sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

OS TRINTA E NOVE DEGRAUS – John Buchan


Ler este livro foi uma experiência diferente, pois o meu interesse maior era o fato da história ter sido filmada por Alfred Hitchcock, de quem sou um fã apaixonado. O detalhe é que ainda não vi o filme, um dos primeiros do genial diretor de “Janela Indiscreta”, “Psicose”, “Um Corpo Que Cai” e “Frenesi”, só para citar meus prediletos.

Lendo o livro, pude entender porque a história caiu no gosto de Hitch:

* Uma trama de espionagem, bem no estilo de “O Homem Que Sabia Demais”.

* Cenas de perseguição de alto apelo visual em diversos cenários da Inglaterra e Escócia.

* Personagens pitorescos e variados, indo do cômico ao sinistro.

* E a figura do herói, é claro. No caso, Richard Hannay, lorde aventureiro que estrela também outros livros do mesmo autor.



Uma das coisas mais interessantes a respeito dos filmes de Hitchcock está no que ele chamou de “McGuffin”.

O enredo de cada filme do Mestre do Suspense geralmente era composto por uma narrativa dentro da outra. Existe a narrativa principal, o tema do filme e, “por fora”, na camada externa, na superfície, uma segunda narrativa, um “motivo” para que a história aconteça, para que a ação tenha início. Essa segunda trama, mais aparente, é que é o McGuffin.

O McGuffin pode ter também o objetivo de iludir o espectador, para depois surpreendê-lo. O exemplo clássico é “Psicose”, onde o McGuffin é o roubo de uma certa quantia em dinheiro. Durante os 40 minutos iniciais, somos levados a crer que o roubo é o tema central do filme. E então a reviravolta: durante o mais célebre minuto da história do cinema, Alfred Hitchcock mostra de que material é feito o medo.

Um exemplo mais sutil está em “Janela Indiscreta”, onde a trama de assassinato serve de McGuffin para elaboradas alegorias sexuais que fizeram e fazem a alegria de cinéfilos, psicanalistas e teóricos da comunicação. Basta dizer que a câmera que o herói do filme usa passa a ter lentes cada vez maiores, à medida que a tensão da trama também vai crescendo... uma metáfora totalmente cinematográfica para a ereção!

Essa era uma das brincadeirinhas típicas de Mr. Hitchcock, que era conhecido também por sempre fazer uma ponta em seus próprios filmes. É uma diversão a mais para os fãs identificar a cena em que sua conhecida figura aparece.

Uma curiosa anedota sobre a infância de Hitchcock, episódio que pode ou não ter realmente acontecido, sempre volta à minha cabeça quando penso nele: Hitchcock era uma criança quando aprontou alguma arte que desagradou seu pai. Os Hitchcock moravam em uma pequena cidade da Inglaterra, onde todos se conheciam. O delegado da cidade era amigo do pai do pequeno Alfred. O pai levou o menino até a delegacia e o entregou ao delegado, que o trancou em uma cela vazia por cinco minutos. Ao abrir a porta da cela, o delegado falou para Hitchcock: “veja o que pode acontecer se você não for um bom menino”.

Li em outro lugar que essa mesma frase foi sugerida pelo próprio Hitchcock para seu epitáfio... qual das duas versões será a verdadeira? Ou ambas? Ou nenhuma? Todas as opções fazem sentido.



Ao ler “Os 39 Degraus”, experimentei ler o livro imaginando o filme, tentando ler como Hitchcock leu, um divertimento raro ao qual não fiz nenhum esforço para resistir. Sempre dá um sabor a mais ler um livro sabendo que já foi transformado em filme, e imaginar em cada passagem mais marcante da leitura como será que ficou no filme.

Por se tratar de Hitchcock, acabei me empolgando e quis prestar esta homenagem e compartilhar o meu amor por seus filmes.

O cinema de Hitchcock é um cinema de idéias, digno representante de uma época áurea e mais romântica, onde havia muito menos recursos tecnológicos à disposição. Hoje é possível fazer qualquer coisa no computador, o que é muito bom. Mas isso implica inevitavelmente na perda, por outro lado, de uma certa magia.

Um exemplo talvez ajude a tornar isso mais claro. Em “Suspeita”, um dos filmes de Hitchcock ainda em preto e branco, há uma cena onde Cary Grant carrega uma bandeja com um copo de leite que supostamente contém veneno. O que faz Hitchcock para contar essa cena? Coloca uma lâmpada dentro do copo de leite!!!




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