quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A menina que roubava livros - Markus Zusak

   Primeiro, um breve relato sobre o livro:
   Já o tinha comprado faz mais de um ano ou dois; ganhei outro exemplar dele antes mesmo de tê-lo lido. Ouvi tanta gente falar sobre que se tornou desinteressante. Na estante ficou por muito tempo; pela quantidade de páginas, pela falta de tempo. Até o dia em que chegou sua hora. 

   A curiosidade de conhecer a sua história se deu por três motivos básicos:
1 – Fala sobre uma menina que rouba livros, e para quem lê já é o suficiente para chamar a atenção.
2 – Narra uma história que envolve o período da segunda guerra, que traz a tona o holocausto, os judeus, hittler e tudo que envolve o nazismo – tópico que considero extremamente interessante.
3 – A história é narrada pela morte. Elemento que atrai pela curiosidade. O que a morte teria para nos contar?

   A começar pelo último ponto, a morte tem acesso a informações privilegiadas da vida de Liesel Meminger – personagem central da narrativa. A morte de seu irmão desencadeia a história e o interesse da narradora pela menina, afinal de contas, é no cemitério em que seu irmão está sendo enterrado que ela rouba seu primeiro livro, mesmo sem saber ler ou escrever. A partir disso, mais duas visitas são realizadas a pequena pela ceifadora de almas. No decorrer do texto, outras situações são trazidas a torna através de personagens secundários que tem estreita relação com a menina.
  Ao longo de sua apresentação, a morte tenta desmistificar a criação que os seres humanos fazem de sua figura. Mostra-se muito mais amigável, afável e preocupada com as almas daqueles que partem desta vida – tudo que envolve a morte está relacionado a cores, sendo estas mais ou menos densas a depender da pessoa que morre. Ao mesmo tempo, coloca a humanidade e o próprio ser homem como ponto da questão, como incompreensíveis e culpados pela sua grande carga de trabalho (ironiza mesmo).
  A partir do primeiro encontro, a menina é adotada por uma família Alemã, composta basicamente por Hans e Rosa Hubermann. Sua mãe é afastada de seu convívio por representar a antítese da posição política da época – seus pais eram comunistas. Ao adentrar neste pequeno mundo da rua Himmel, a relação com os personagens começa a se expandir, sendo-nos apresentados outros de tamanha importância para a trama, como Rudy – amigo de Liesel.
  Encontra-se neste esqueleto o segundo ponto, onde perpassam as mudanças ocorridas dentro da sociedade, desde o isolamento daqueles que tinham qualquer envolvimento com os judeus até como estas conseqüências recaiam sobre os próprios alemães. Conta-se também como o casal e a menina guardam o segredo de terem um judeu escondido em sua própria casa – um segredo que não pode ser revelado a ninguém sob pena de graves conseqüências.
  Ainda sob a influência da história, o tempo extenso decorrido durante a obra mostra-se importante por trazer a tona dois aspectos importantes para a construção da narrativa e para permitir a proximidade com o público. Em um primeiro momento por permitir a transitoriedade dos personagens da infância à adolescência, grande feito do livro, já que os personagens ganham consciência a medida que crescem e moldam os seus caráter, além de permitir o estreitar de laços entre os amigos Rudy e Liesel transformando sua relação em amor de uma forma pura e cativante, extremamente natural. E em um segundo momento, pela possibilidade de apresentação da história de modo gradativo. Diferente de outras produções (Livros e filmes) que apresentam momentos específicos do processo de condenação do povo judeu, no livro as mudanças são gradativas. As pessoas não aceitaram a “escravidão” de um momento para o outro. Sutis mudanças iam ocorrendo e iam pressionando estas pessoas a situação em que chegaram. E isso é muito bom, porque torna mais real a existência do holocausto.
  Por fim, o primeiro ponto faz referencia ao fato da menina roubar livros, chamando a atenção para diversos aspectos do discurso e da relação de dominação, da divulgação dos ideais. A menina aprende no decorrer da narrativa a escrever e ler, e este aspecto é bem abordado, permitindo a consciência a partir da palavra. Fica claro que grande parte do domínio exercido por Hittler sobre os judeus se dá através do exercício da palavra. Uma critica contundente a relação do individuo com o espaço através da socialização do conhecimento e de múltiplas culturas.
  Como as pessoas dizem através das palavras, a única certeza que se tem da vida é a morte, e neste caso não poderia ser diferente. É por isso que antes das ações acontecerem, a narradora nos prepara para o que esta por vir. É bem verdade que toda narrativa que prevê os fatos principais informando-os ao leitor me deixa de certo modo angustiado, já que a dificuldade de manter o interesse por ela quando você sabe o que irá acontecer nem sempre é mantido. No romance, porém, mais importante do que saber quem morrerá, é saber como irá acontecer, o que faz com que o interesse pela história seja renovada.
  De resto, é só espera a sua vez de ser visitado.
;)

Para outros textos, acesse: Um olhar sobre o tudo e o nada

5 comentários:

  1. Nossa Rafha!
    ARRASOU na resenha!!!!
    Adorei mesmo! rs
    Ainda não li o livro todo.
    Abandonei por falta de tempo, daí emprestei pra alguém que não lembro mais e agora que eu gostaria muito de terminar de ler não sei mais com quem está! Vê se pode! rsrsrs

    Beijos
    @TalitaR_
    glossdmenta.blogspot.com

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  2. Eu tive dificuldade em terminar o livro. Não deve ter sido a hora certa de lê-lo, foi o que pensei. Comecei a leitura, mas não conseguia levar adiante, apesar de amar essa temática. Deixei um tempo de lado, fui ler outras coisas e meses depois, retomei a leitura. Gostei muito, valeu a pena ter insistido! Uma história muito bonita! E a Morte é uma personagem inesquecível! Tomara que a minha seja assim, rs.

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  3. Talita,

    Obrigado pelo comentário. E olhe que quando comecei a escrever a resenha eu pensei em abandona-la...porque estava achando horrível...rs

    Bia,

    Toda vez que começava um livro eu olhava pra esse e não tinha coragem de começar....dessa vez nem olhei para os outros primeiros, fui direto nele...acho que por isso que saiu...como estou de férias...escolhi não deixar de lado, li diretinho e muito por dia...acho q foi agradavel a leitura...e tbm quero q a minha morte seja como a do livro...rs

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  4. Oi, este é um livro que está em minha lista de próximas leituras porque como uma boa viciada em livros que sou, já deixo preparado o que pretendo ler e tento seguir ao máximo minha lista. Agradeço sua visita ao meu blog e tb já vou seguir os eu que é muito legal, gostei muito.
    Beijos
    Ca
    Meus Romances
    http://mromances.blogspot.com

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  5. Menino... Que resenha heim?!
    Já li diversas sobre este livro, mas vc realmente se aprofundou e me deixou com água na boca!
    Estou louca pra ler este livro, mas vai surgindo outros, como você mesmo mencionou no inicio e vou deixando de comprá-lo... é uma pena né?
    Você tem dois! Um é meu certo? hehehehehe
    Bem, ainda desejo muito lê-lo e não desistirei dele.
    Agradeço pela maravilhosa resenha.
    Ni
    ciadoleitor.blogspot.com

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