sexta-feira, 13 de abril de 2012

NÓS, OS MARCIANOS – Isaac Asimov


Alguns livros acabam nos levando a seguir uma trilha de pensamentos bem distinta da que o autor provavelmente tinha em mente ao escrevê-los. Foi esse o caso de “Nós, os Marcianos”, compilação de quatro histórias do bom doutor.

Na primeira delas, a história-título (“The Martian Way” no original), estamos às voltas com uma colônia de humanos em Marte que enfrenta uma grave crise de abastecimento de água. Se a Terra não pode mais fornecer água, o jeito é buscar em outros planetas. E lá se vão os nossos heróis em busca da preciosa água, que eles acabam encontrando nos anéis de Saturno!

Essa história me chamou a atenção por diversos motivos. É preciso contextualizá-la primeiro: foi escrita em 1952, ou seja, quase dez anos antes que Gagarin, o primeiro homem a viajar pelo espaço, pudesse sobrevoar o globo terrestre e dizer sua célebre frase: “A Terra é azul”. Por isso não é tão estranho o modo imaginado por Asimov para impulsionar as naves espaciais de sua história: elas conseguem se mover no espaço deixando para trás volumosas quantidades de água (cerca de mil toneladas de água por vôo). É isso o que acaba gerando a tal crise da água.

E é aqui que está o ponto mais interessante: Asimov é um escritor de ficção científica, ou seja, alguém dedicado a inventar ou adivinhar a “história do futuro”. E em 1952 ele escreve uma novela prevendo uma grande escassez de água... que na verdade não existe! Na história de Asimov tudo não passa de uma trama política da Terra para coagir Marte. Parte do texto é dedicada a cálculos que provam por A mais B que seria praticamente impossível acabar com a água do planeta Terra.

É claro que ele está falando do volume total de água, e não da água própria para o consumo humano (apenas 0,007% do total, em estimativa recente). Mas não deixa de ser curioso que Asimov, dono de uma prodigiosa imaginação, tenha abordado em 1952 uma questão que hoje se aproxima cada vez mais de ser uma triste realidade... só que essa idéia de faltar água em nosso planeta pareceu fantástica demais para ele!!! A realidade pode ser bem mais estranha que a ficção...

O livro continua com “Juventude” (“Youth” no original) e “As Profundezas” (“The Deep”), ambas também de 1952, e ambas com a curiosidade de trazer alienígenas não-humanóides, o que é uma raridade em se tratando de Asimov. Fechando a coletânea, “A Isca” (“Sucker Bait”), escrita em 1954, que novamente arrastou meus pensamentos para além da trama contida nas páginas.

Em “A Isca”, uma expedição científica parte para um curioso planeta iluminado por dois sóis. O objetivo da expedição é descobrir o que matou o primeiro grupo de colonizadores enviado para o planeta. Não quero mencionar o que desviou minha mente da história, pois é justamente o mote da trama.

Mas essa leitura me proporcionou a seguinte descoberta: a ficção científica, tal como desenvolvida por Asimov, apresenta o progresso tecnológico, o avanço da ciência, de uma forma bem mais nobre e edificante que na fria realidade. A ficção científica de Asimov é a justificativa moral do progresso científico.

Um comentário:

  1. Serei eu um dos poucos apreciadores de FC que nunca leu Asimov? Sempre vivo me perguntando isso. Eu também não havia lido Arthur C.Clarke e acabei ganhando o livro "O fim da infância" do nosso amigo em comum (Rodrigo). Fiquei fã logo de cara e nunca mais li nada dele, vai entender por quê?
    Caro Fabio suas resenhas são sempre maravilhosas, mas encerrar uma delas com esta frase de impacto - "A ficção científica de Asimov é a justificativa moral do progresso científico." - vale uma corrida imediata ao sebo mais próximo para ver se encontro o livro. Parabéns!

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