"Como estudante oriundo da rede pública, desde muito cedo, convivo com greves de professores. Depois de formado, por total falta de oportunidades, acabei virando professor. Não por vocação nem ideologias, mas por ter sido falsamente aliciado a entrar na educação. Resultado: decepção total!
Uma vez, tive um aluno no terceiro ano do segundo grau que era analfabeto. Eu, por achar lógico, reprovei-o na minha disciplina. E por tê-lo reprovado todos na escola, professores, funcionários e estudantes, pularam em cima de mim, como urubus na carniça, como se eu tivesse cometido um crime bárbaro. Fiquei muito intrigado e chocado ao mesmo tempo, como professor novo na tal escolinha de criar fantoches, e fui procurar saber o motivo de tanta revolta contra mim. Descobri que o estudante em questão era sobrinho da muito querida faxineira. Por ser um menino “muito bonzinho” e bolsista, todos os professores, desde a primeira série do primeiro grau, aprovaram-o e acabaram jogando o problema para o futuro distante. Só que o futuro havia chegado. E no caso, era eu. E assim foi até o último ano do ensino médio, quando caiu sob a minha responsabilidade. Resultado: a “criança”, então com dezenove anos, que era analfabeto e não poderia continuar os estudos; foi aprovado por todos os outros professores por ser considerado um estudante “especial”. E pelo o que eu fiquei sabendo, hoje ele faz Direito na UCSAL.
Outra história curiosa, desse período, foi a minha demissão de uma faculdade particular porque reprovei a filha do dono. Em um semestre de aulas ela só assistiu três dias. Mesmo assim o diretor, que por coincidência era o dono, se sentiu no direito de me mandar embora. A qualidade das minhas aulas, minha integridade moral e a aprendizagem dos meus alunos não estavam em questão. Quanto a mim, por essas e outras, larguei a educação de vez!"
fonte: LC, 13/04/12
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