sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

CONVITE PARA UM HOMICÍDIO – Agatha Christie


Eu sempre tive a noção de que o romance policial clássico é um estilo que se aproxima mais do jogo que da literatura. O objetivo do romance policial é propor um enigma para o leitor, uma charada a ser decifrada. Whodunit?

Uma vez solucionado o mistério, terminada a leitura, era minha crença que o jogo perdia completamente o interesse. Uma vez conhecido o assassino, sabia-se tudo sobre o livro.

Por esses motivos é que foi uma grata surpresa e um intenso aprendizado reler este “Convite para um homicídio” (“A Murder Is Announced” no original). A segunda vez foi ainda melhor!

Tudo bem que eu já sabia quem havia matado quem, porque e como. E por isso mesmo a leitura foi tão interessante! Pela primeira vez, pude conscientemente ler um romance policial com a intenção de observar como as pistas e despistes foram dispostos pelo autor do livro.

Como é bom apreciar um mestre em ação! O que vou dizer é fato sabido por todos os leitores de Agatha Christie, mas nunca é demais repetir, quando se trata da Rainha.

Dame Agatha faz um jogo absolutamente honesto. Não há trapaças ou subterfúgios indignos. Todas as pistas que levam à solução estão lá, igualmente à disposição de ambos, o leitor e o detetive. Caberá ou não ao leitor ser tão ou mais esperto que o detetive.

Que o detetive seja Miss Marple, aqui em uma de suas memoráveis performances, é certamente uma diversão a mais. O que me fascina em Miss Marple é a mistura de doce velhinha com uma mente capaz de imaginar as piores maldades. Exatamente como nossa querida Agatha.

“Convite para um Homicídio” é uma verdadeira aula sobre como se escrever um bom romance, independente do gênero policial. Agatha Christie não deixa pontas soltas. Cada personagem recebe o seu tratamento adequado, sem que ninguém fique perdido pelo caminho. Há espaço até para tramas paralelas, como desenlaces amorosos e questões de herança. Na economia literária magistral da Dama do Crime, nada sobra e nada falta.

Pode até não existir o crime perfeito. Mas que o romance policial perfeito existe, isso Agatha Christie provou às dúzias.

Um comentário:

  1. Que delícia de resenha! E de livro, né? Eu amo essa história, é uma das mais engenhosas dela. Gosto também, inclusive, pelas outras coisas que vc mencionou, as pequenas tramas paralelas. Gosto quando existe essa tensão psicológica. 10!!!

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