoide do canal anal” ou, como o próprio Ângelo definiu: “câncer no cu”. Hilário mesmo são as intervenções do John Thomaz (procure o significado no livro, você vai gostar!).
COMPLICAÇÃO – Ao tentarem descobrir a origem dos estranhos fenômenos (figuras macabras, desfiguradas e assustadoras), João Pedroso, Ângelo Marcos e o feiticeiro da região Bará da Misericórdia envolvem-se numa trama cheia de suspense, enquanto a Ana Clara (personificada em Suzanna Fleischman, iria realizar uma “experiência” – namorar bastante – para obter pensamentos interessantes e raciocínios espertos para a comprovação das suas teses a serem lançadas num best-seller internacional) mantém um “caso” com o João Pedroso. A descrição de Ana/Suzanna no cinema em que pegou no pau de um cara mais velho poderia ter ficado bem melhor se nos períodos tivesse sido usada pontuação correta.
Várias observações do autor sobre a política no Brasil são encontradas entre os parágrafos, demonstrando seu engajamento contra os preconceitos xenófobos e retrógrados: “Temos a coragem de proclamar com transparência esta posição patriótica em defesa do bem-estar de nossa população, mesmo que essa posição não seja palatável para os demagogos que se rotulam de esquerda, mas não passam da encarnação perversa do imobilismo e do reacionarismo”. Além de uma escancarada crítica à educação através do velho Abeu Godinho que “só trabalhava numa clínica para ter alguma renda, além da de professor universitário, que não dava nem para comer decentemente”. E também as críticas à “cafajestada populista que está na moda agora, coisa de baixa extração tipo PT”.

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Um comentário:

  1. não faz muito meu genero de leitura... mas acho que pra gosta deve ser legal... ainda nao conhecia

    bjs

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