domingo, 18 de setembro de 2011

SANDUÍCHES DA REALIDADE - Arnaldo Jabor

“Jabor reuniu nesse livro alguns textos publicados em diversos jornais. Violência, paixão, cinema, política, sexo, miséria, lixo e luxo fazem parte deste cardápio de 65 crônicas. Há desde fatias dolorosas - como na crônica que fala do horror na clínica de hemodiálise de Caruaru - até delicados brioches recheados de memórias pessoais.”
Por Elenilson Nascimento
Porque o Arnaldo Jabor é "o cara"? Realmente até hoje não sei. O cara é pedante, elitista, preconceituoso, fora que ainda acha que só ele é o centro da inteligência do universo. Pior do que ele, só o FHC. Algumas vezes, eu concordo com algumas coisas, como no texto em que ele escreveu que “a democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural”. E complementa: “A "libertação da mulher" numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro”.
Outra coisa que eu gostei muito foi o livro “Os Canibais Estão na Sala de Jantar”CLIQUE AQUI, que eu acho superior a tudo o que o Jabor já escreveu. Mas como ele mesmo já disse, "a liberdade de mercado produziu um estranho e falso mercado da liberdade". Porém, quinze anos depois de abandonar o cinema, Jabor se transformou (*inesperadamente) em um sucesso de público. Seus artigos são publicados em dezoito jornais, seus comentários na TV são vistos por 50 milhões de pessoas e seu livro, “Amor É Prosa, Sexo É Poesia”, vendeu mais de 260 000 exemplares.
O diretor de sucessos como “Toda Nudez Será Castigada” e “Eu Te Amo” (*esse último é muito chato) – que desistiu da idéia de fazer filmes no Brasil por "falta de pendor para o masoquismo" – levou para a nova atividade – literatura – parte do que aprendeu na velha. Jabor já teve até um blog – CLIQUE AQUI – que já abandonou, mas nas versões escritas e faladas, o cara é “fodão” e alia a análise aguçada do cotidiano a um desfile de imagens irônicas (*nem sempre precisas), como faz em “Pornopolítica – Paixões e Taras na Vida Brasileira”, sua recém-lançada coletânea de artigos do autor.
Contudo, no livro “Sanduíches da Realidade” (1997) que reúne alguns dos textos de Jabor, publicados entre 1993 e 1997, cortes rápidos na chamada realidade social – “esta instituição a que nos referimos quando falamos do deputado ou do menino, do assalto, do filme, do escândalo, do medo” – Jabor afirma que faz uma espécie de arte meio grafiada e se deixa deformar pelos ataques do mundo. Textos como “Intelectuais temem invasão das salsichas gigantes”, “O ânus ameaça Nova Ordem Mundial”, “O homem mais forte é o que está mais só”, entre outros, parece querer passar toda a sua lúcida loucura em pratos limpos. Daí resultaram as finas iguarias sobre uma “porra” de país chamado Brasil.
Deliciosamente voraz, cheio de violência e paixão, cinema, política, sexo, miséria, lixo, luxo, Jabor preparou seus “acepipes” com o tempero forte de sua indignação e os cortes precisos de sua língua ferina em “Sanduíches de Realidade” - deste cardápio de 65 crônicas. “A sensação é de paralisia com agitação, falsos tremores febris, acontecimentos irrelevantes que parecem importantes, bobagens que enchem os noticiários e que se esvaem. Isto cria a impressão de que algo se movimenta, quando tudo está parado. Este governo desmoraliza os fatos. Eles são soterrados por uma presença excessiva do governo em tudo - Lula o dia todo na TV, criando uma cortina de fumaça virtual sobre o que não é feito.”
Há desde fatias dolorosas de realidade – como na crônica em que fala do horror na clínica de hemodiálise de Caruaru – até delicados brioches recheados de memórias pessoais. Sem contar com o sanduíche nosso de cada dia, aquele tipo comum, capaz de ser encontrado em qualquer balcão da esquina. “Existem muitos tipos de homens de esquerda. Há comunas, socialistas, social-democratas, românticos. Toda uma gama de indignados com a injustiça da vida social”. Porém, Jabor não vira a cara diante de assuntos pouco palatáveis - "Ele vem pedir esmola. Eu preferia que ele não viesse. Não que ele seja agressivo, mas ele é sujo, e sua roupinha está rasgada" -, nem teme questionar as supostas "verdades" consolidadas. Mas, muitos destes textos são demasiadamente enfadonhos, como é o caso da crônica “Americanos invadem a Terra em Independence Day”.
O cineasta que virou jornalista que virou cabeça pensante e falante da mídia - escreve para a “Folha de São Paulo” e para “O Globo” e faz participações regulares na TV Globo - supera raciocínios surrados e desafia patrulhas de todos os tipos. “Sanduíches de Realidade” traz uma visão original da chamada realidade social, constituindo-se numa espécie de arte meio grafitada, produzida no calor da hora. Com inteligência, coragem e muito sabor. “Escute aqui, minha filhota! Escute, você pensa o quê? Pensa que eu tenho medo da TV? Você não sabe de nada! Eu fui presidente e continuo eivado de um poder inefável como o sonho de uma Noite de Verão ou como as assas de borboletas de Ariel em A Tempestade”.
Aos 67 anos, o jornalista e ex-comunista vive o encantamento da paternidade tardia (*seu filho caçula tem seis anos de idade) e a desilusão diante de uma esquerda que, afirma, insiste em enxergar o mundo de forma "idílica, quixotesca e utópica". É isso aí. E ao fechar este livro, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século XXI ou será que fui apenas barrado do baile? Talvez a solução para o Brasil esteja na administrativa, mas a esquerda insisteem se valer de "velhos métodos". Então, por isso mesmo, estamos todos tomando no monossílabo. (“SANDUÍCHES DA REALIDADE” de Arnaldo Jabor, crônica, 275 págs., Rio de Janeiro, 1997 - Ed. Objetiva)

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Um comentário:

  1. Nossa!!!!
    Eu achei seu blog tao lindo e tao fofo e tem um bom conteudo.
    Ja to seguindo, passa la no meu.
    Segue de preferencia.

    http://isatkmvskarku.blogspot.com

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