sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CACHINHOS DOURADOS – Ed McBain


Imagine ir a uma lanchonete e pedir o seu petisco favorito. Um pastel de carne, digamos. Só que na primeira dentada você percebe um sabor totalmente inusitado junto com o da carne, um gosto de açúcar e canela...

Desde que comecei a ler de forma mais sistemática autores clássicos de ficção policial, o estilo de Ed McBain foi o que mais me interessou. Já acompanho com ardor de fã a saga do 87º Distrito e li também um da série sobre o detetive Bem Smoke, que não acredita em crime perfeito porque nunca encontrou um.

Aqui, em “Cachinhos Dourados” (Goldilocks no original), McBain dá início a uma nova série, tendo como personagem principal o advogado Matthew Hope. Logo nas primeiras páginas, pude perceber o tal sabor inusitado, um certo clima diferente na narrativa. Lá pelas tantas, é o próprio Matthew Hope quem esclarece as intenções de seu autor (segue em tradução livre):

“...eu percebi que ele tratava o caso como uma história de suspense, o que certamente não era. Não para as vítimas. Não para Jamie ou para seu filho. Nem mesmo para mim. Mas para este homem a tragédia era apenas uma história de mistério, e foi assim que ele a recontou para mim, reduzindo-a ao nível do ‘quem matou?’.”

Uma trama policial com ênfase nos aspectos psicológicos. Mais importante que a descoberta do assassino são as revelações que Matthew Hope obtém a respeito de si mesmo e da vida que construiu com sua família, a partir do desagradável confronto com a realidade de um homem, seu cliente, que chega em casa e descobre que sua esposa e filhas foram chacinadas com uma faca de cozinha.

Parece uma combinação bizarra? Somente um mestre da narrativa policial como McBain poderia tentar “dar liga” a essa mistura. E não é que funciona?

Todas as regras do romance policial clássico foram respeitadas, tal como foram elaboradas pelo Clube dos Escritores de Mistério (não lembro se o nome era exatamente esse). Resumindo, segue perfeitamente a cartilha de Agatha Christie. Temos o crime, os suspeitos, as pistas e a revelação no final.

E ao mesmo tempo esse sabor inédito, surpreendente, até esquisito. Exatamente como uma pitada de canela e açúcar em um pastel de carne. Eu pensava que uma combinação como essa não poderia prestar, até que experimentei o meu primeiro pastel colombiano. E até que li o meu primeiro livro da série de Matthew Hope.

Ed McBain strikes again!!!
 

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